A cada três dias, o Disque 100 (canal de denúncias de violação de direitos humanos) recebe uma denúncia de preconceito religioso. De cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras, segundo o Atlas da Violência. O país lidera as estatísticas de mortes da comunidade LGBT. As mulheres são as maiores vítimas da intolerância. Em 2018, 11 foram assassinadas por dia, dados oficiais de crimes de ódio motivados pela condição de gênero. Isso sem falar dos crimes de violência sexual e assédio; 88% das menções às mulheres nas redes sociais brasileiras são negativas.

Este ano, em Santa Catarina, já são mais de 50 mulheres vítimas de feminicídio. É um número assustador, porque, em geral, o agressor é alguém do convívio da vítima, que ainda mantém laços, alguma proximidade. Dentre estes crimes, há vários cuja justificativa para a morte foi a não aceitação do fim do relacionamento. Alguém perde um relacionamento e mata a outra pessoa, nestes casos, simplesmente porque é uma mulher, mais fácil de ser subjugada, ou porque se sente no direito de tirar a vida que considerava sua propriedade. Que sociedade é essa que cria este tipo de pensamento?

Precisamos fazer algo, em qualquer esfera, em qualquer dimensão, algo que faça um alerta ou salve uma vida. Por isso, lançamos uma Frente Parlamentar Pela Educação e o Não Preconceito. Esperamos com ela instituir uma corrente de pensamento interdisciplinar nas escolas para encarar a vida sem preconceitos. Esse trabalho já começou, livrando o conteúdo de influências do que chamam de direita e esquerda; precisamos, antes de tudo, formar cidadãos que pensem pelas suas próprias cabeças. As universidades de Santa Catarina serão responsáveis por construir este conteúdo.

Meus amigos! Vivemos um momento histórico, em que a intolerância e o discurso de ódio encontram cada vez mais adeptos. Mas não foi a internet que nos tornou preconceituosos. Essa hiperconectividade apenas amplificou os discursos de ódio que já praticávamos. No fundo, nas redes ou nas ruas, as pessoas são as mesmas. O que tem estimulado a exposição de muitos é a possibilidade de emitir opiniões sob o manto de um suposto anonimato, atrás da tela de um computador ou celular.

Mas o que podemos fazer para mudar essa realidade? Temos como algoz de nós mesmos a semente da história amparada em costumes seculares, a qual permitimos que germine. Precisamos abandonar estigmas e preconceitos que já não servem mais, o que só será possível por intermédio de uma construção coletiva e robusta por meio da educação. Que seja tão densa, de modo a fazer com que conceitos de cidadania e do não preconceito ultrapassem os muros das escolas, e tomem praças, igrejas, lares.

Uma pesquisa realizada pelo INEP mostrou que 93,3% dos entrevistados possuem algum tipo de preconceito racial, socioeconômico, de gênero, orientação sexual ou territorial. Os entrevistados? Pais, educadores e estudantes, de 500 escolas de todo o Brasil.  Nossa Nação, tão imponente, tão magnífica, não merece entregar para as futuras gerações esse estigma.

De minha parte, tenho a oferecer meu trabalho, minha história de luta contra os preconceitos e a vontade de construir um mundo no qual não sejamos definidos por uma roupa, pela cor da pele, orientações sexuais ou religião. Está na hora de tomar medidas definitivas para mudar. E a hora é agora!

*Ana Paula da Silva é deputada estadual de Santa Catarina pelo PDT.

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