Retrospectiva 2024: jornalismo, educação e direitos para transformação social
Relembre os principais destaques da nossa cobertura em 2024.
Em 2024, o Catarinas segue como um importante espaço de atuação jornalística feminista na defesa dos direitos humanos e fundamentais, ao mesmo tempo em que expandiu as ações territoriais através de projetos que interseccionam comunicação e educação popular, como o “Narrar para Transgredir” e “Olhar, ouvir e documentar”. Nossa equipe se destacou tanto em reportagens premiadas quanto em importantes ações de mobilização e diálogo com setores políticos e sociais.
Iniciamos o ano com a conquista do terceiro lugar no Prêmio ACI OCESC de Jornalismo, promovido pela Associação Catarinense de Imprensa e a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina, com a matéria “Professora é perseguida por apoiar inclusão de aluna trans em escola pública de Florianópolis”. A reportagem destacou a luta de educadores e as dificuldades enfrentadas por pessoas trans nas escolas. Esse reconhecimento é reflexo do nosso compromisso com o jornalismo feminista, comprometido com os direitos humanos das pessoas trans e de outras populações marginalizadas.
Intensificamos nossa presença institucional em 2024, com ações em torno da defesa dos direitos reprodutivos, da igualdade de gênero e da inclusão. Participamos da 54ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde defendemos os direitos da população LGBTQIA+ e cobramos um posicionamento firme contra o Projeto de Lei 1904/2024, que ameaça os direitos das mulheres, meninas e pessoas que gestam no Brasil. Também contribuímos para a construção de políticas públicas mais inclusivas e justas, por meio de cartas e mobilizações, sempre com foco na promoção da igualdade, na luta contra o racismo e a discriminação.
Em nossos projetos, continuamos a colaborar com o empoderamento e a visibilidade de comunidades, como a juventude indígena Guarani, por meio de oficinas de produção audiovisual no Morro dos Cavalos, em Palhoça (SC), e os adolescentes e jovens das periferias de Florianópolis, com oficinas de educomunicação sobre educação sexual, em parceria com o Centro Cultural Anastácia.
O Catarinas segue, assim, como um portal que une jornalismo, educação popular e atuação política estratégica, com o objetivo de transformar realidades, influenciar transformações e ser presença ativa na luta por direitos e justiça social.
Confira os destaques:
Reconhecimentos
Começamos o ano com o “pé direito”. Fomos reconhecidas com o terceiro lugar na categoria “texto” do Prêmio ACI OCESC de Jornalismo, promovido pela Associação Catarinense de Imprensa e a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina, com a reportagem “Professora é perseguida por apoiar inclusão de aluna trans em escola pública de Florianópolis”, produzida pela jornalista Fernanda Pessoa em parceria com o Intercept Brasil.
Nosso trabalho também foi condecorado com a Medalha de Mérito Virgílio Várzea, entregue ao Portal pelo trabalho realizado para engrandecimento de Florianópolis (SC). A entrega ocorreu durante a sessão de aniversário dos 351 anos de Florianópolis, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. O Catarinas foi representado pela co-fundadora e diretora executiva, a jornalista Paula Guimarães, que recebeu a honraria das mãos da vereadora Carla Ayres (PT).
Produtos
A internet como campo de disputas pela igualdade de gênero
Em janeiro, lançamos uma série de vídeos sobre gênero e feminismo em parceria com o Laboratório de Estudos de Gênero e História, da Universidade Federal de Santa Catarina (LEGH-UFSC). Com linguagem coloquial e didática, os vídeos buscaram alcançar especialmente o público jovem e adolescente nas redes sociais e trataram sobre: feminismos, gênero, antirracismo, anticapacitismo e violência de gênero.
A campanha contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e faz parte dos resultados do projeto “A internet como campo de disputas pela igualdade de gênero”.
Olhar, ouvir e documentar: oficinas de audiovisual no território Mbyá-Guarani do Morro dos Cavalos
Realizamos oficinas de produção de conteúdo audiovisual com a juventude da comunidade Mbyá-Guarani, do Território Indígena do Morro dos Cavalos, localizado em Palhoça (SC). Ao todo foram 10 oficinas, para cerca de 20 jovens, entre 12 e 21 anos, com objetivo de possibilitar que a juventude Mbyá-Guarani se aproprie da linguagem audiovisual para visibilizar a cultura da comunidade, a partir das próprias experiências. Como resultado, publicamos quatro vídeos produzidos pelos jovens nas redes sociais.
O projeto foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023, executado com recursos do estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.
Nomeado de “Narrar para transgredir”, o projeto ofertou oficinas de educomunicação e educação sexual para adolescentes e jovens de 14 a 20 anos que participam de turmas do Centro Cultural Anastácia (CCA), em Florianópolis. Ao todo, participaram cerca de 60 jovens e adolescentes das periferias da capital catarinense.
Como resultado, os jovens produzam conteúdos jornalísticos que listam filmes que tratam sobre gravidez na adolescência; falam sobre a realidade de pessoas trans a partir de uma entrevista com uma pessoa não binária; explicam o que é dependência emocional com base em conversas com uma psicóloga e com uma jovem que enfrentou a situação; apresentam a história de um jovem que vivenciou o vício em pornografia; e compartilham o relato de uma jovem de 17 anos que passou por assédio moral e sexual no trabalho.
Divulgação de candidaturas progressistas de Santa Catarina
Candidaturas comprometidas com a construção de uma política mais justa e inclusiva nas eleições municipais deste ano tiveram espaço em nosso Portal. Lançamos um formulário para ouvir candidatas a vereadora ou prefeita em Santa Catarina que apoiavam uma agenda política feminista, antirracista, inclusiva para LGBTQIA+ e anticapacitista. As respostas foram publicadas na íntegra no portal e divulgadas nas redes sociais.
Parcerias, eventos e publicações
Seguindo a tendência dos últimos anos, lembramos e celebramos as nossas parcerias, que nos apoiaram em diversos especiais, eventos e publicações. Entre elas:
– Em 2024, o Boletim Futuro do Cuidado mudou de formato e passou a ser uma newsletter. Foram três edições, com notícias, informações e conteúdos essenciais sobre justiça reprodutiva – especialmente sobre aborto – com o objetivo de informar, denunciar e mobilizar contra as graves ameaças aos direitos reprodutivos. Entre os temas abordados estão o PL 1904/2024, as mobilizações pela reabertura do serviço de aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha (SP), o caso da menina de Goiás e a PEC 164/2012.
– Desfilamos na Escola de Samba Nação Guarani, no Carnaval de Florianópolis 2024, que homenageou as Mulheres Extraordinárias. As jornalistas Paula Guimarães e Fernand quea Pessoa integraram a Ala Mãe Oxum, representando a resistência da luta das mulheres. O enredo “Extraordinárias Mulheres da Nação” foi uma homenagem ao papel histórico e social das mulheres.
– Participamos do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Nossa co-fundadora e diretora executiva, Paula Guimarães, participou da palestra “Como investigar: direitos reprodutivos e sexuais no Brasil” e da oficina “Como se proteger de ataques virtuais”.
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– Em maio, as organizações articuladas pelo Futuro do Cuidado, que inclui o Catarinas, lançaram um edital para apoiar cinco iniciativas de comunicação sobre aborto, com foco no enfrentamento ao estigma. As propostas deveriam abordar o tema de uma perspectiva positiva e dialogar com novos públicos.
– No mesmo mês, fomos selecionadas para participar do Laboratório de Desenvolvimento de Audiência, parte da edição 2024 dos Laboratórios de Transformação Digital da Google News Initiative. Nossa equipe foi selecionada por meio da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), junto de outras quatorze organizações integrantes. Com 12 semanas de duração, o Lab focou nos fundamentos do desenvolvimento da audiência digital em diversos canais, na aplicação de métodos ágeis e na definição de metas estratégicas.
– Participamos da 13ª edição do Fazendo Gênero, que aconteceu de 29 de julho a 2 de agosto na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e marcou os 30 anos do maior seminário internacional de gênero no Brasil. Mais de 6 mil pessoas de vários Estados e países se inscreveram para a edição de 2024, a primeira pós-pandemia. O evento teve como tema: “Fazendo Gênero 13 contra o fim do mundo: anticolonialismo, antifascismo e justiça climática”. O Catarinas também integrou a programação, participando da mesa redonda “Jornalismo feminista e estratégias antifascistas e contracoloniais”; da oficina “Criança não é mãe e tem direito ao aborto legal”; e da sessão “Gênero, redes e mídias sociais digitais: pesquisa, desafios e possibilidades”.
– Durante o Fazendo Gênero, também participamos do lançamento da cartilha “Justiça reprodutiva para todes: saúde, gestação e parentalidades dissidentes”. O documento, pioneiro no Brasil, oferece um guia abrangente sobre boas práticas a serem adotadas durante momentos da vida reprodutiva da população LBTs, além de legislações que tratam sobre essas temáticas. Além do Catarinas, apoiaram a produção da cartilha várias organizações que atuam em defesa da justiça reprodutiva.
– Em julho, lançamos o edital do Ocupa Mana Por Justiça Reprodutiva para receber propostas de produtos, ações ou atividades que falem sobre saúde sexual e reprodutiva. O documento foi fruto de uma iniciativa coletiva de 15 organizações, incluindo o Catarinas, e era é focado em grupos de adolescentes negras/os/es ou indígenas, de 12 a 18 anos, do gênero feminino cis ou trans, meninos e jovens transmasculines e não bináries.
– Em parceria com a Lupa, publicamos uma reportagem em que analisamos os conteúdos falsos e distorcidos mais comuns que circulam pelas redes sobre o aborto legal. No material, apresentamos respostas da ciência e da legislação no Brasil e no mundo para os principais mitos e dúvidas sobre o tema.
– Participamos da Jornada Mulheres Sem Medo de Mudar o Brasil, organizada pelo Instituto E Se Fosse Você?, e pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial. O evento reuniu mais de 250 mulheres, entre lideranças políticas, membras de organizações da sociedade civil e especialistas, para debater estratégias de combate à violência política que afeta mulheres e pessoas racializadas.
– O Portal Catarinas foi incluído na lista de Projeto Oásis, que mapeia a mídia independente ao redor do mundo.
– A diretora executiva do Catarinas participou da Audiência Pública da Comissão de Legislação Participativa, realizada em Florianópolis, com o tema “Garantia do Direito ao Aborto Legal e Seguro em Santa Catarina”. O evento, convocado pela Deputada Carla Ayres (PT/SC), contou com a presença de diversas especialistas e defensoras dos direitos das mulheres, como Marina Gasino Jacobs (UFSC), Rebeca Mendes (Projeto Vivas) e Morgani Guzzo (Frente Catarinense de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto).
– Por meio da co-fundadora, Paula Guimarães, participamos do seminário “O papel do jornalismo na sociedade: a crítica de mídia nos últimos 15 anos”, promovido pelo grupo de pesquisa e extensão do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS/UFSC), em comemoração aos seus 15 anos. No evento, Paula integrou a mesa de debate “Quem faz e quem recebe a crítica de mídia”, ao lado de Paulo Mueller (NDTV) e da professora Rafiza Varão (UnB/SOS Imprensa/Renoi), com mediação de Samuel Pantoja Lima.
Financiamentos
Serrapilheira
Edital Camp Serrapilheira 2024, do Instituto Serrapilheira: a quinta temporada do podcast Narrando Utopias abordará a agroecologia como uma saída para a crise climática.
Fundo de Ação Urgente da América Latina e Caribe (Fau):
Série de conteúdos educativos – incluindo reportagens, web stories e vídeos – com o objetivo de combater as desinformações e fake news que sustentam a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 164/2024 e o Projeto de Lei 1904/2012.
FP2030
Nos tornamos a única organização brasileira a assinar compromisso com o Planeamento Familiar 2030 (FP2030), uma parceria global dedicada a garantir o acesso a serviços de planeamento familiar modernos e aos direitos reprodutivos até 2030. Como parte dessa parceria, vamos desenvolver um especial que trata sobre as conexões entre a crise climática e os direitos reprodutivos. O especial terá como base a crise no Rio Grande do Sul.
Comunicação, Saúde e Gênero – educação sexual para adolescentes de bairros periféricos de Florianópolis (SC)
Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Ações políticas
– O Catarinas, junto com organizações engajadas na promoção da justiça reprodutiva, distribuiu lenços verdes, símbolo da luta pelo aborto legal, durante o Carnaval de 2024. Os lenços, personalizados especialmente para a folia, foram enviados para diversos Estados. A iniciativa teve como objetivo evidenciar a crescente mobilização da Maré Verde no Brasil.
– Assinamos, assim como mais de 200 organizações, a carta-compromisso por um feminismo transinclusivo, lançada pelas Frentes Feministas 8M Brasil SC – Florianópolis, Jaraguá do Sul e Joinville, juntamente com organizações de classe e coletivos/as feministas que as compõem. A carta, publicada às vésperas do Dia Internacional das Mulheres, destaca a importância de reconhecer e incluir as pessoas trans em todas as frentes da luta feminista.
– Também ajudamos a elaborar e assinamos com outras 21 organizações uma carta entregue durante a primeira sessão do ano da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial aos parlamentos. A ação no Congresso, que culminou na entrega do documento, alertava sobre perseguição ao acesso ao aborto legal no país.
– Ao lado de diversas organizações que atuam em defesa da justiça reprodutiva, seguimos com a campanha “Criança Não é Mãe”, uma luta da sociedade brasileira para que nenhuma criança seja obrigada a seguir com uma gestação. A campanha reuniu mais de 340 mil assinaturas contra o PL1904/2024, conhecido como PL Antiaborto ou PL do Estupro.
– De forma colaborativa, publicamos dezenas de peças comunicacionais informativas no portal e nas redes sociais para conscientizar e mobilizar a sociedade sobre o Projeto de Lei 1904/2024. Esse trabalho envolveu, por exemplo, articulação com personalidades famosas nas redes sociais, divulgação de informações sobre o que é o projeto de lei, quem serão as pessoas afetadas e dados sobre aborto, além da divulgação de manifestações presenciais em diversos Estados do Brasil, nas quais também estivemos presentes.
– Num contexto de crescente preocupação com os direitos reprodutivos, organizações feministas brasileiras dirigem-se ao Ministério das Mulheres para abertura de diálogo. Elaboramos uma carta aberta, onde destacamos que a questão do aborto deve ser abordada dentro de uma política ampla de saúde sexual e reprodutiva.
– O Catarinas participou da 54ª Assembleia Geral da OEA, realizada em Assunção, no Paraguai. Convidadas pela Coalizão LGBTTTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais) e Trabalhadoras Sexuais, integramos discussões importantes, como a reunião com o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, sobre os desafios enfrentados pela população LGBTQIA+ na região. Também houve um encontro com Roberta Clarke, relatora sobre os Direitos das Pessoas LGBT, que foi acionada sobre o PL 1904 e suas implicações no Brasil.