Há alguns anos, fiz uma publicação nas redes sociais sobre o Dia da Consciência Negra. Naquele momento, defini a palavra consciência segundo o dicionário e, tendo essa questão pacificada, defendi a normalização da existência da população negra no nosso dia a dia. No entanto, seguimos precisando lutar sobre esse mesmo assunto. Venho agora trazer um outro ponto de vista, talvez um “sacode”, referente a algo que ainda passa despercebido devido a tantos preconceitos e resistências.
Em uma ação de marketing, uma rede de shoppings de Santa Catarina mostrava três pessoas usando perucas blackpower, fazendo uma alusão ao termo black (negro, em inglês), para anunciar uma promoção. Mais uma forma de preconceito velada que percebemos todos os dias em diversas cidades do país, porém, desta vez busquei um caminho pelo qual pudesse fazer a rota deles mudarem: faturamento! Enviei um e-mail crítico à empresa.
Leia mais
- Ministério das Mulheres ou ministério do feminismo branco?
- Atena e Natasha: corpos trans a desafiar o poder na Câmara de Porto Alegre
- Mais de 100 mulheres debatem estratégias contra a violência política de gênero e raça em Brasília
- Por que precisamos de mais pessoas com deficiência na política?
- O que é heterossexualidade compulsória?
Sim, o poder aquisitivo e de consumo dessa população tão escantilhada movimenta no Brasil R$1,7 trilhões por ano. Em um contexto capitalista, tem que ser muito desprovido de inteligência para ignorar esses números. Existem pesquisas que mostram que o consumidor negro se dispõe a pagar 20% a mais em produtos com representatividade. Quando bradamos que a representatividade importa, que queremos “nos ver”, é pelo senso de pertencimento, de cuidado e pela certeza de que existimos para os olhos do mercado.
Outras pesquisas garantem, através de números, que empresas que diversificaram seus quadros, aumentando o número de mulheres, negros, LGBTQIA+, faturaram mais. Ter consciência não nos torna melhores quando não usamos esse saber para mudar o status quo. Ela realmente vai ser eficaz quando ativamente for usada para fazer a diferença. Fazer a verdadeira revolução que tanto almejamos há décadas.
Como estamos incluindo essa parcela, que representa 54% da população, nos anúncios de marketing? Quantos negros estão em diretorias de empresas? Quantas mentes negras estruturam as campanhas publicitárias? Quantos negros planejam o futuro desses negócios? De quantos empresários negros tu consome produtos? Onde a tua consciência está te levando? Para um caminho de igualdade ou para a manutenção de um apartheid gourmet?
Fica aqui o meu questionamento para que no Mês da Consciência tenhamos um olhar mais profundo sobre o consumo negro em nossas cidades.