Após quase um ano do lançamento do álbum “SAL”, em dezembro de 2022, a cantora e compositora Anelis Assumpção esteve, em turnê,  pela primeira vez em Florianópolis (SC).

Ainda que a paulista sempre tenha construído o seu repertório com diversas colaborações, este último disco inaugura uma nova forma. Das onze canções, dez são produzidas por ela em colaboração com outras mulheres negras.

O time de peso reunido por Anelis é formado por Céu, Iara Rennó, Jadsa, Josyara, Larissa Luz, Luedji Luna, Maíra Freitas, Mahmundi e Thalma de Freitas. 

“Foi bastante inédito, porque, embora todas as mulheres que estão comigo nesse disco produzam seus próprios trabalhos, dizer em voz alta, assumir esse papel e lugar ainda não está dado para a gente”, disse a cantora em entrevista ao Catarinas, durante o Arvo Festival, no última 28 de outubro.

O trabalho ganhou o prêmio de Melhor Produção do Ano da Associação Paulista de Críticos de Arte. Cada canção traz características particulares de cada artista, que se misturam com a identidade de Anelis.

“A gente já consegue se afirmar na música brasileira como compositoras, e agora conseguimos dar um passo mais consciente para um outro jeito de produzir. Foi maravilhoso e muito diferente com cada uma”, afirmou. 

Neste álbum, ela quis trazer mais consciência racial e presença de mulheres. “Fiz um movimento que mexeu um pouco com as peças do tabuleiro”, disse.  

Uma das músicas do disco, “Benta”, fala sobre maternidade, filiação e ancestralidade. Na composição, assinam três mães: Anelis, Céu, Thelma Freitas. 

“A Céu começou os versos quando nasceu o filho mais novo dela. Ela estava bem puérpera e mandou para mim e para a Thelma. Nós fomos trazendo outros pontos de vista dessa trajetória, que começa neste lugar do puerpério e vai pro resto da vida, transformando-se o tempo todo”, explicou Anelis. 

A composição foi ganhando outros pontos de vista, a partir da experiência de mães que também são filhas, uma posição que Anelis considera esquecida na sociedade. 

A baiana Luedji Luna, que havia acabado de ser mãe na pandemia, integrou-se à produção. “A gente trocou muito se apoiando e ajudando, segurando a onda, porque ser mãe é um susto todo dia”, disse Anelis. 

“Leva uma vida pra fazer nossa família florescer, leva um vilarejo pra nossa cria crescer”, diz um dos trechos de “Benta”.

Anelis Assumpção tocou músicas de “SAL” e sucessos de outros álbuns no Arvo. Foto: Barbara Dias

Anelis sob influência dos astros e dos ancestrais

Como artista independente, Anelis já lançou outros três discos autorais: “Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa” (2011), “Amigos Imaginários” (2014) e “Taurina” (2018). 

Ela percebe “uma trajetória bem linear” nos discos.  Como boa taurina, a cantora se descreve como uma pessoa lenta para mudanças. Relevante para as suas composições, o seu signo solar é mencionado no título do penúltimo disco. 

“Se este não se chamasse ‘SAL’ iria se chamar ‘Capricórnio’, porque é o meu ascendente”, brincou, apontando a continuidade da sua sonoridade que carrega a força do reggae e do afrobeat.   

Além dos astros, a família de Assumpção também é uma influência importante para a sua arte. Filha do cantor e compositor Itamar Assumpção, Anelis traz como missão preservar o legado musical do pai, uma das grandes referências da Vanguarda Paulista. Ela é diretora do primeiro museu virtual de um artista negro brasileiro, que celebra a obra de Itamar.

O afeto com a irmã, Serena Assumpção, também cantora, compositora e produtora cultural, é base para as degustações da palavra de Anelis.

O livro infanto-juvenil Serena Finitude, lançado em 2022, explora a relação das duas na infância. A faixa “Gosto Serena” do álbum “Taurina” é feita para a irmã e fala sobre sua recente ausência. “Saudade que desgasta a palavra”, diz um trecho em referência à partida de Serena, em 2016, em decorrência de um câncer de mama. Confira o álbum póstumo de Serena aqui.

Arvo Festival

A oitava edição do Arvo Festival reuniu mais de 8 mil pessoas em Florianópolis, consolidando o evento como uma das principais vitrines da música brasileira no Sul do país.

O bate-papo do Catarinas com Anelis aconteceu no backstage, e teve a participação do Renan Bernardi, editor da Revista Artemísia, portal virtual de cultura de Chapecó (SC).

Apesar de não se considerar uma artista de festivais, Anelis estava contente com a experiência e falou sobre a importância dos festivais para a música independente.  

“Hoje, a gente tem uma produção independente gigante, plural, maravilhosa, com pessoas inventivas, criando movimentos. Então, a gente vai ter que se juntar, vai ter que fazer isso coletivamente. E os festivais têm essa função de ser um suporte.”

Confira o álbum visual de “SAL”:

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  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

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