Festival WOW tem mais de 40 horas de programação para mulheres no Rio de Janeiro
Com curadoria da Redes da Maré, programação gratuita conta com oficinas, rodas de conversa e apresentações artísticas
Política na cozinha e (in)segurança alimentar. Acolhimento de mulheres em contextos de favelas. Violência e segurança pública. Narrativas sobre justiça reprodutiva. Cuidado como ação política. Esses são alguns dos temas que serão discutidos durante as mais de 40 horas de programação da edição latina do Festival Mulheres do Mundo – WOW. O evento será realizado entre os dias 27 e 29 de outubro na Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro.
Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados on-line, de forma antecipada – algumas atividades têm vagas limitadas. Acesse a bilheteria digital.
Organizado por Redes da Maré e Fundação WOW – sigla para Women of the World, ou, em português, Mulheres do Mundo – o evento terá ainda atrações culturais, como shows de Alcione, Marina Sena, MC Carol e Majur. Personalidades como a escritora Conceição Evaristo e a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco também estarão presentes. Confira a programação completa.
“O Festival WOW é para todo mundo que entende a experiência de ser mulher como diversa e plural, para quem acredita na centralidade das mulheres nos processos de transformações do mundo”, descreve Eliana Sousa Silva, fundadora e diretora da Redes da Maré e curadora do Festival Mulheres do Mundo.
Ela convida quem quer refletir sobre questões sociais que impactam a vida das mulheres brasileiras, além de conhecer companheiras de todo o Brasil, a acompanhar o evento e “apoiar a consolidação de uma agenda para uma cidade mais justa, menos violenta, especialmente, para mulheres que vivem em favelas e periferias”.
Um festival organizado por mulheres da favela
A Redes da Maré, responsável pelo Festival WOW no Rio de Janeiro, é uma organização da sociedade civil que trabalha para efetivar os direitos da população do conjunto de 16 favelas da Maré, onde residem mais de 140 mil pessoas – as mulheres são maioria, 51%.
“As vivências das mulheres que moram em favelas estão na centralidade de toda a construção do Festival Mulheres do Mundo. Todos os temas destacados na edição têm como ponto de partida as experiências plurais de mulheres que vivem em favelas e periferias”, aponta Eliana Sousa Silva.
“Temos a presença de mais de 70 mulheres moradoras das favelas da Maré nos diálogos, na produção, nas monitorias, na barraca das feiras, no ativismo. Falo aqui das favelas da Maré, mas temos convidadas de muitas outras favelas e territórios periféricos do Rio de Janeiro e do Brasil”, comenta a curadora.
Entre as atividades programadas estão, por exemplo, as rodas de conversas “Mulheres, raça e violência estatal” e “Violência e segurança pública”. “O objetivo é ouvir mulheres que atuam diariamente por uma segurança pública que possa se efetivar como direito humano para moradoras e moradores de favelas. Convidamos este ano a Assa Traoré, uma ativista francesa, figura da luta contra a violência policial na França. Ela vai trocar conosco a partir de um outro contexto para pensarmos em agendas comuns.”
Desafios
A curadora ressalta o desafio de produzir o evento em meio à violência policial que assola o Rio de Janeiro, conforme vêm denunciando defensoras e defensores de direitos humanos.
“Foram sete dias de operações policiais na Maré desde a semana passada, e não sabemos como vai ser durante o Festival. Sete dias de operações são sete dias com escolas fechadas, com unidades de saúde fechadas, com moradores e moradores ansiosos e preocupados. Um momento que exige muita articulação para prevenir e reduzir os danos humanos, sociais, econômicos trazidos pelas intervenções policiais”, lamenta Silva.
Segundo a Redes da Maré, são 120 mil moradores impactados direta ou indiretamente pelas ações policiais. Entre eles, estudantes de 44 escolas que tiveram as aulas suspensas. A ONG também registrou policiais sem identificação e sem câmeras nos uniformes, em desacordo com a legislação.
Catarinas na programação
Aborto legal e justiça reprodutiva são agendas importantes para esta edição do Festival. Serão cinco mesas, quatro oficinas, um fórum e uma troca de experiências sobre o tema, com convidadas de diversos países da América Latina.
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Entre as atividades, está uma roda de conversa integrada por duas jornalistas do Portal Catarinas: Paula Guimarães e Morgani Guzzo. Também participam da roda, intitulada “Narrativas sobre justiça reprodutiva”, Aline Araújo, do Grupo Curumim; Nara Menezes, da Anis – Instituto de Bioética; Laura Molinari, da Campanha Nem Presa Nem Morta; Leina Peres, da Rede Feminista de Saúde; e Letícia Rocha, das Católicas Pelo Direito de Decidir.
Na sexta-feira (27), a partir das 18h, na sala 2.4 da Escola do Olhar – Mar, a partir de suas experiências no campo da comunicação, as participantes trarão aprendizados e reflexões sobre como diversificar abordagens e construir narrativas inovadoras sobre aborto (reserve o ingresso aqui).
Outras atividades sobre saúde sexual e reprodutiva:
Roda de conversa “Cuidado de mulheres sem suas decisões reprodutivas”, na sexta (27), às 10h30, no Observatório do Museu do Amanhã, com Lídia Zurbriggen (Argentina), Paula Viana (Brasil), Sarahí Maldonado (Ecuador), Sandra Vazquez (Argentina), Sriya Sharbojoya (Bangladesh) e mediação de Andreza Dionísio (ingresso aqui).
Roda de conversa “Evidências e barreiras de acesso ao aborto legal no país”, no sábado (28), às 10h30, na sala 2.2 da Escola do Olhar – Mar, com Miriam Krenzinger, Rebeca Mendes, Ilana Ambrogi e mediação de Luciana Brito (ingresso aqui).
Roda de conversa “Outras formas de falar sobre aborto”, no sábado (28), às 14h, no observatório do Museu do Amanhã, com Letícia Rocha, Priscila Barbosa, Beatriz Lago, Gabriela Gianinni e mediação de Carla de Castro Gomes (ingresso aqui).
Oficina “Slam por justiça reprodutiva”, no sábado (28), às 14h, no Pilotis – Mar, com Cepia – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (sem agendamento prévio).
Fórum de vivência sobre “O papel do ativismo na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos n Brasil, na América Latina e Caribe”, no sábado (28), às 18h, no auditório da Escola do Olhar – Mar, com participação de Laura Molinari, Neesa Medina (Honduras), Aidé García Hernández (México), Sandra Mazo (Colômbia) e mediação de Luna Borges (ingresso aqui).
Troca de experiências “Direitos das mulheres e saúde”, no sábado (28), às 18h, na sala 2.3 da Escola do Olhar – Mar, com Nathália Cardoso, Luana Aruantes, Ilana Ambrogi e Andreza Dionísio e mediação de Mariane Marçal (ingresso aqui).
Oficina “Bordando pañuelos”, no domingo (29), às 10h30, no Pilotis – Mar, com Marina Bittencourt, Ana Luiza Nigri e Veracilda Sales (sem agendamento prévio).
Oficina “Combatendo a pobreza menstrual”, no domingo (29), às 10h30, no Armazém 1B, com Ab.Ecos – Absorvente Reutilizável (sem agendamento prévio).
Oficina “Direitos sexuais e justiça reprodutiva: construção de redes pelas vidas das mulheres, meninas e pessoas que gestam”, no domingo (29), às 14h, no Armazém 1B, com a Rede de Assistentes Sociais pelo Direito de Decidir (sem agendamento prévio).
Roda de conversa “A ADPF 442: direitos fundamentais violados e o debate sobre justiça reprodutiva e direito ao aborto”, no domingo (29), às 18h, na sala 2.2 da Escola do Olhar – Mar, com Luciana Boiteux, Sandra Mazo e Mariana Prandini, e mediação de Gabriela Rondon (ingresso aqui).
Histórico
Os objetivos do Festival WOW são proporcionar a reflexão, fomentar o debate e a conexão entre diferentes mulheres e realidades, celebrar as conquistas das mulheres e exaltar os progressos que as mulheres vêm alcançando, seja coletiva ou individualmente.
A Fundação WOW produz festivais com esse formato em todo o mundo, buscando gerar diálogo sobre questões enfrentadas por meninas, mulheres e pessoas não binárias, além de explorar possíveis causas e soluções. O festival já ocorreu em 54 cidades de 23 países e 5 continentes.
Em 2016, Jude Kelly, fundadora da Fundação WOW, conheceu a Casa das Mulheres da Maré, um espaço dedicado a estimular o protagonismo político de meninas e mulheres. A partir do encontro, propôs à Redes da Maré a realização de uma edição do WOW Festival na América Latina, no Rio de Janeiro.
A primeira edição ocorreu em 2018. “Foi logo depois das eleições que levaram o Bolsonaro ao governo – um momento de muitas incertezas e susto”, diz Silva.
Naquele ano, o WOW promoveu três dias de atividades no Museu de Arte do Rio (MAR), no Museu do Amanhã e no Armazém 1, além de um palco montado ao ar livre. Foram mais de 90 mil participantes – e são esperados mais de 100 mil para esta terceira edição. Saiba mais sobre a segunda edição, realizada on-line em 2020.
Serviço
O quê: Festival Mulheres do Mundo – WOW
Quando: 27, 28 e 29 de outubro
Onde: Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro
Quanto: gratuito
Programação: Clique aqui e confira