Por Alessandra Jungs de Almeida (Data + Feminism Lab, MIT), Catherine D’Ignazio (Data + Feminism Lab, MIT), Cecília França (Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina), Isadora Cruxên (Data + Feminism Lab, MIT), Maria Eunice Xavier Kalil (Grupo de Trabalho sobre Feminicídio na Bahia), Rose Marques (Fórum Cearense de Mulheres), Silvana Mariano (Laboratório de Estudos de Feminicídio, UEL), Telia Negrão (Lupa Feminista contra o Feminicídio) e Thaís Pereira Siqueira (Lupa Feminista contra o Feminicídio). 

Nos anos 1990, Telia Negrão e Maria Eunice (Bice) Kalil não se conheciam. Telia vivia no Rio Grande do Sul e Bice na Bahia. Apesar da distância geográfica, ambas atuavam no enfrentamento da violência letal decorrente de desigualdades estruturais, como o racismo e o machismo, e pensavam sobre como usar tecnologias para abordar esses problemas sociais. Bice integrava o Fórum Comunitário de Combate à Violência, enquanto Telia, jornalista, desde os anos 1980 recortava casos de feminicídio sobre violência de gênero.

Bice e Telia se conheceram no início dos anos 2000, como integrantes da Rede Feminista de Saúde, mas se reencontraram em 2021, por meio do projeto de pesquisa-ação Dados Contra o Feminicídio, que colabora com organizações brasileiras no desenvolvimento de ferramentas digitais contra o feminicídio. Bice agora integra o Grupo de Trabalho sobre Feminicídio na Bahia (GT FEM), um grupo de mulheres feministas e antirracistas comprometidas com o acompanhamento e a atuação política contra o feminicídio. 

Telia, por sua vez, transformou sua prática de coleta de notícias no primeiro relatório de denúncia da campanha do Levante Feminista Contra o Feminicídio no Rio Grande do Sul, dando origem ao observatório Lupa Feminista Contra o Feminicídio do RS, atualmente coordenado por Thaís Pereira Siqueira. Ao GT FEM e à Lupa Feminista, somam-se outras organizações no território brasileiro comprometidas com a coleta de dados e monitoramento de feminicídios. 

Além de Bice, Telia e Thaís, participam do projeto Dados Contra o Feminicídio Rose Marques, do Fórum Cearense de Mulheres (FCM), e Cecília França e Silvana Mariano, que integram o Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina no Paraná. Silvana também coordena o Laboratório de Estudos de Feminicídio (LESFEM) na Universidade Estadual de Londrina (UEL). 

Apesar de atuarem em diferentes regiões do Brasil, essas organizações se mobilizam em torno da ausência de dados oficiais confiáveis sobre feminicídios e transfeminicídios, e/ou a negligência estatal em relação a esses dados no país. Construindo em cima de trajetórias de luta e ativismo, suas atividades de monitoramento, produção de dados e incidência política em relação à violência letal de gênero contribuem para uma onda global de ativismos contra o feminicídio.

Um Movimento Global contra o Feminicídio

A morte de mulheres e meninas cis e trans por conta de seu gênero é um problema mundial. Os dados  latino-americanos, quando é possível acessá-los, são extremamente preocupantes, ainda que incompletos. Em países como o Brasil, o Fórum Brasileira de Segurança Pública, contando com dados públicos, contabilizou 1.437 feminicídios em 2022. A organização MundoSur, que organiza o Mapa Latinoamericano de Feminicídios com dados de diferentes organizações latino-americanas, conta 5.228 feminicídios na região entre janeiro de 2021 e julho de 2023. 

Essas mortes letais de mulheres frequentemente envolvem um sistema de violência em que perpetradores violam sexualmente e/ou descartam os corpos das mulheres, de quem muitas vezes são cônjuges e companheiros. Também é um sistema que frequentemente esquece os nomes e histórias de vida dessas mulheres.

Muitas das mulheres mortas por razões de gênero, especialmente mulheres trans, são lembradas apenas em artigos de jornal curtos, por vezes sensacionalistas e amadores, que dizem apenas que “um homem matou uma mulher ‘não identificada’”. 

Em geral, os títulos das matérias ainda usam a voz passiva, como “mulher encontrada morta em casa, suspeito é o marido” e não “marido é suspeito da morte da mulher”, como demonstram Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues no livro Histórias de morte matada contadas feito morte morrida. Tal forma de relato dos feminicídios, aliada à inação do Estado em proteger as mulheres, categorizar e contabilizar os feminicídios e julgar os responsáveis, faz parte do regime patriarcal em que vivemos, como definem Debora Diniz e Ivone Gebara no livro Esperança Feminista.

Por conta da violência sistemática pela qual as mulheres passam, há uma onda global de ativismos de dados contra o feminicídio da qual as organizações brasileiras fazem parte. Até agora, o Data + Feminism Lab (Laboratório Dados + Feminismo) do MIT, que faz parte do projeto Dados Contra o Feminicídio, catalogou 178  iniciativas de ONGs, indivíduos, jornalistas, grupos de pesquisa, coletivos feministas e movimentos sociais que coletam dados sobre feminicídio ao redor do mundo, incluindo bases de dados específicas relacionadas a mulheres indígenas, mulheres negras e mulheres trans. Esses esforços utilizam ferramentas tecnológicas, como alertas automáticos e redes sociais, para obter dados e incidir publicamente em políticas públicas contra o feminicídio com base em evidências. 

As motivações para que essas dezenas de organizações e ativistas coletem dados, muitas vezes sem recursos e de forma autônoma, são diversas. Entre elas estão a falta de atenção e ação do governo em relação aos feminicídios, bem como iniciativas para lembrar a vida dessas vítimas e a busca por justiça pelas mulheres assassinadas.

Telia, da Lupa Feminista, relembra o caso de Daiane Griá Sales, uma jovem Kaigang que foi encontrada violentada sexualmente e assassinada no Rio Grande do Sul: “O maior desafio foi obter a qualificacão como feminicídio, pois a polícia insistia na tese do homicídio comum, fato que para nós estava relacionado com a desvalorização da vítima, uma jovem indígena”.

As motivações também envolvem a invisibilidade da temática perante a sociedade ou a ausência ou incompletude de dados oficiais. Em seus respectivos estados de atuação, as organizações colaboradoras no projeto Dados Contra o Feminicídio apontam diversos problemas com dados oficiais, inclusive no que tange à forma como agentes públicos avaliam e qualificam ou não casos de feminicídios. É o que diz Rose Marques ao recontar como o Fórum Cearense de Mulheres iniciou sua coleta de dados de feminicídio no Ceará: “Começamos a perceber a discrepância entre os dados oficiais de feminicídio e o volume de casos que apareciam nos jornais. Passamos, então, a analisar mensalmente os dados divulgados e buscar informações sobre as mortes de mulheres. Nessa busca, encontramos diversas situações em que o componente gênero não foi considerado, seja no feminicídio íntimo, seja com menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. 

Assim, o trabalho de algumas organizações, como da Lupa Feminista e do Fórum Cearense de Mulheres, além de analisar, é muitas vezes de reclassificar casos de homicídios coletados pelos estados, considerando a aplicação da Lei nº 13.104/2015 do feminicídio e suas diretrizes. Outras vezes, como faz o Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM) da Universidade Estadual de Londrina, liderado por Silvana Mariano, o trabalho das organizações é coletar dados que ainda não existem e não foram coletados e/ou disponibilizados pelo governo. Além disso, organizações como o Néias atuam no acompanhamento dos casos no judiciário, buscando sistematizar e dar visibilidade aos feminicídios acompanhados para que esse seguimento subsidie estratégias de monitoramento e prevenção da violência feminicida.

O monitoramento, acompanhamento e coleta de casos de feminicídios envolve um grande comprometimento de tempo e um intenso trabalho emocional das ativistas. Por vezes, as notícias de feminicídio contém imagens de violência impactantes com as quais as ativistas, em busca de evidências sobre os casos que coletam, deparam-se continuamente. Além disso, a busca por casos de feminicídios também envolve ler notícias sobre outros tipos de violência que usualmente são trazidos de maneira automática por alertas de notícias ou buscas online. 

Sobretudo, o trabalho de monitoramento é um trabalho majoritariamente voluntário em que as ativistas investem muitas horas de seu dia. Esse é o caso de ativistas não só no Brasil como ao redor do mundo. Por exemplo, María Salguero, no México, costumava dedicar em torno de três horas por dia à coleta de dados sobre feminicídio, conforme relata Catherine D’Ignazio no livro Counting Feminicide (Contando Feminicídio). 

Salguero criou o mapa Yo te Nombro: El Mapa de Los Feminicidios en Mexico e só em 2019 documentou cerca de 2,900 casos de feminicídio em todo o país, enquanto o governo mexicano registrou apenas 1,006. Similarmente, no Brasil, somente de janeiro até junho de 2023, o LESFEM identificou 862 casos de feminicídios em todo o país. Esse intenso trabalho emocional e comprometimento de tempo é uma das razões pelas quais o projeto Dados Contra o Feminicídio busca desenvolver, de maneira participativa, ferramentas digitais para apoiar o trabalho das ativistas.

Projeto Dados Contra o Feminicídio: Desenhando Coletivamente Ferramentas Tecnológicas Contra o Feminicídio no Brasil

É dentro desse contexto de mobilização contra a violência feminicida e de esforços de produção de dados de feminicídio ao redor do mundo que surge o projeto Dados Contra o Feminicídio. O projeto busca promover uma comunidade internacional em torno da produção e discussão desse tipo de dados, bem como apoiar esforços de monitoramento por meio do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que facilitem a coleta de dados sobre a violência letal de gênero. O projeto é liderado por quatro mulheres: a professora Catherine D’Ignazio (MIT), coordenadora do Data + Feminism Lab do MIT, a professora Isadora Cruxên (QMUL), afiliada ao Data + Feminism Lab, Silvana Fumega, diretora do Global Data Barometer e ex-diretora da Iniciativa Latinoamericana por los Datos Abiertos (ILDA) e Helena Suárez Val do Feminicidio Uruguay

Desde 2020, o projeto tem trabalhado com organizações de diferentes países das Américas, incluindo Estados Unidos, México, Argentina e Colômbia, no desenvolvimento de duas ferramentas digitais:  um marcador de dados sobre feminicídios em notícias de jornais online e uma plataforma de alerta de emails sobre feminicídio. O marcador é uma extensão para o navegador Chrome que permite destacar palavras de uma notícia que possam ser relevantes para o registro de casos de feminicídio, como lugares, nomes ou datas. 

A plataforma de e-mails permite o acompanhamento de notícias pré-filtradas por um algoritmo treinado para identificar notícias provavelmente relacionadas a feminicídio (leia no final deste texto mais informações sobre as ferramentas digitais). Ambas as ferramentas foram desenvolvidas de maneira co-participativa, inicialmente em inglês e espanhol. A partir de um processo de dois anos de colaboração com as organizações no Brasil, as ferramentas também estão disponíveis em português. Para Telia, uma das colaboradoras do projeto, “ter novas ferramentas digitais para coletar dados de feminicídio é a prática de ‘take back the tech’, usando a tecnologia em favor das mulheres, para salvar a vida delas”.

Esse processo de colaboração para desenvolvimento das ferramentas em português começou oficialmente em 2022, dividido em duas etapas. A primeira etapa consistiu  na catalogação coletiva de uma amostra de notícias de mídia em português, com o objetivo de treinar de forma participativa um algoritmo para identificar notícias com alta probabilidade de serem relacionadas a feminicídio. Durante três meses, as ativistas trabalharam em conjunto para categorizar se as notícias se relacionavam ou não a casos de feminicídio, debatendo ao longo do processo dúvidas ou diferenças de interpretação.

Esse processo foi fundamental para o desenvolvimento da plataforma de alertas por email em português. Também foi um momento importante de troca entre as colaboradoras do projeto. Para Silvana Mariano, do Lesfem, “as trocas com as companheiras nos permitiram participar da parceria com uma rede que desconhecíamos até então, apesar de atuarmos no mesmo campo”. 

Em fevereiro de 2023, teve início a segunda etapa do desenvolvimento das ferramentas para o português: um período de testes da plataforma. Por dois meses, as ativistas usaram ferramentas, avaliando seu funcionamento e compartilhando sugestões de melhoria por meio de questionários, reuniões de discussão e diálogo online. Essa etapa ajudou a identificar e resolver problemas no funcionamento da plataforma que pudessem dificultar o seu uso mais amplo no contexto brasileiro. Uma mudança, por exemplo, foi possibilitar a criação de projetos como escopo estadual ao invés de apenas nacional (como havia sido feito em outros países de menor dimensão populacional ou territorial). Esse ajuste é fundamental dado que vários grupos no Brasil monitoram feminicídios em escala subnacional. 

Esse processo também permitiu que as colaboradoras refletissem sobre sua participação no projeto.  Para Silvana Mariano, do Lesfem, “as trocas de experiências e as ferramentas digitais construídas contribuíram para ampliar nossos horizontes de investigação e de incidência política e para otimizar o tempo investido no aprofundamento e consolidação do trabalho”. Para Cecília França, do Néias, “a partir das ferramentas desenvolvidas pude refinar a busca de feminicídios, especialmente com o uso de palavras-chave adequadas, identificar um número maior de casos e ampliar a geolocalização do monitoramento. Tenho contabilizado os dados de todo o Paraná, com o intuito de lançarmos dados próprios no início de 2024, com uma leitura ampliada do que é feminicídio”. 

As conversas entre o grupo também possibilitaram o debate sobre o papel da tecnologia na coleta de dados e suas limitações. Se por um lado receber alertas pré-filtrados permite que o tempo e a carga emocional de buscar notícias relacionadas a feminicídio seja menor, já que não é necessário lidar com várias notícias de violência não relacionadas, a tecnologia não resolve tudo. O grupo entende, por exemplo, que a tecnologia não deve substituir o trabalho ativista de coleta de dados, pois assim impactaria diretamente em sua autonomia e auto-gerenciamento, fazendo com que ativistas de diferentes regiões ficassem dependentes de um ou outro modelo tecnológico que são também incompletos e podem falhar. 

Além disso, como discutido recentemente no evento Ativismo de Dados sobre Feminicídio no Brasil, organizado pelo grupo que assina este texto, devido ao viés da mídia, por vezes misógina e racista, os casos de feminicídios de mulheres indígenas, mulheres trans e mulheres racializadas são particularmente sub-representados nos jornais. Para a coleta desses casos, portanto, é melhor criar redes de relacionamento com essas comunidades para trazer à tona esses casos de feminicídio interseccional.

A colaboração para tecnologia nesse projeto, portanto, está inscrita em um contexto de ativismos e incidência política e social mais amplo das organizações que dele participam e que têm ação direta na realidade na qual atuam.

Ativismo de dados transformando a realidade social

Apesar da importância da produção de dados, as organizações entendem que números de feminicídio por si só não resolvem sozinhos o problema da violência contra as mulheres. Como observa Thaís Pereira Siqueira, da Lupa Feminista, “não são dados, são vidas de mulheres, arrancadas pela misoginia, machismo, patriarcado, racismo, lesbofobia e transfobia, impactando diretamente suas famílias, principalmente seus filhos”. Em paralelo, esses dados, sem a atuação política das organizações, também não incidem sobre as políticas públicas. É o que reforça Rose Marques, do Fórum Cearense de Mulheres, “o nosso trabalho com os dados é para dar suporte à nossa luta política, que acontece de outras formas, uma delas é através de mobilizações”. 

As organizações que colaboram no projeto, portanto, utilizam os dados coletados em diferentes momentos para fortalecer demandas relacionadas à justiça de gênero. Essas intervenções frequentemente envolvem a memorialização das vítimas e pedidos por justiça por meio de intervenções no espaço público.

Em março de 2022, como parte de atividades relacionadas ao Dia Internacional da Mulher, o Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina montou uma instalação no calçadão da cidade em memória das vítimas de feminicídio. A partir da integração com outros coletivos e conselhos locais de defesa dos direitos das meninas e mulheres, a associação buscou fugir do tom comemorativo da data para resgatar a memória de vítimas da violência letal de gênero, lembrando uma das faces mais cruéis de ser mulher em uma sociedade machista e misógina como a brasileira.

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Crédito: Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina, março de 2022.

Além disso, em 25 de novembro de 2021, no Rio Grande do Sul, a campanha do Levante Feminista Contra o Feminicídio organizou um ato pela vida das mulheres. Foi feita  uma caminhada do Tribunal de Justiça até o Palácio Piratini, onde foram lidos pela primeira vez os nomes das mulheres mortas no estado identificados pela Lupa Feminista. Ações como essa, implementadas pelo Levante Feminista no Rio Grande do Sul, ganharam enorme credibilidade por se ancorarem em dados produzidos por um observatório, a Lupa Feminista, o primeiro no país no escopo do Levante. Como resultado da coleta dessa organização, dossiês foram publicados e são hoje uma  referência para as ativistas, como o Dossiê Feminicídios no Rio Grande do Sul de 2022.

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Fotos do Levante Feminista Contra o Feminicídio no Rio Grande do Sul, novembro de 2021 | Crédito: reprodução.

A prática de organizar dossiês e relatórios com os dados coletados pelas organizações é compartilhada por outras organizações ao redor do mundo, incluindo as que colaboram neste projeto, como forma de visualização e análise dos dados coletados para a incidência política. Como exemplo, o Fórum Cearense de Mulheres publicou, em 2023, o dossiê “FCM/AMB 2023: Contra-dados sobre Feminicídios no Ceará” que foi apresentado em uma audiência pública da Comissão de Direito Humanos do estado do Ceará. O Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem) publica em relatórios seus dados de feminicídio, como o de 2023 em que apresenta as evidências dos 862 feminicídios ocorridos no primeiro semestre do ano em todo o Brasil.  

O GT FEM, neste relatório, apresenta os casos de feminicídio da Bahia de 2019 até setembro de 2022. O Néias também continuamente publica informes do seguimento de casos de feminicídios na justiça da comarca de Londrina buscando respostas do estado em relação à prevenção, punição e restituição de danos.

Os dossiês, as intervenções artísticas dessas organizações, bem como suas mobilizações e ações políticas e protestos, reverberam na conscientização da sociedade brasileira e também na construção de políticas públicas estatais de prevenção de feminicídios no Brasil. Essas ações acontecem em um cenário nacional em que a ausência e a incompletude de dados sobre feminicídios é a regra e em que a mídia reporta os casos de feminicídio de maneira tendenciosa, misógina e racista, por vezes culpando as vítimas. Além disso, ainda faltam ações estatais de justiça e prevenção à violência de gênero. Nesse contexto, as vozes e evidências baseadas em dados dessas e outras organizações brasileiras impactam significativamente a conscietização da sociedade e respostas governamentais sobre os feminicídios no país. 

Ferramentas digitais desenvolvidas com o projeto Dados Contra o Feminicídio

Marcador de Dados

O Marcador de Dados Contra o Feminicídio é uma extensão (ou plug-in) do navegador Chrome. Sua função é marcar palavras na página que servem para registrar casos, em particular nomes, lugares e datas, ou palavras selecionadas por cada pessoa que está coletando os casos. A extensão permite abrir um banco de dados lado a lado (ou superior / inferior) com o artigo em análise, para facilitar a entrada de dados. Ele também permite compartilhar o URL da página por e-mail. Funciona em espanhol, inglês e português e em qualquer página web, mas está otimizado para sites de notícias. Para instalar o Marcador de Dados Contra o Feminicídio, visite o Google Play.

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Plataforma de Alerta de Emails sobre Feminicídios

O sistema de Alertas de Email de Dados Contra o Feminicídio é uma ferramenta que combina um banco de dados de mídia, um algoritmo de aprendizado de máquina e alertas de email para relatar possíveis casos de feminicídio. Ele é semelhante ao Google Alertas, mas melhor. O sistema faz uma busca de notícias no banco de dados do MediaCloud, de acordo com os termos de busca e região determinados para cada projeto. 

O sistema filtra os resultados por meio de um algoritmo de aprendizado de máquina especificamente treinado para calcular a probabilidade de um artigo se referir a um caso de feminicídio e para agrupar artigos de diferentes fontes que se referem ao mesmo caso. Por fim, o sistema envia um email com os artigos relevantes, de acordo com uma frequência determinada por cada pessoa. O sistema MediaCloud permite visualizar as fontes e novas fontes relevantes podem ser adicionadas. Se você estiver interessada em usar o Alerta de Email de Dados Contra o Feminicídio, envie um e-mail para [email protected].

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Organizações colaborando no projeto Dados Contra o Feminicídio no Brasil

Fórum Cearense de Mulheres (FCM)

O Fórum Cearense de Mulheres/AMB é um movimento político feminista que luta contra o patriarcado heteronormativo, o racismo e o capitalismo. O FCM foi criado em 1994, por ocasião do processo preparatório para a Conferência de Beijing (Conferência de Mulheres da ONU, 1995), que deu origem à AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras e a diversos fóruns, redes e articulações estaduais de mulheres. No Ceará somos o agrupamento estadual da Articulação de Mulheres Brasileiras. A AMB é um movimento feminista de abrangência nacional, organizado em diversos estados e no Distrito Federal.

Site: https://instagram.com/forumcearensedemulheres 

Grupo de Trabalho sobre Feminicídio na Bahia (GT FEM)

Grupo autônomo, independente, de mulheres feministas e antirracistas, que se compromete com o estudo, o acompanhamento e a atuação política sobre a situação deste fenômeno no Estado da Bahia.  Somos mulheres com muitas e diversas experiências, conhecimentos, saberes e profissões. Desde o segundo semestre de 2019 vimos desenvolvendo estudos, pesquisas, debates públicos e outras ações, visando construir formas mais efetivas  de contribuir para a prevenção, detecção e visibilidade dos casos de feminicídio na Bahia.

Site: https://www.instagram.com/gt_fem/ 

Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM)

O LESFEM é um espaço de pesquisa e de extensão, de orientação feminista, sediado na Universidade Estadual de Londrina, que reúne pesquisadoras, estudantes, gestoras e ativistas de diversas instituições e áreas de formação. Iniciado em novembro de 2022, nosso objetivo é produzir e analisar dados sobre crimes de feminicídios, consumados e tentados, no Brasil, com a finalidade de contribuir para o monitoramento e visibilização do fenômeno e para a melhoria da qualidade das estatísticas oficiais e da resposta da sociedade e do Estado ao enfrentamento da violência contra mulheres e meninas. 

Site: https://sites.uel.br/lesfem/ 

Lupa Feminista contra o Feminicídio – Coletivo Feminino Plural
Observatório criado no contexto da campanha nacional Levante Feminista Contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio. Ferramenta de ativismo que objetiva se aprofundar sobre a situação dos feminicídios com enfoque de gênero, raça e etnia, identidade de gênero, orientação sexual e deficiência ocorridos no Rio Grande do Sul. Contém dados coletados no Observatório de Violência contra a Mulher da Secretaria de Segurança do RS, dados da Imprensa, informações trazidas por integrantes da Campanha e de fontes nacionais obtidas em pesquisas. Acompanha o caso da indígena Daiane Griá Sales, assassinada em agosto de 2021. Apoiada por aportes captados pelo Coletivo Feminino Plural.
Site: https://lupafeminista.org.br

Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina 

A associação Néias – Observatório de Feminicídios Londrina nasceu em abril de 2021 a partir da mobilização de mulheres feministas durante o julgamento do feminicídio tentado de Cidnéia Mariano. Ao longo de dois anos e meio de atuação, temos trabalhado para visibilizar casos de feminicídio julgados na Comarca de Londrina com o intuito de registrar na memória da cidade as histórias dessas mulheres, sobreviventes ou não, e cobrar políticas de prevenção e reparação às vítimas diretas e secundárias da violência feminicida. Também atuamos no controle social, a fim de aprimorar políticas já existentes, ampliar acessos e evitar revitimização. 

Site: www.observatorioneia.com

Data + Feminism Lab

O Data + Feminism Lab (Laboratório Dados + Feminismo)  usa dados e métodos computacionais para trabalhar em prol da justiça racial e de gênero, principalmente no que se refere a espaço e lugar. Nosso trabalho é baseado na abordagem interseccional delineada no livro Data Feminism. O Data + Feminism Lab situa-se no Departamento de Estudos e Planejamento Urbano do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é dirigido por Catherine D’Ignazio. 

Site: https://dataplusfeminism.mit.edu/ 

Dados Contra o Feminicídio

Dados Contra o Feminicídio é uma colaboração entre Isadora Cruxên (QMUL), Catherine D’Ignazio (Data + Feminism Lab do MIT), Silvana Fumega (ILDA) e Helena Suárez Val (Feminicidio Uruguay), que se uniram por meio de um interesse comum em dados de feminicídio. Em agosto de 2019, as três colaboradoras se reuniram para começar a promover uma comunidade internacional de prática em torno dos dados de feminicídio, desenvolver ferramentas para apoiar a coleta de dados sobre femicídios na mídia e apoiar esforços para padronizar a produção de dados sobre femicídios quando apropriado. O objetivo do projeto não é coletar ou agregar dados, mas apoiar práticas já existentes de ativistas em seus contextos.Site: https://datoscontrafeminicidio.net/pt/pagina-inicial/

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