O Portal Catarinas lança nesta quarta-feira (30) o terceiro episódio de Paternidades Plurais, quarta temporada do podcast Narrando Utopias. O protagonista é Marcelo Zig, 49 anos, homem negro com deficiência física, pai e avó. Ele é filósofo, palestrante e ativista do direito da pessoa com deficiência. Também é fundador do Quilombo PCD, iniciativa que trabalha no combate aos impactos da aliança entre o racismo e o capacitismo na vida de pessoas pretas com deficiência, e idealizador do Projeto Mergulho Cidadão, uma campanha preventiva aos riscos da terceira causa de lesão medular por acidente no Brasil.
Zig tornou-se uma pessoa com deficiência em 1995, aos 21 anos de idade, após pular de uma ponte e mergulhar em águas rasas. No ano seguinte, tornou-se pai, então toda a sua experiência de paternidade se deu enquanto pessoa com deficiência. O filósofo narra as situações de capacitismo que passou, inclusive tendo sua capacidade de ser pai questionada por outras pessoas. Ele conta que a participação na vida escolar do filho foi impactada pela falta de acessibilidade nos ambientes escolares, o que limitava ou dificultava sua presença em reuniões e atividades comemorativas, por exemplo.
Assim como outros pais entrevistados na temporada, Marcelo Zig também percebeu a necessidade de romper com padrões de masculinidade e paternidade para não repetir práticas com as quais não se identifica mais. No entanto, esse entendimento veio conforme a própria vivência. Com o filho, atualmente com 27 anos, ele admite que exerceu uma paternidade mais endurecida, com o intuito de protegê-lo e educá-lo para enfrentar o racismo e outras violências às quais os homens pretos estão sujeitos.
Ainda no episódio, Humberto Baltar, especialista em masculinidades e paternidades, fala sobre a necessidade de criar repertório, registro e narrativas positivas para famílias pretas, uma carência identificada no coletivo Pais Pretos Presentes, que ele criou junto com a esposa Thainá Baltar. O especialista também defende a importância de estar em grupos e comunidades comprometidas com a desconstrução de preconceitos, pois ninguém consegue se tornar uma pessoa melhor no isolamento.
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A necessidade de ampliar o repertório das famílias também é abordada no quadro “Meninos fora da caixa”, a partir de uma demanda descoberta pelo projeto “Meninos: Sonhando os homens do futuro”. O levantamento é desenvolvido pelo Instituto PDH e ouviu meninos de 13 a 17 anos para entender suas perspectivas, dores, potências e sonhos. A iniciativa conta com coordenação de Tiago Koch, idealizador do projeto Homem Paterno e consultor desta temporada, e é orientada pela visão da feminista bell hooks de que “Se não formos capazes de sonhar visões de futuro para os meninos, vamos seguir lidando com os problemas de hoje daqui 20 ou 30 anos”.
“E na verdade eu aprendo muito com meu filho. Aprendo muito desde sempre. É essa coisa do choque de gerações. Então, é importante a gente estar aberto para os jovens e não nos relacionamos com eles como sempre foi. De uma maneira impositiva, sem acolher a humanidade deles, porque a gente perde a oportunidade de crescer com eles, né?”, afirma Zig.
Nesta quarta temporada, o objetivo do Narrando Utopias continua o mesmo: esperançar. Unir-se com outras pessoas para ajudar a construir no presente o futuro ético e justo que sonhamos para todas, todes e todos. Desta vez, ouvindo homens que compreendem o potencial que a paternidade possui de fazer a diferença no mundo.
Homens que têm se reunido com outros pais para conversar sobre vulnerabilidades, medos, e formas de assumir protagonismo na organização dos cuidados domésticos, de colaborarem com suas companheiras e de educarem melhor as crianças. Pontos fundamentais para contribuir com a diminuição da sobrecarga de trabalho das mulheres.
A nova temporada faz parte do projeto Narremos a Utopia, uma iniciativa do Inspiratorio.org para imaginar futuros feministas, interseccionais e inspiradores.