Mais de cinco mil mulheres indígenas são esperadas, em Brasília, para uma marcha pela demarcação de terra, igualdade de gênero e preservação das culturas indígenas. A 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, que tem como tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, começou na segunda-feira (11) e termina na quarta (13) com a caminhada pelas ruas da capital federal. Promovido pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e pelas Mulheres Biomas do Brasil, o encontro terá participação de representantes de 12 países.

“São vários temas que estamos tratando aqui na 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, como mudança climáticas, violências contra mulheres, a demarcação dos nossos territórios, reflorestar mentes, a saúde e a educação”, relata Kerexu Yxapyry, secretária de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas do Ministério dos Povos Originários.

“Esse é um momento muito importante de organização do movimento de mulheres, a nossa pauta principal sempre foi a demarcação de terras indígenas e o combate à violência de gênero. A marcha vem para preparar essas mulheres, informar e reivindicar os seus direitos. Nesse processo, a gente reafirma nossa luta em todos esses contextos e a importância da mulher indígena de ocupar os espaços”, destaca Ingrid Sateré-Mawé, integrante da Anmiga e pré-candidata a vereadora de Florianópolis. 

Para a Ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, apesar dos desafios, hoje, as mulheres indígenas finalmente estão conseguindo ocupar espaços de poder. “Estamos muito conectadas, fazendo nosso trabalho com muita articulação porque nós queremos promover mudanças na sociedade e na institucionalidade. Mostrar que nós somos mulheres diversas. E é isso que o Brasil precisa compreender e aceitar: a entrada de nossos maracás nos espaços públicos e de poder!”, escreveu a ministra em uma rede social.

Líder da primeira pasta da história do Brasil que engloba esses povos, Guajajara participou junto de outras 500 mulheres indígenas de uma sessão solene na Câmara dos Deputados que homenageou a marcha na segunda (11). 

“A luta indígena é uma luta coletiva, que tem que ser de todas as pessoas. A nossa luta é civilizatória e humanitária. Não vai adiantar buscar altas tecnologias para conter a crise climática porque a solução para a crise climática está na demarcação dos nossos territórios. Demarcação Já. Marco temporal não!”, completou a ministra.

Também participaram da programação no Congresso, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, as deputadas federais Célia Xakriabá (Psol-MG),  Juliana Cardoso (PT-SP) e Erika Kokay (PT-DF), a representante da Anmiga, Braulina Baniwá, e as representantes de biomas Cristiane Pankararu, da Caatinga, Luzenira, do Cerrado, Regina Kaingang, do Pampa, Eliara Antunes, da Mata Atlântica, e Kuyayutxi Suya, da Amazônia.

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Crédito: Lula Marques/Agência Brasil.

A Anmiga recorda que a dívida da sociedade com os povos indígenas é histórica. “Sabemos que não será fácil superar 523 anos em quatro. Mas estamos dispostas a fazer desse momento a grande retomada da força ancestral da alma e espírito brasileiros. Isso só será possível se tivermos ao nosso lado mães, anciãs, caciques e lideranças homens colaborando com o avanço no diálogo coletivo em prol do bem maior. Nossos maiores inimigos são as leis que não reconhecem nossa diversidade e nossa existência”, destaca a Anmiga.

As mulheres indígenas enfrentaram inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas. Na marcha e na luta histórica, elas exigem acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas, além de lutar pela proteção da terra e recursos naturais. Ainda defendem o fim da violência contra as mulheres indígenas, um problema generalizado que atinge as comunidades há gerações, desde a invasão do Brasil.

Um dos pontos centrais é pela demarcação das terras indígenas e contra o marco temporal, que quer restringir as terras indígenas àquelas que estivessem ocupadas ou em disputa em 5 de outubro de 1988, dia da promulgação da Constituição Federal. A disputa da Terra Indígena Ibirama-Lakaño, de Santa Catarina, no Supremo Tribunal Federal (STF) irá impactar demarcações em todo o país, como o resultado terá repercussão geral. 

“As mulheres de Santa Catarina também estão aqui participando deste momento importante, das mesas, das plenárias e de audiências externas, para levar as demandas de seus territórios, por exemplo, para o Congresso Nacional e para o STF”, ressalta Kerexu, liderança da Terra Indígena Morro dos Cavalos.

Marcha internacional

Além da participação de mulheres indígenas de todo o Brasil, também estão presentes representantes de 12 países, como Jannie Lasimbang (Malásia), Helena Steenkamp (África do Sul), Margaret Lomonyang (Uganda), Rosangela Gonzalez (EUA), Julieta Maquera Llanqui (Peru), Jennifer Koinante (Quênia), Tuana Jakicevich (Nova Zelândia), Suscita Chakma (Bangladesh), Maria Danilova (Rússia), Natália Izhenbina (Rússia), Meiliana Yumi (Indonésia), Sônia Marina Gutiérrez Raguay (Guatemala) e Pirita Näkkäjärvi (Finlândia), mostra a importância do movimento das mulheres indígenas em uma escala global.

A diversidade de participantes destaca a universalidade das questões enfrentadas pelas mulheres indígenas, como o acesso à terra, a violência de gênero, a discriminação e a luta pela autonomia e empoderamento. Através da marcha, essas mulheres têm a oportunidade de compartilhar suas histórias, trocar experiências e fortalecer a solidariedade entre os povos indígenas.

“Essa troca de vivências, de experiências, de articulações, de ocupar lugares de poder no Estado, é um momento muito importante porque nós compartilhamos como foi o processo para chegarmos a ter nosso ministério e nossa ministra e também ocupar esses lugares como deputadas, vereadoras e secretarias”, exemplifica Sateré-Mawé.

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Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil.

História

A primeira marcha ocorreu em 2019 com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito” e reuniu mais de duas mil mulheres de todos os biomas. A 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas mostrou o avanço das mulheres indígenas e reuniu cerca de 5 mil mulheres de mais de 150 povos indígenas de todos os biomas do Brasil em 2021. O evento teve como tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da terra”. 

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2ª Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília-DF | Crédito: @derivajornalismo

O ano de 2023 marca a continuação da luta contra garimpo ilegal e pela formação política de representação nos espaços de poder. Para a organização, os trabalhos em prol da vida das mulheres são urgentes e emergentes. Setembro é considerado o mês da luta e resistência, por isso as mulheres indígenas querem se conectar e reconectar com a potencialidade das vozes das ancestralidades que são as sementes da terra que compõem a rede Anmiga. 

“Será um momento de fortalecimento das mulheres indígenas que estão com o corpo território em movimento, se propondo a novos diálogos e projetos para o Brasil, a partir das suas lutas e vozes”, aponta a organização.

Programação da quarta-feira

8h – 3ª Marcha das Mulheres Indígenas: Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais.

14h – Diálogo com as Ministras sobre a Carta que foi entregue na Pré marcha: “Vozes da Ancestralidade dos 6 biomas do Brasil”.

16h – Leitura do documento final das originárias.

18h – Show de encerramento com as artistas indígenas Mulheres e convidadas: A Cura Do Mundo Somos Nós.

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  • Daniela Valenga

    Jornalista dedicada à promoção da igualdade de gênero para meninas e mulheres. Atuou como Visitante Voluntária no Instit...

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