O março de luta das mulheres é passado, presente e futuro. É memória das históricas lutas das mulheres na sua diversidade, como as reivindicações das mulheres negras – nossas mais velhas por direitos básicos e as manifestações femininas por direitos trabalhistas. É uma atualização das diferentes demandas por dignidade e por uma vida sem violências e exclusões e, ainda, o desenho dos novos tempos e daquilo que já paira no horizonte.

Há 5 anos que este mês também tomou outro significado. No Março por Marielle e Anderson nós intensificamos a pergunta que ecoa por todo mundo e ainda não temos respostas: quem mandou matar e por quê? Um momento em que reforçamos o compromisso pela resolução de um crime político, o assassinato de uma vereadora negra, mãe, bissexual, favelada e defensora dos direitos humanos que foi brutalmente assassinada em exercício político.

No Brasil que vivencia em 2023 uma nova redemocratização com a terceira edição do Governo Lula, o respeito às mulheres – negras, quilombolas, ciganas, dos campos, das águas, com deficiência, lésbicas, bis, trans, jovens, idosas, periféricas, imigrantes, de axé, da política, mães, do serviço público – é prioritário. E falo do respeito que reconhece a ancestralidade, as trajetórias, a competência e capacidade de atuação, a rica experiência de gestão do país a partir da vida cotidiana. São as mulheres negras – também diversas – que fazem o nosso Brasil avançar, resistem nos momentos duros e sofrem mais com o peso da precarização da vida.

Este março redemocratizador tem nelas ponto de partida e de chegada das políticas públicas que o estado brasileiro deve concentrar. É também o mês dos 20 anos da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial que derivou no Ministério da Igualdade Racial, órgão de avanço na construção de uma política coletiva e transversal de enfrentamento ao racismo e às estruturas de desigualdade de forma nunca antes vista. Portanto, em março celebramos também o marco de novos e inegociáveis parâmetros de equidade e bem-viver.

Quando a vida das mulheres negras melhora, tudo o que as contorna se qualifica e a sociedade toda melhora junto. Como ministério irradiador de políticas públicas, temos uma agenda por direitos que é transversal e, por isso, conectada com as prioridades dos outros ministérios, pois o enfrentamento ao racismo precisa envolver todo o governo e toda sociedade. Tanto para denunciar quanto para aplaudir a nossa existência, nossa resistência e sobretudo a cabeça erguida para renovar a vida.

O símbolo deste março foi apresentado ao Brasil no dia 1º de janeiro, pelas mãos de Aline Sousa, mulher negra, trabalhadora desde os 14 anos, estudante de direito, liderança da Unicatadores, que passou a faixa para o presidente Lula no dia da posse. Aline move o país, como a maioria das mulheres, que são maioria da população e que precisam de políticas públicas específicas para poderem acessar a dignidade e construir um futuro. O país deve a estas mulheres, às mães e às avós delas, esta estrada de possibilidades. Não como favor, mas como dever democrático de reparação a violências seculares a que elas foram submetidas.

Essa transformação profunda está na raiz do Ministério da Igualdade Racial, semeado há 20 anos com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) que inaugurou esse enfrentamento na estrutura pública, fruto de uma luta histórica do movimento negro brasileiro. E nós viemos para ficar. Esse ministério, formado majoritariamente por mulheres negras, é tanto um elo com a trajetória de luta negra que sofreu graves revezes nos últimos anos quanto um apontamento de futuro, que é coletivo, comprometido, e onde cabem todas as mulheres.

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