Essa é a segunda edição do Conversa Avessa, uma publicação que une poema, artes visuais e ativismo para abordar práticas cotidianas que retroalimentam a violência contra as mulheres. Foi construído a partir de um chamado feito pela Abrasabarca a poetas e artistas visuais.

Cali Ossani, Érica Milani Dellai, Larissa Neves Ferreira e Yandara de Moura são as artistas convidadas desta segunda edição do Conversa Avessa, suplemento mensal sobre violência de gênero organizado pela coletiva Abrasabarca, e publicado pelo Portal Catarinas.

Leia a primeira edição!

Nesta publicação, o Conversa Avessa traz o poema em prosa de Larissa Neves Ferreira “Quem vê close não vê corte”, no qual a escritora aborda o abafamento da expressão cultural LGBTQI+ diante dos padrões de comportamento forjados pela normativa heterossexual.

LEIA O SUPLEMENTO!

“Eu encaro a diversidade sexual como algo muito além de quem beijamos e nossas genitálias. Vejo na cultura LGBTQI+ tamanha complexidade estética que, na minha humilde opinião, não é nem um pouco comum ao universo heterossexual. A riqueza de detalhes, a corporalidade, nossos códigos linguísticos, nossos usos múltiplos dos sentidos… eu sinceramente não acredito que somos historicamente oprimidos por um grupo social que trepa em 15 minutos!”, escreve Larissa Neves em sua prosa.

Já no “Poemafeitiço – eu te quebro, caixa de joias”, Cali Ossani reflete sobre o adestramento social ao qual as mulheres são submetidas, e a exclusão das pessoas que não se encaixam nos lugares tradicionais de macho e fêmea. “[…] sempre trans-multi-renascido mais que fêmea uma blasfêmea”, diz trecho do poema.

A publicação conta ainda com as obras visuais de Erica Milani Dellai e Yandara de Moura.

A chamada para as obras que serão compiladas também para as próximas edições envolveu 16 artistas, entre poetas e artistas visuais. O projeto e edição gráficos são de elaboração da Abrasabarca. “Nosso compromisso foi ler, reler, acolher, refletir, sentir, conversar, deixar no forno quente… para então tecer outras aproximações entre os materiais recebidos de modo a fazer ressoar os impactos e os afetos, neles, em nós e, agora, assim desejamos, em vocês”, explicam as integrantes da Abrasabarca na apresentação do suplemento.

Conheça as artistas convidadas:

Cali Ossani é uma ficção que produz narrativas e anti-narrativas nas áreas da performance, do teatro, das artes visuais e da escrita literária. Investiga o hibridismo das linguagens artísticas e a diluição das fronteiras nos territórios de gênero e sexualidade, sendo esta uma prática artística, política e pessoal. Formou-se em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná e, desde então, aliou-se a vários coletivos artísticos da cidade de Curitiba, como a Companhia de Investigação Cênica Heliogábalus e a Coletiva Batalha Histérica de Levante. Faz do seu corpo transmutante manifesto vivo e obra em construção e, do substrato dessa vivência, produz sua arte.

Érica Milani Dellai é natural do Oeste catarinense, mas mora na Ilha desde que se lembra por gente. Aquariana com ascendente em peixes, está sempre perdida em outra dimensão. É também graduanda em Letras Português (UFSC) e vê na colagem uma forma de criar o impossível.

Larissa Neves Ferreira é educadora, artivista, milituda, sapatão, pelas mãos de Oyá. Gosta de contar causos, às vezes escreve poemas. Um pé na música e outro nas artes visuais. Uma das “prô” do Projeto “Cartas de Duda e Lali”.

Yandara de Moura, além de artista plástica autodidata, busca a expressão no audiovisual com vídeos de curta metragem e animações. Tanto na pintura como em outras expressões, explora sua visão com cenários que fazem parte das mudanças em sua vida, variando entre paisagens extremamente urbanas até cenários bucólicos que fazem referência a sua vivência no interior.

POÉTICAS DA CONVIVÊNCIA

A parceria entre Abrasabarca e Portal Catarinas começou há quatro meses com a série “Poéticas da convivência” que integra poemas sobre a rotina e reflexões suscitadas pelo isolamento social. A ideia de elaborar um suplemento inicialmente sobre a violência doméstica por meio da linguagem poética foi motivada pelo aumento da vulnerabilidade das mulheres durante a quarentena.

“A nossa dinâmica de criação passa pela escuta, pergunta lançada, saraus públicos em comunidades. A coletiva tem essa caraterística de agregar, compartilhar, e o exercício da poesia, escrita, passa por isso, então tem muito a ver com o que acreditamos, esse é mais um espaço para escuta, assim como a série Poéticas da Convivência”, afirma Lu Tiscoski, também da coletiva.

O monitoramento nacional da violência doméstica feito colaborativamente entre o Portal Catarinas em parceria com quatro mídias independentes também contribuiu para expandir o tema à narrativa poética.

A Abarsabarca surgiu de reuniões informais para ler poesias entre colegas da pós-graduação em Literatura da UFSC. Desde 2015, essas mulheres se integram na coletiva, articulando saraus, produção de publicações, como o “Abrasabarca”, em 2018, e o “Revoluta”, em 2019, além da participação no programa Quinta Maldita que promove saraus e outras ações culturais. Leia as colunas dessas poetas no Catarinas.

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