Enquanto vivenciamos os efeitos da mudança climática, com as altas temperaturas em pleno inverno em grande parte do país e enchentes no Sul, o Portal Catarinas lança nesta quarta, 3 de outubro, o podcast “Ilha Invisível”, que trata da injustiça ambiental e climática envolvendo a comunidade tradicional de pescadores artesanais da Baía Sul da capital de Santa Catarina a partir da construção de uma rodovia onde era mar.
Conectando o centro de Florianópolis ao Sul da Ilha, a Via Expressa Sul – como é conhecida a Rodovia Governador Aderbal Ramos da Silva, trecho da SC-401 – opera, desde a sua inauguração, em 2004, sem licenciamento ambiental, isto porque as condicionantes para sua construção e operação jamais foram cumpridas pelo governo do estado, responsável pela obra. Além disso, a proximidade da obra com a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé provocou danos ambientais e a alteração da dinâmica marinha, resultando na diminuição de muitas espécies de peixes e mariscos comuns na região.
“O camarão diminuiu muito. Isso aqui era um berçário de camarão que era coisa de louco. Chegava no meio de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, a gente pegava assim de mão cheia. Ele vinha de fora e desovava aqui dentro. Agora não. Agora não tem mais desova, porque é só areia”, relata Neri Manoel Martins, pescador artesanal.
A construção de ranchos de pesca para todos os pescadores, a manutenção dos trapiches e dos canais para deslocamento dos barcos das casas até o mar, são só algumas das obrigações do poder público que não foram cumpridas. Enquanto isso, a comunidade tradicional pesqueira que vive na região e tira do mar seu sustento, vê a deteriorização de seu entorno, além de estar sendo obrigada a buscar alternativas de renda.
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“São justamente as condições ambientais que foram colocadas para evitar impactos ou para mitigá-los, que são muito importantes para a vida dos pescadores e extrativistas da Reserva. Por exemplo, a questão do rancho, da manutenção dos trapiches, do acesso aos ranchos, entre outras coisas que impactam muito o modo de vida deles, que são direitos deles. E que nunca foram atendidos”, explica Dayani Guero, analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Ilha Invisível entrevistou duas famílias de pescadores/as artesanais da Costeira do Pirajubaé, principal bairro afetado pela construção da Via Expressa Sul; o geólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Fernando Scheibe; o filho de pescador e conselheiro da Resex do Pirajubaé, Celso Botelho; o deputado estadual de SC, Marcos José de Abreu, o Marquito; e a analista ambiental do ICMBio, Dayani Guero.
A partir de pesquisa documental e das entrevistas, as jornalistas do Catarinas, Inara Fonseca e Morgani Guzzo, apresentam relatos de violência e descaso contra o modo de vida e fonte de subsistência das famílias de pescadores.
“Este é um trabalho que desenvolvemos desde 2021, quando realizamos uma pesquisa sobre as artes de pesca dos beneficiários da Resex do Pirajubaé, a primeira reserva extrativista marinha do Brasil. A situação e os relatos dos pescadores nos tocaram muito, e este podcast busca denunciar o aspecto cruel de projetos de urbanização e ‘desenvolvimento’ que são levados a cabo pelo poder público, sem considerar as populações tradicionais impactadas”, conta Morgani Guzzo.
“Ilha Invisível” é um podcast original do Portal Catarinas, promovido pela Ajor, Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project. Está disponível no Spotify, com audiodescrição no youtube.
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