Reportagem vai abordar o silêncio sobre o aborto clandestino
Será por que posicionar-se pelos direitos das mulheres não interessa a uma sociedade pautada pelos valores de uma moral discriminatória?
A primeira reportagem das Catarinas vai tratar de aborto clandestino, prática a qual recorrem mais de 800 mil mulheres das mais diversas camadas sociais, anualmente no Brasil. Somente para as mais pobres, o aborto é inseguro. Mesmo sendo considerado uma questão de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e sua legalização uma pauta relacionada aos direitos das mulheres pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil e outros países do hemisfério sul insistem em criminalizá-lo.
A criminalização da interrupção da gravidez em países chamados “em desenvolvimento”, como o Brasil, é um indicativo do não reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos – situados no campo dos direitos humanos das mulheres – garantidos em tratados internacionais dos quais o país é signatário.
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Entrevistamos cinco mulheres catarinenses que fizeram aborto em condições inseguras e especialistas das mais diversas áreas na tentativa de estabelecer um debate ético sobre o aborto na sociedade, distante de paixões dogmáticas. Divergências nas falas de autoridades revelam a insegurança jurídica que causa confundir a porta do hospital com a prisão.
O medo de falar sobre o tema, o silenciamento, a dificuldade em coletar dados e a demora em obtê-los demonstram o quanto as autoridades preferem deixar a discussão engavetada e na qualidade de tabu.
Será por que posicionar-se pelos direitos das mulheres não interessa a uma sociedade pautada pelos valores de uma moral discriminatória?
Em uma entrevistada aprofundada, Rosângela Talib, coordenadora da organização latino-americana, Católicas Pelo Direito de Decidir, fala sobre a construção do controle do corpo das mulheres pelas religiões e sua relação com a valoração do feto – um ser humano em potencial – pela sociedade, em detrimento daquele que o é de fato.
Também em entrevista, Eloísa Machado, advogada e mestre em política constitucional, trata da inconstitucionalidade da criminalização da prática e do desrespeito, pelo Estado brasileiro, ao direito à autonomia da mulher, valor fundamental para a garantia do que se entende por “ser humano”.
A reportagem interativa será apresentada na segunda quinzena de agosto.
Arte em destaque cedida pela artista Paula Schlindwein.