Um dos maiores eventos feministas do mundo vai reunir 8 mil em Florianópolis
Priorizamos diferentes segmentos sociais, porque nós, como mulheres brancas, de certa forma hegemonizamos o campo acadêmico, precisamos abrir mão desse espaço para dizer ‘venham ocupar’
Pela primeira vez, o Congresso Mundos de Mulheres (MM) será realizado na América do Sul. Integrada ao 11º Seminário Internacional Fazendo Gênero (FG), a 13ª edição acontece de 30 de julho e 4 de agosto, em várias partes do campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Mais de 8 mil mulheres de todos os continentes estão inscritas. Fóruns, conferências, minicursos, apresentações artísticas e marcha compõem a programação que deve movimentar a cidade nesses seis dias. Um aplicativo está sendo desenvolvido especialmente para dar mais dinamismo às informações e facilitar o contato entre participantes. A tecnologia será acessível também para cegos.
A programação completa pode ser conferida no site.
Mulheres dos mais variados movimentos, como indígenas, camponesas, negras, trabalhadoras do sexo, mulheres trans, travestis, bissexuais e lésbicas terão voz garantida no encontro, como afirma Vera Gasparetto, da Comissão de Movimentos Sociais. Com a temática “Transformações, Conexões, Deslocamentos”, o evento une academia e ativismo com a proposta de ser um espaço de diálogo entre pessoas do mundo sobre questões de gênero, feminismo e suas relações com raça/etnia, classe, nacionalidade, religião, entre outros recortes. Entre os temas de destaque estão o direito de viver sem violência, educação e gênero, descriminalização do aborto, sexualidades, masculinidades e transidentidades – marcando a inclusão de novos sujeitos à história dos feminismos.
“Priorizamos diferentes segmentos sociais, porque nós, como mulheres brancas, de certa forma hegemonizamos o campo acadêmico, precisamos abrir mão desse espaço para dizer ‘venham ocupar’. E o mais importante que as pessoas possam dizer como querem fazer seu protagonismo”, explica Vera.
Integram a programação atividades organizadas em conjunto com ativistas, como os fóruns de debate, as tendas “Mundo de Mulheres”, “Feminista e Solidária” e Tenda da Saúde. Além disso, haverá participação de debatedoras dos movimentos feministas e de mulheres em todas as mesas-redondas.
A Marcha Mundos de Mulheres por Direitos, que acontece nas ruas centrais de Florianópolis, em 2 de agosto, e concentração às 17h, no Terminal de Integração (TICEN), consagra esse diálogo com os movimentos. “Essa é a forma do evento se integrar à cidade de Florianópolis”, afirma a professora Cristina Wolff, integrante da Comissão de Coordenação Geral.
Atrações artístico-culturais
O Fazendo Gênero terá mais de 40 apresentações artísticas em diversos espaços do campus, como o show de Linn da Quebrada, em 02 de agosto, no Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, às 21h, após a Marcha Mundos de Mulheres por Direitos. O bloco Cores de Aidê, La Clínica, pocket show Odara criado especialmente para o evento, entre outras apresentações cênicas, de dança e performance estão entre as atrações.
Durante o evento também acontecerá a II Exposição Arte e Gênero, a Mostra Audiovisual, a Mostra Fotográfica, os roteiros de passeios temáticos em comunidades e projetos da região de Florianópolis. Haverá também o Crianças no Fazendo Gênero, com oficinas e programação cultural para crianças que vierem com as/os participantes.
A programação é composta ainda por conferências (4), mesas-redondas (33), simpósios temáticos (160), exposição de pôsteres, oficinas (95) e minicursos (17). O credenciamento e principais atividades acontecem no Centro de Eventos.
Leia mais
- Gloria Anzaldúa: abraçar as identidades lésbicas pra desafiar as estruturas de poder
- Rebeca Andrade inspira crianças
- Construção da Casa de Passagem Indígena é adiada pela prefeitura de Florianópolis
- Andrielli é submetida à laqueadura sem seu consentimento
- Na pandemia, três mulheres foram vítimas de feminicídios por dia
Uma academia para todas e todos
O protagonismo dos movimentos sociais no evento é resultado de um momento de autocrítica da academia. Vera Gasparetto defende uma outra academia que seja pluriversal e integre demandas dos movimentos para fazer frente ao embate na cena pública entre os estudos de gênero e as formas de silenciá-lo, como o programa Escola Sem Partido. “Nesse momento em que querem calar nossas consciências e vozes, abafar uma visão crítica da realidade, queremos que os movimentos e a classe trabalhadora de fato consigam consolidar seu espaço dentro da academia. Nós sabemos da construção histórica elitizada desse acesso e que nos últimos anos estávamos conseguindo reverter. Queremos dizer que todas/os têm direito de ocupar esse espaço e que gênero não é só coisa de mulheres. Discutir questões novas que são colocadas em pauta dentro do campo da pesquisa acadêmica de gênero e da luta política são fundamentais para construir novas consciências, democratizar a sociedade, o acesso à vida, aos direitos e a um mundo melhor”, assinala Vera.
Cristina Wolff também enfatiza a relevância do congresso diante do avanço do conservadorismo. “É extremamente importante um evento grande e forte que mostre o interesse das pessoas em nível internacional sobre esses estudos. Com essa integração entre esses estudos e espaços de reivindicação dos ativismos, mostramos que não podemos aceitar os retrocessos na legislação e vida pública. Esse congresso não é simplesmente espaço acadêmico para mostrar nossas pesquisas e nos congraçar, é também uma ação política para destacar a importância desses estudos para a sociedade como um todo e para dizer que buscamos essa interface com os movimentos”, analisa Cristina.
Inscrições
Toda a programação no auditório Garapuvu será transmitida ao vivo via internet no site do evento. As inscrições para ouvintes reabrem durante o evento. A taxa para estudantes é R$ 60 e para público em geral R$ 100. Minicursos, oficinas e roteiros de visitas tinham inscrições e taxas específicas.
O Congresso Mundo de Mulheres acontece a cada três anos. Já foi realizado em Israel, Holanda, Irlanda, Estados Unidos, Costa Rica, Austrália, Noruega, Uganda, Coreia, Espanha, Canadá e Índia. Organizado pelo Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC, o Seminário Fazendo Gênero teve origem em 1994, e sua realização acontecia a cada dois anos. Em 2010, passou a ser trianual. O último encontro ocorreu em 2013, prevendo a integração, neste ano, ao Mundo de Mulheres.
O evento tem financiamento e apoio da Fundação da Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (
Acessibilidade
A maioria das congressistas fala português e espanhol. Não haverá a tradicional tradução simultânea. Nas conferências e mesas redondas, vai ocorrer a projeção de texto das falas em português e inglês. Haverá também tradutores disponíveis para auxiliar no entendimento. Uma Comissão de Acessibilidade organiza o atendimento a pessoas com necessidades específicas como surdez, cegueira e dificuldades de locomoção.
Hospedagem solidária
Em um grupo no Facebook é possível oferecer e procurar hospedagem gratuita.
Serviço:
O quê: 13º Congresso Mundos de Mulheres (Women’s Worlds Congress)/Seminário Internacional Fazendo Gênero 11
Data: 30 de julho e 4 de agosto de 2017
Local: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis.
Site oficial: http://www.fazendogenero.ufsc.br/wwc2017/
Fanpage Facebook: https://www.facebook.com/FazendoGenero/