Nesta sexta-feira (12), ciclistas e artistas ocupam as ruas em solidariedade à palhaça, migrante, e cicloviajante venezuelana Julieta Hernández, além de denunciar a barbárie, o feminicídio, a violência e o extermínio que as mulheres e população LGBT+ sofrem diariamente. Julieta foi assassinada enquanto pedalava de volta para a Venezuela. Além de atos nas cinco regiões do Brasil, também haverá bicicletadas em pelo menos outros dez países: Argentina, França, México, Uruguai, Chile, Portugal, Espanha, Colômbia, Estados Unidos e Holanda. Em algumas cidades, as manifestações vão ocorrer no fim de semana.

“Essa é a maior bicicletada simultânea no Brasil”, destaca, ao Catarinas, Theo Oliveira, integrante do grupo Circo di SóLadies | Nem SóLadies, que apoia os atos, organizados pelo perfil no Instagram “Bicicletada por Julieta”.

“Cada dia está chegando mais cidades. Para a gente que conhecia a Julieta, percebemos o quanto ela é gigante”, aponta Oliveira. “Cada cidade está pensando na sua forma de homenagear, algumas estão planejando levar mudas de plantas ou vender camisetas para arrecadar dinheiro para a família”, complementa.

Integrante da Rede Catarina de Palhaças, um dos grupos que organiza o ato em Florianópolis, Rhaisa Muniz, a palhaça Lynda Collapso, destaca que realizar o ato com canto, poesia, arte e palhaçaria é uma forma de perpetuar a história e legado de alegria, amor e coragem de Julieta.

“Sua brutal partida nos lembra que os índices de feminicídio são alarmantes no Brasil, e que precisamos nos unir e lutar pelo direito das mulheres cis, trans e pessoas não binárias, e gritar por ‘nenhuma a menos’, ‘Julieta Presente’ e ‘Miss Jujuba é semente de resistência’”, complementa.

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Crédito: reprodução Instagram.

Relembre o caso

Julieta, que era feminista, tinha 38 anos e veio ao Brasil em 2015 para estudar Teatro do Oprimido. Em 2019, começou a viajar de bicicleta, se apresentando como a palhaça “Miss Jujuba” por cidades de mais de nove estados brasileiros, do Norte e Nordeste. Esteve em diversas pequenas comunidades pelos interiores do Brasil, participou de encontros e festivais autogestionados e compartilhava seus saberes de maneira voluntária por onde passava.

“Julieta era uma artista independente que se conectava com todos os grupos possíveis. Ela construía sua história caminhando por aí”, conta Oliveira.

De acordo com a apuração do site Amazônia Real, em 16 de dezembro, Julieta fez sua última postagem no Instagram agradecendo o acolhimento em Manaus, mas sem citar o seu destino final, a cidade de Presidente Figueiredo. Ela viajou mais 125 quilômetros pela BR 174 (Manaus/Boa Vista (RR)).

Ainda, segundo o site, Julieta tentou pernoitar em duas pousadas, mas sem sucesso. Também não obteve apoio da rede de mulheres feministas e nem de ciclistas na cidade. A artista então seguiu para o Espaço Cultural Mestre Gato, no dia 21 de dezembro, local de apoio a viajantes da rodovia BR-174, que fica a 15 minutos a pé do centro da cidade.

Entre os dias 22 e 23 de dezembro, Hernández compartilhou em um grupo de WhatsApp que estava em Presidente Figueiredo. Nos dias seguintes, a falta de informações sobre Julieta preocupou amigos, que acionaram as autoridades. O corpo dela foi encontrado em 5 de janeiro, próximo ao espaço cultural no qual pernoitou. 

Segundo a polícia, há indícios de que antes de ser morta, Julieta foi estuprada e queimada. A causa oficial da morte ainda não foi identificada. O casal Thiago Agles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos, que estava abrigado no local há sete meses, confessou o crime. Os assassinos viviam com cinco filhos de até 6 anos, sendo dois bebês, todos em situação de vulnerabilidade. 

Em uma carta escrita pela irmã Sophia ‘La Roja’ Hernandez, e Nona e Vero, irmãs d’alma de Julieta, publicada no site Pluriverso, elas compartilharam que Julieta se comoveu com a situação dos filhos do casal e os ajudou.

“Num dia sombrio, em seu caminho ela encontrou cinco grandes razões para se martirizar, cinco crianças, crianças pobres. Os assassinos dela foram os monstruosos pais dessas criaturas. Com o último dinheiro que tinha, ela comprou leite para essas crianças e decidiu ir para a casa dessa família pobre e miserável”, escreveram.

No texto, elas contam que não foi a primeira vez em que a cicloviajante se comovia diante do sofrimento infantil e se disponibilizava para levar ao menos um pouco de alegria e amor. “Sua bondade e disposição para servir sempre foram sua forma de se relacionar. Julieta não acreditava em impossíveis, como acreditar neles se ela percorreu milhares de quilômetros com a força de suas pernas”, afirmam.

Grupos de amigues integrantes do Coletivo Julieta Presente também divulgaram uma carta em que destacam a vida e memória da cicloviajante. “Julieta era, e sempre será, uma das maiores referências de militância artística, humana, social e interdisciplinar que nosso continente pôde contemplar”, escreveram. O Coletivo lançou um vídeo de homenagem à palhaça:

Os amigues de Julieta organizam uma campanha de colaboração financeira para apoiar os familiares de Julieta. É possível doar pelo PayPal “[email protected]” ou pelo pix “[email protected]”.

Florianópolis

Em Florianópolis, o ato unificado ocorrerá no Largo da Alfândega. Ciclistas sairão da Pista de skate da Trindade às 19h e seguirão até o Trapiche da Beira-Mar, onde também haverá um ponto de encontro com mais bicicletas. Grupos também sairão pedalando, às 19h, do Posto Galo do Rio Tavares. Ambos os pedais seguem até o ato.

Não-ciclistas são convidados a estarem no Largo da Alfândega a partir das 19h, para concentração e produção de cartazes.

A organização para que participantes levem cartazes, maquiagem, nariz de palhaçe, peças roxas de roupa e velas.

Em Santa Catarina, também haverá atos em Blumenau (Parque Ramiro Ruediger, 19h), Chapecó (Ecoparque, 19h), Itapema (Rua 205, 19h30) e Joinville (Centreventos, 19h30).

Confira a agenda de bicicletadas

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