Lenira Carvalho, líder sindical e militante incansável, é tema de uma publicação educativa lançada neste sábado (27) Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas. “Caminhos para pensar o Brasil com Lenira Carvalho” oferece roteiros para abordar em sala de aula questões como escravidão, racismo e direitos trabalhistas, baseados no legado da ativista.
O material, desenvolvido a partir do livro “A luta que me fez crescer e outras reflexões”, de Lenira Carvalho, e o documentário “Digo às companheiras que aqui estão”, de Sophia Branco e Luís Henrique Leal, duas obras que mergulham na história e no pensamento da liderança.
O público-alvo são professoras e professores que trabalham no ensino formal ou profissionais da educação popular. A publicação e todos os materiais necessários para o desenvolvimento das atividades propostas estão disponíveis gratuitamente no site. Acesse aqui.
O material é resultado de um projeto de pesquisa colaborativo envolvendo o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, a Parabelo Filmes, o Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Cecult-UFRB) e o Instituto Federal do Sertão Pernambucano – Campus Floresta. Contou com apoio da Fundação Friedrich Ebert Brasil e da Fundação Open Society.
A sindicalista e militante Lenira Carvalho foi uma figura crucial na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Co-fundadora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Recife e do Fórum de Mulheres de Pernambuco, faleceu em agosto de 2021, deixando um legado significativo para a luta das trabalhadoras domésticas e democracia no país.
Sophia Branco, socióloga, educadora feminista e realizadora audiovisual, descreve Lenira como uma figura muito importante na história brasileira, mas, menos conhecida do que deveria. “O material tem o desejo de fazer com que mais pessoas possam conhecer essa trajetória e o pensamento de Lenira”, aponta.
Leia mais
- Anticapacitismo: um compromisso coletivo para além da acessibilidade
- Diversidade sexual e de gênero: você sabe o que significa a sigla LGBTQIA+?
- Professora de Chapecó é processada após atividade com livro de Telma Scherer
- Major trans da PMSC enfrenta processo por ‘conceito moral desfavorável’
- Portal Catarinas é homenageado em sessão de aniversário dos 351 anos de Florianópolis
Branco, que dirigiu, junto com Luís Henrique Leal, o filme e coordenou a construção do material pedagógico, destaca a importância da sociedade conhecer mais a realidade das trabalhadoras domésticas. “É difícil pensar no aprofundamento da democracia no Brasil sem pensar sobre como os trabalhos de cuidado e o trabalho doméstico estão distribuídos na nossa sociedade”, afirma.
Trabalhadoras domésticas
Além de abordar a vida e o pensamento de Lenira Carvalho, o material destaca a importância das trabalhadoras domésticas no cenário brasileiro. Segundo dados do Instituto de Geografia e Estática (IBGE) de 2022, há quase 6 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil, sendo que 4,3 milhões atuam sem carteira assinada. As mulheres ocupam 92% das vagas, sendo que 65% delas são negras. A renda média da categoria era de R$1052.
“O trabalho doméstico remunerado atravessa toda a sociedade brasileira, sendo o trabalho que mais emprega mulheres no país. Mas, apesar da sua amplitude e importância, ainda sabemos muito pouco sobre o cotidiano e o significado desse trabalho a partir do ponto de vista das próprias trabalhadoras”, ressalta Carmen Silva, do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia.
Caminhos para pensar o Brasil com Lenira Carvalho busca preencher essa lacuna. Os roteiros pedagógicos propõem atividades que colocam as ideias de Lenira em diálogo com as de outras pensadoras e com diversas fontes como notícias de jornal, dados estatísticos, vídeos e fotografias, conectando suas reflexões e debates sobre o país.
“O lançamento no Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, que é um momento de visibilidade da categoria, mas também de luta, ocorre como uma ferramenta de fortalecimento da transformação das condições do trabalho doméstico e de como a categoria é compreendida na sociedade”, compartilha Branco.
Lenira Carvalho
Carvalho nasceu em Porto Calvo, interior de Alagoas, em 1932. Se mudou para Recife aos 14 anos para trabalhar como empregada doméstica na casa do filho do dono do engenho onde vivia. Na década de 1960, conheceu a Juventude Operária Católica (JOC) e se engajou na luta por direitos trabalhistas.
Nos anos 1970, fundou com outras trabalhadoras a Associação das Trabalhadoras Domésticas do Recife, que se tornaria o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Recife, após reconhecimento das domésticas como categoria profissional pela Constituição de 1988.
Foi também uma das fundadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco, movimento feminista com importante atuação no estado até os dias de hoje.
“Leniria Carvalho foi uma militante muito importante, não só na luta das trabalhadoras domésticas no Brasil, mas no contexto de reabertura política. Esteve muito inserida no campo dos movimentos populares na cidade do Recife, circulou por muitos espaços e fortaleceu muitas lutas, inclusive, na construção do feminismo contemporâneo”, destaca Branco.