Nesta semana, o Portal Catarinas fez uma chamada às candidaturas feministas de Santa Catarina, voltadas especificamente às candidatas mulheres cis e trans. A ideia é mapear essas candidaturas feministas do estado e gerar maior visibilidade para suas propostas. O mapeamento acontece a partir do preenchimento do formulário pelas candidatas. As respostas serão publicadas na íntegra por ordem de envio.

A primeira a responder o formulário é Sayonara de Araújo Pessoa, candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Mulher cis*, heterossexual e branca, Sayonara tem 47 anos. É integrante do Coletivo Feminista Filhas da Luta em Araranguá e atua como advogada, assistente social e professora.

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Catarinas: Conte um pouco sobre sua trajetória de vida/militância e quais motivações a levaram a disputar essas eleições.
Sayonara: Atuante desde a juventude nos movimentos comunitários. Presidente de Centro Acadêmico, junto ao Diretório Catarinense dos Estudantes (DCE) formei minha visão de mundo por lutar na defesa das minorias. Para uma sociedade ser justa, devemos diminuir a desigualdade social que aumenta a pobreza. Atuei como gerente de política para mulheres na Cidade de Criciúma, construí a saúde pública nessa cidade, também na atuação como assistente social. Minha experiência na área de gestão e planejamento de políticas públicas me levaram a ser subsecretaria de Políticas Públicas para drogas no campo da prevenção e do tratamento. Professora universitária por 10 anos de ética e filosofia. Advogada ativista na defesa dos direitos humanos, direitos das mulheres, hoje, presido o Conselho Municipal de Drogas e a Comissão de Direitos Humanos da OAB de Araranguá, cidade onde resido. Atuo em movimento coletivos feministas e em projetos de emancipação da mulher na área da geração de renda.

Catarinas: Qual a importância de se eleger mulheres feministas em 2018?
Sayonara: Além da representatividade, que coloco como a importância de elegermos mais mulheres, o comprometimento destas com a pauta feminista é indispensável no combate, resistência e oposição ao conservadorismo. Combate e resistência nas pautas por eles propostas e que afetam direitos das mulheres (tanto em questões de igualdade material quanto sobre liberdades). Oposição para caminhar e apresentar projetos que garantam mais direitos às mulheres.

Catarinas: Quais as principais questões a superar hoje em relação à desigualdade entre homens e mulheres? E quais suas propostas para isso?
Sayonara: Em uma sociedade patriarcal, machista e misógina, é necessário compreender a complexidade e pluralidade do que culturalmente nós é imposto. Neste contexto, gostaria de elencar quatro frentes: política, inclusão e desenvolvimento econômico, saúde e violência.
– Fortalecer projetos de formação política de mulheres, e o incentivo a suas candidaturas (com o real apoio, estrutural e financeiro).
– Estimular a autonomia econômica de mulheres, por meio de projetos que incluam assistência técnica, acesso a crédito e apoio ao empreendedorismo com fomento à prática de economia solidária.
– Em Santa Catarina, temos a lei que dispõe sobre violência obstétrica. A candidata se compromete a lutar pelo parto humanizado na saúde PÚBLICA, e a fiscalização do cumprimento da lei citada para a erradicação desta violência.
– Propor atendimento às mulheres com sofrimento ou transtorno mental, incluindo as necessidades decorrentes do uso problemático de álcool ou outras drogas, por meio de CAPS – Centro de Atenção Psicossocial.
– Propor a criação regionalizada da Casa da Mulher, centro de assistência e acolhimento multidisciplinar para vítimas de violência doméstica.

Catarinas: Como pretende atender às diferentes especificidades das mulheres, contemplando em seus projetos as mulheres negras, indígenas, lésbicas e mulheres trans?
Sayonara: Defender todo projeto que contemple a dignidade da pessoa humana. Na saúde combater a discriminação e que mulheres negras sejam atendidas em suas especificidades. Na questão indígena, respeitar a cultura que contemple o uso das plantas medicinais. Mulheres trans é o respeito ao nome social. Muitas vezes, isso não é respeitado no atendimento na saúde, por exemplo. Na saúde necessitamos de projetos que discutam racismo no atendimento, assim, como na educação, para que não hajam formas discriminatórias.

Catarinas: Santa Catarina é o segundo estado do País com maior número de estupro, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com o mesmo relatório, em 2017, foram registrados 48 feminicídios. Como pretende atuar para a redução da violência contra as mulheres em SC?
Sayonara: Lutar pela implantação do projeto Casa da Mulher em SC nos moldes que foi implantado em Brasília, a qual pude conhecer de perto. Lutar para que se tenha recursos no orçamento para formação e concurso para que se aumente o número de profissionais para atendimento humanizado nas delegacias de mulheres, e que esse atendimento seja feito por mulheres. Bem como termos delegacias de mulheres 24 horas.

Catarinas: Quais resistências vêm enfrentando em sua campanha e quais imagina enfrentar se for eleita para um cargo de poder tradicionalmente ocupado por homens, brancos heterossexuais?
Sayonara: A candidatura foi construída coletivamente. E isto tem sua parte boa e ruim. O coletivo fortalece a democracia, e a ideia de que uma representante no legislativo não representa sua individualidade, mas uma história, um projeto de ter políticas emancipatórias para as mulheres.

Catarinas: Enquanto uma candidata feminista como pretende atuar de forma a enfrentar os discursos reacionários que acreditam na existência de uma “ideologia de gênero” e que não admitem que as mulheres tenham autonomia plena sobre seus corpos, incluindo aí a pauta pela descriminalização do aborto?
Sayonara: Trabalho com saúde pública faz 26 anos e tenho consciência de que a legalização e descriminalização do aborto devem ser enfrentadas com projetos de aborto seguro nos hospitais públicos e atendimento humanizado, além de educação sexual nas escolas.

Catarinas: Quais pautas são prioritárias na sua plataforma de campanha?
Sayonara: Saúde Pública; Direito das mulheres e Direitos humanos.

* Cis caracteriza a pessoa cuja identidade de gênero é a mesma designada no nascimento.

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