A 13ª edição do Fazendo Gênero, que acontece de  29 de julho a 2 de agosto na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), marca os 30 anos do maior seminário internacional de gênero no Brasil. Mais de 6 mil pessoas de vários estados e países se inscreveram para a edição de 2024, a primeira pós-pandemia. 

Com o tema “Fazendo Gênero 13 contra o fim do mundo: anticolonialismo, antifascismo e justiça climática”, o evento será em formato híbrido com quatro conferências, 45 mesas-redondas, 184 simpósios temáticos, 2 mil e 800 comunicações orais, 200 posters, além de uma tenda temática, feira de economia solidária, minicursos, oficinas e a Marcha Mundo de Mulheres. 

Segundo Cristina Scheibe Wolff, professora do Departamento de História da UFSC e responsável pela Comissão de Atividades Acadêmicas, toda a programação conta com a participação dos movimentos sociais que integram as comissões organizadoras e também estarão presentes nas mesas redondas, nos simpósios temáticos, na tenda e nas oficinas. 

Wolff destaca que esse diálogo com os movimentos é essencial para produzir uma ciência conectada com os anseios sociais e para criar um espaço de aperfeiçoamento e construção conjunta de conhecimentos entre aqueles que estão na academia e na sociedade, especialmente em colaboração com movimentos de mulheres e feministas.

Ela acrescenta que refletir sobre temas como antifascismo, anticolonialismo e justiça climática é fundamental, pois estão no cerne das lutas políticas e sociais atuais. “Não teria sentido fazer um evento como esse e ficar somente entre acadêmicas ou somente dentro do movimento social. Esse conhecimento construído de forma conjunta e articulada é a grande característica do Fazendo Gênero. É o que torna ele tão importante”, afirma. 

O Fazendo Gênero é realizado desde 1994 e assumiu um caráter internacional a partir dos anos 2000. O objetivo é promover um ambiente de interlocução artística, ativista e afetiva, tendo questões de gênero, sexualidades e questões feministas como centro das discussões, trocas e debates. As inscrições para participação como ouvinte continuam abertas no site até a data do evento. 

A UFSC é promotora do FG, por iniciativa do Instituto de Estudos de Gênero (IEG), em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Entre os apoiadores do evento estão o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério das Mulheres.

Programação

As quatro conferências ocorrem no Auditório Garapuvu do Centro de Cultura e Eventos Luis Carlos Cancellier de Olivo, e contará com quatro mulheres com atuação nos movimentos feministas: Débora Diniz, Mestra Joana (Joana D’arc da Silva Cavalcante), Adriana Arroyo Guzmán, e Amina Mama. As palestras também serão transmitidas através do Canal do YouTube do Instituto de Estudo de Gênero. 

Mama discutirá a crítica ao cânone ocidental, neocolonialismo e gênero; Guzmán tratará do feminismo indígena, comunitário e antipatriarcal na América Latina; Mestra Joana compartilhará sua experiência como única mulher a liderar uma Nação de Maracatu, enfatizando feminismo, ancestralidade e arte; enquanto Diniz abordará bioética, direitos humanos e saúde, destacando sua luta pela descriminalização do aborto e direitos reprodutivos no Brasil.

Além disso, haverá um espaço para a realização de rodas de conversa e apresentações culturais: a Tenda Mundos de Mulheres, que contará com uma programação específica. Também feiras da Economia Feminista e Solidária, Mostra Audiovisual e Fotográfica, e o lançamento de mais de 100 livros durante o congresso, cujos temas vão de relações de gênero na capoeira e no jornalismo esportivo à justiça reprodutiva.

Marcha Contra o Fim do Mundo

Um dos momentos simbólicos da celebração, a Marcha Mundo de Mulheres acontece no dia 31 de julho, no centro de Florianópolis, das 16h às 20h, aberta a toda a população. Os pontos específicos da manifestação contemplam os três eixos temáticos do evento: Anticolonialismo (Catedral da Praça XV), Antifascismo (Largo da Alfândega) e Justiça Climática (Banco do Brasil na Tenente Silveira).

“A ideia é que o evento não fique somente no campus universitário, seja dentro da UFSC ou da Udesc, onde vai acontecer principalmente a programação artística. Essa é uma forma de levá-lo para o centro da cidade, concretizar esse diálogo, essa preocupação social e relação com os movimentos”, explica Wolff. 

Participação do Catarinas no Fazendo Gênero

O Portal Catarinas também estará no evento, promovendo debates e oficinas focadas em jornalismo feminista, direitos sexuais e reprodutivos e justiça social. 

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No dia 29 de julho, será lançada a cartilha “Justiça reprodutiva para todes: saúde, gestação e parentalidades dissidentes”, um material educativo desenvolvido em parceria com várias organizações feministas, entre elas o Catarinas. Das 16h30 às 18h na Tenda Mundo de Mulheres.

No dia 30, Paula Guimarães, co-fundadora e diretora executiva do portal, participará da mesa redonda “Jornalismo feminista e estratégias antifascistas e contracoloniais”, de 9h às 12h, no Auditório CCE, explorando como o jornalismo pode atuar contra o fascismo e o colonialismo. 

No dia 1º de agosto, ela coordenará a oficina “Criança não é mãe e tem direito ao aborto legal”, abordando a urgência do debate sobre aborto legal para menores de idade, juntamente com representantes da Anis – Instituto de Bioética, Cladem e Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Das 8h às 12h, no CFH 331. 

Guimarães também vai participar da sessão de estudos temáticos “Gênero, redes e mídias sociais digitais: pesquisa, desafios e possibilidades”, no dia 2, destacando a importância das redes sociais no combate às desigualdades de gênero, além de outras participações e contribuições. Das 14h às 17h no CFH 331.

Atividades artísticas e culturais

Serão diversas atividades artísticas e culturais distribuídas nos campi da UFSC e da Udesc. Entre elas, o espetáculo de dança-teatro “Farpa”, performado em formato solo e realizado a partir de pesquisa do núcleo criativo do Grupo Ronda. Ele aborda o corpo político da mulher, criando um espaço de afeto entre imagens e sensações. 

O Baque Mulher Floripa, um dos grupos filiados ao Maracatu Baque Mulher, também irá se apresentar. Formado em 2016, no Recife, sob a coordenação da Mestra Joana D’Arc Cavalcante, o Baque é composto por mulheres que se reúnem para tocar maracatu de baque virado, partilhar experiências e se fortalecer na luta por direitos. As composições retratam princípios fundamentais das religiões de matriz africana e versam sobre o respeito entre as mulheres.

Outro grupo a marcar presença é a Cia Dramática, do Rio Grande do Sul. Durante o espetáculo “Mulheres Atravessadas Na Garganta”, seis mulheres atravessam o corpo de uma atriz, encenada por Juçara Gaspar, que pesquisa sobre feminismo há quase duas décadas. Detalhes dessas e de outras atrações podem ser conferidos no site. 

Espaços para as crianças e adolescentes 

Crianças e adolescentes de 4 a 14 anos terão uma programação especial. Uma série de atividades serão realizadas com a intenção de dar visibilidade e valorizar as falas e os olhares desse público sobre temas envolvendo questões de gênero, raça, meio ambiente, classe e dinâmicas intergeracionais. 

Ingrid Bragagnolo, professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (UFSC) e integrante da comissão Crianças e Adolescentes no FG13, conta que há mais de dez edições há essa proposta de acolhimento, que começou com crianças, por iniciativa e luta das mulheres. Mas com o tempo, esse acolhimento passou a ser visto também como um direito das crianças e adolescentes de participarem do congresso. 

“Ao longo desse percurso, observamos, especialmente pela perspectiva da antropologia da infância, a importância das crianças serem participantes ativas do congresso, com suas visões e pautas ganhando visibilidade”, destaca Bragagnolo. 

As atividades vão acontecer no período vespertino, de maneira presencial, no campus Trindade da UFSC, em Florianópolis.

“Essa premissa parte da ideia de que as crianças não estão apenas acompanhando o evento, elas também têm o direito de participar ativamente. Elas podem opinar e construir seu conhecimento a partir de suas próprias perspectivas. Então, além de acolher mulheres e mães, o evento valoriza a produção de conhecimento por crianças e adolescentes”, completa Rita de Cacia Oenning, antropóloga e também responsável pela comissão Crianças e Adolescentes no FG13. 

Segundo Oenning, serão realizadas apresentações teatrais, contação de histórias, atividades relacionadas à sustentabilidade e à diversidade de culturas, gênero e espécies. Além disso, parte desse processo será filmado e transformado em um curta documentário com reflexões e falas das crianças e adolescentes. 

Atividades sobre aborto

Diversas organizações que atuam em defesa da justiça reprodutiva também estarão na programação para falar sobre a luta pelo acesso ao aborto legal e seguro no Brasil e na América Latina. Organizações como Coletivo Margarida Alves, Nem Presa Nem Morta, Basuras Coletiva e Grupo Curumim abordarão os direitos sexuais e reprodutivos, práticas discursivas de resistência, acesso ao aborto legal e justiça reprodutiva para meninas. São mais de 30 atividades, entre elas:

Mostra Fotográfica: Ensaio “Sobre cuidar”

• Data e horário: 29/07/2024 até 02/08/2024
• Local: Sala Pitangueiras do Centro de Eventos da UFSC

Oficina de stencil: Lenços verdes e aborto: construindo narrativas visuais

• Data e horário: 29/07/2024 (segunda-feira), das 14h às 16h
• Local: CCE – Sala Drummond

Decir la rebelión. Prácticas discursivas de resistencia en América Latina

• Data e horário: 29/07/2024 (segunda-feira), das 14h às 17h30
• Local: CSE 211

“Direito ao aborto e justiça reprodutiva: entre avanços e retrocessos”

• Data e horário: 29/07 (segunda-feira) das 14h às 17h
• Local: CFH 313

Barreiras de acesso ao aborto legal em Brasil: experiências e perspectivas

• Data e horário: 30/07/2024 (terça-feira), das 14h às 17h
• Local: CFH 313

Hospedagem solidária

Assim como em edições anteriores, é possível oferecer e procurar hospedagem gratuita neste grupo no Facebook.

SERVIÇO:

O quê: 13ª edição do Seminário Internacional Fazendo Gênero

Data: 29 de julho a 2 de agosto de 2024

Local:  Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis.

Site oficial: https://www.fg2024.eventos.dype.com.br/ 

Facebook: https://www.facebook.com/FazendoGenero/

Instagram: @fazendo_genero