Dez mulheres cis e trans, que lutam por direitos coletivos, são protagonistas e, ao mesmo tempo, escritoras de suas próprias histórias na Revista Rede Viva de Mulheres, que será lançada nesta sexta-feira (15), a partir das 15 horas, no Bugio Centro, em Florianópolis (SC). A publicação  reúne  relatos dessas mulheres que fazem parte de ocupações, movimentos em defesa da população de rua, pastorais, coletivos contra a violência do Estado e pelos direitos humanos, nas cidades de Biguaçu, São José, Palhoça e Florianópolis

A revista foi realizada após oficinas de Escrevivência, com a psicóloga Mariana Queiroz, Comunicação Digital, com a cientista social Isadora Zuza da Fonseca, e Produção Independente e Diagramação, com a artista visual Bruna Maresch, que ocorrem desde setembro de 2023. As mulheres receberam bolsas-auxílio para participar da criação da revista. O projeto Rede Viva de Mulheres é coordenado pela psicóloga Luciane Raupp, em parceria com Carolina Pommer, no Instituto Arco Íris de Direitos Humanos

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Crédito: arquivo pessoal.

Escrevivência é um conceito criado pela escritora Conceição Evaristo para descrever uma escrita que nasce do cotidiano, das lembranças e da experiência de vida de quem escreve. “Percebemos, no processo de escrita, que as mulheres tinham uma necessidade de falar sobre questões da vida delas, como violências sofridas na rede, além da falta de assistência”, cita Carolina Pommer, mestra em Saúde Coletiva e doutoranda em Teatro na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que integrou o projeto como Articuladora de Rede e Cultura.

Pommer, destaca que as histórias compartilhadas nas oficinas e reunidas na revista são invisibilizadas no dia a dia de quem vive as cidades e na literatura.

“Uma coisa que percebemos muito nas oficinas, é que elas não queriam só contar as histórias de dor, mas ser vistas como poetas e escritoras, para encontrar beleza no cotidiano”, fala.

Uma das escreviventes, Verônica Marx, do Movimento Nacional População de Rua de São José, fala sobre a atmosfera acolhedora que facilitou o desenvolvimento da escrita. “As meninas aqui são muito acolhedoras e respeitosas, elas fazem várias atividades que nos empoderam, nos nutrem, fortalecem nosso ser. Conversamos, falamos das nossas dores, ouvimos, entendemos, acolhemos as outras e nós mesmas. É uma roda muito potente”, compartilha Marx. 

A experiência de escrever as vivências

“É como uma luz no fundo de um túnel. Eu me sinto hoje muito feliz, muito agraciada, de estar compartilhando minha história através desta revista”, descreve Maria Idelvana Azevedo de Jesus, da ocupação Carlos Marighella. “É algo que deixa nossa autoestima alta, nos ajuda, inspira e nos traz paz”, complementa.

Verônica Marx destaca dois principais aspectos da participação. “O primeiro é o interno e pessoal, que é a gente falar sobre a nossa vida, ter pessoas interessadas em ouvir nossas histórias, demandas e nossas lutas, além de nos acolher. Isso tá sendo de um valor incrível”, coloca. O segundo aspecto apontado por ela é a questão social. “Isso ajuda socialmente a nossa luta, a engajar, potencializar e compartilhar com pessoas que estão em outros movimentos”.

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Crédito: arquivo pessoal.

Aline Salles, do Coletivo Voz das Manas e Movimento Nacional em Luta e Defesa da População de Rua, de Florianópolis, destaca o sentimento de compartilhar a sua história na revista e fazer parte da rede. Para ela, a experiência de ter sua voz ouvida foi significativa. “A Rede Viva de Mulheres nos escutou; eu compartilhei a história de como minha mãe me tratava, uma parte do meu passado. Agora, as pessoas me conhecem melhor”.

Marie Scarselli Sant’Ana, mulher trans de Biguaçu, fala sobre a importância da coletividade durante o processo de produção do material. “Eu conheci pessoas maravilhosas, sou muito grata pelas amizades que fiz, é uma experiência que levarei para a vida”, compartilha.

Pommer ressalta o constante zelo da equipe em proporcionar um ambiente acolhedor durante as oficinas, enfatizando que uma rede solidária se formou entre as participantes do projeto. “Uma perdia vaga no abrigo, as outras se uniam para conseguir um lugar de moradia, por isso Rede Viva de Mulheres foi um nome certeiro, porque no cotidiano a gente foi vendo essas relações de fortalecimento entre os coletivos”, coloca.

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Crédito: arquivo pessoal.

Experiência piloto

O projeto, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), é financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Trata-se de uma experiência piloto de novas estratégias de políticas sobre drogas.

“A gente foi pela linha da arte, escuta e escrita. Quando pensamos em políticas sobre drogas, geralmente olhamos só para a saúde e para a segurança pública, que são áreas importantes, mas ter esse espaço do centro de convivência e elas nos apontarem quais são os caminhos importante de analisarmos na rede é importante para que quem vive a realidade da guerra às drogas na pele, possa nos indicar os caminhos”, explica Pommer.

Escreviventes

Aline Sales (Coletivo Voz das Manas / Movimento Nacional em Luta e Defesa da População de Rua  – Florianópolis).

Beatriz de Oliveira (Ocupação Contestado – São José).

Eunice Brasil  Vieira (Sabão Ecológico Entre Elas – Florianópolis).

Érica Santos de Souza (Ocupação Mariguela  – Palhoça).

Fábia Regina Trindade (Pastoral Povo da Rua – Palhoça).

Maria Idelvana de Jesus (Ocupação Marighela – Palhoça).

Marrie Sant Ana Scarseli (Trajetória de Rua – Biguaçu).

Michelle Buzdzinski dos Santos (Trajetória de Rua – Biguaçu).

Silviane Lopes (Luta Vítimas de Violência de Estado – Florianópolis).

Verônica Marx (Movimento Nacional População de Rua – São José).

Acesse a bio de cada uma das escreviventes.

Equipe do projeto

Redutora de Danos: Amanda Fiorini.

Estagiária de Psicologia: Natália Cruz.

Comunicação: Priscila Costa Oliveira.

Apoio Jurídico: Mayara de Andrade Bezerra.

Administrativo: Gladis Decisão Britto.

Serviço

O que: Lançamento da Revista Rede Viva de Mulheres

Local: Cervejaria Bugio Centro (Vitor Meirelles, 112. Florianópolis). 

Programação:

15h: Abertura: SENAD, Rede Viva de Mulheres e convidadas.  

15h30: Roda de conversa: Experiências em rede na atenção e cuidado de mulheres que usam drogas com facilitação de Tatiane Fuggi. 

17h: Coquetel, sessão de autógrafos e venda de exemplares. 

17:30 às 18h40h: Sarau da Rede Viva de Mulheres.

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  • Daniela Valenga

    Jornalista dedicada à promoção da igualdade de gênero para meninas e mulheres. Atuou como Visitante Voluntária no Instit...

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