A redação do Enem 2023 colocou em destaque um tema que as feministas debatem há anos: o trabalho do cuidado.
O cuidado é o trabalho de manutenção da vida que envolve muitas horas dedicadas a cozinhar, limpar a casa, cuidar de alguém doente, levar uma pessoa ao médico etc.
Esse tipo de atividade também é conhecida como “trabalho invisível”, e apesar de não ser remunerada, espera-se que as mulheres cumpram o papel de fazê-la.
Essa dinâmica desigual é resumida na clássica frase da filósofa Silvia Federici: “O que chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado”.
Um relatório da Oxfam de 2020 indica que as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho do cuidado não remunerado realizado no mundo.
São mais de 12 bilhões de horas diárias dedicadas ao cuidado, o que corresponde a uma quantia de aproximadamente 10 trilhões de dólares por ano.
No Brasil, segundo dados do IBGE divulgados em 2021, 85% do trabalho do cuidado é feito por mulheres.
Em média, elas dedicam mais de 61 horas por semana a trabalhos não remunerados, um esforço que equivale a 11% do PIB brasileiro, mais do que o dobro de qualquer indústria.
Cada hora que meninas e mulheres se dedicam ao trabalho do cuidado é uma hora a menos que podem focar em si mesmas e participar da vida política, por exemplo.
Como resultado, vemos mulheres esgotadas, estressadas, ansiosas, deprimidas e com outros problemas de saúde.
As mulheres negras e pobres são as mais afetadas. Segundo uma pesquisa da Think Olga, as mulheres negras das classes D e E com mais de 55 anos são as mais esgotadas.
Mas como mudar este cenário?
Um relatório da Think Olga traz algumas sugestões.
No setor público, é necessário oferecer renda básica contínua para pessoas em situação de vulnerabilidade social, criar ações afirmativas na educação básica e criar políticas públicas de cuidado.
Nesse sentido, há um projeto de lei da deputada Taliria Petrone (PSOL/RJ) que reconhece o cuidado materno como trabalho e garante a aposentadoria nesses casos. O PL tramita na Câmara Federal.
Para a sociedade, muitas das soluções passam por repensar crenças e ressignificar ações, como distribuir as tarefas da casa de forma justa e refletir sobre masculinidades.
É necessário sempre se perguntar: quem cuida da mulher que cuida de tudo e todos?
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