Por Coalizão Nacional de Mulheres*.
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados instaurou processos disciplinares contra as deputadas Célia Xakriabá (Psol-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP). As representações foram apresentadas pelo Partido Liberal, com base em supostas ofensas que teriam sido direcionadas aos colegas durante o debate acerca do marco temporal.
As deputadas sofrem diariamente diversos tipos de violência política de gênero. Acusações machistas de histeria, são chamadas de loucas, descompensadas, vagabundas e outras qualificações extremamente ofensivas, mas essas falas são classificadas como “debates acalorados que fazem parte do jogo político”.
A manifestação de indignação legítima veiculada pelas deputadas durante a discussão do PL que visa estabelecer o marco temporal, um projeto gravíssimo que afeta diretamente a vida de nossos povos originários, ah, essas falas são tidas como intoleráveis e potencialmente violadoras do decoro parlamentar?
Não, Presidente Arthur Lira!
As deputadas representam de forma fidedigna a absoluta revolta das pessoas que as honram com o seu voto. Elas estão vocalizando o pensamento de quem as elegeu da maneira mais fiel possível.
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É justo afirmar, com razoável segurança, que os eleitores se valeriam de termos menos elegantes para tratar aqueles que desejam colocar em risco a vida dos povos indígenas e, por consequência, ameaçar a preservação de nossas matas, florestas, animais, do meio ambiente, da vida! Não é pouco pelo que elas estão lutando! Não há como ser comedida. Elas precisam se fazer ouvir sim, em alto e bom som!
As críticas contundentes que elas veicularam ao longo do debate são um espelho do que uma parcela muito expressiva do povo brasileiro pensa. Não há violação ao decoro no que dizem, mas na proposta que está sendo discutida. Violação frontal ao texto constitucional, que é claro ao determinar o cuidado com o meio ambiente em seu artigo 225 e a titularidade das terras ocupadas tradicionalmente por nossos povos originários, artigo 231 e seus parágrafos.
As deputadas não estão sós! Representam de forma muito potente e competente o pensamento das pessoas que confiaram a sua voz a elas. Estamos atentas e com o dedo em riste apontando para a ilegalidade desses processos disciplinares. Não seremos silenciadas!
Política é sobre poder. As mulheres representam mais da metade do eleitorado brasileiro. Nós estamos articuladas e unidas. Não nos desafiem!
*A Coalizão Nacional de Mulheres é um espaço de articulação de ações de forma coletiva que visa reunir os grupos e mulheres feministas progressistas de todo o país.