Campanha “Nem Pense em Me Matar” foi apresentada no sábado, 24, com presença de representantes de vários movimentos sociais do estado

Por Laura Sfreddo*.

O Levante Feminista contra o Feminicídio, frente suprapartidária que nasceu para se posicionar diante desta violência fatal, denunciando a omissão do Estado e exigindo a proteção da vida das mulheres cis e trans, continua em ação nacional e, no sábado, 24, lançou a campanha “Nem Pense em Me Matar” em Santa Catarina. O evento foi transmitido nas páginas do Levante em SC e da Campanha Nacional.

A mediação do lançamento foi feita por Cirene Cândido, integrante da Frente Feminista 8M SC e do Coletivo Levante Nacional e de Santa Catarina, e Fafá Capela, presidenta da União Brasileira de Mulheres em Florianópolis. Mulheres de diversos movimentos sociais participaram da transmissão online, que foi marcada pela pluralidade de vozes. Quatro intérpretes de libras se revezaram garantindo acessibilidade às pessoas surdas, são elas: Shelly Botelho, Gizelly, Lê da Silva e Carina Schoulten. Além disso, Ligia Antunes de Siqueira, integrante do 8M SC, do Coletivo de Pernaltas e do Levante Feminista, e Malu Mendes, psicóloga, também ativista no 8M SC e na Resistência Feminista de Santa Catarina, atuaram nos bastidores da live.

Antes das falas, as vítimas da Covid-19 no Brasil foram homenageadas com um minuto de silêncio. “A gente sabe que a grande maioria dessas mortes poderia ter sido evitada. Falta governo, políticas públicas e vacinas”, evidenciou Fafá. Em seguida, a cantora e compositora Juliana D Passos foi chamada para cantar a música “Canto rezando, rezo cantando”.

Ao término da canção, Cirene e Fafá chamaram Vilma Reis, socióloga, integrante do Mulheres Negras e doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos no PosAfro-UFBA. Ao iniciar sua fala, ela afirmou que as mulheres de esquerda eleitas em Santa Catarina estão sofrendo pressão, pois se levantam contra a brutalidade do patriarcado. “Sem as mulheres, o Brasil não se levanta dessa asfixia política a qual nós vivenciamos nesse momento”, destacou.

Nessa mesma problemática, Justina Cima, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC-SC), falou sobre a importância de fortalecer a organização, a luta e a articulação dos movimentos feministas para cobrar políticas públicas e fazer o enfrentamento da violência. “Vivemos em tempos tenebrosos, de um governo genocida que sente prazer em matar seu povo sem nenhum remorso e justificativa. Nós, enquanto mulheres, precisamos nos fortalecer”, completou.

A quarta convidada para participar da transmissão foi Daniela Cardoso de Oliveira, psicóloga, pesquisadora e ativista pela inclusão das pessoas com deficiência, que se fez presente para falar de um tema silenciado: que mulheres com deficiência existem e também são vítimas de feminicídio. Ela declarou que as mulheres com deficiência estão em todos os grupos sociais e que necessitam de campanhas específicas. “Precisamos chegar até elas”, pontuou.

Lembrando o enfrentamento à violência vivido por pessoas trans e travestis, Mariana Franco, conselheira Nacional no Ministério dos Direitos Humanos, integrante da União Brasileira de Mulheres (UBM) e da União Nacional LGBT destacou: “estou aqui pela liberdade de sermos quem quisermos ser. Precisamos debater a existência de pessoas trans dentro dos feminismos”.

Em seguida, Ellen Caroline Pereira, assistente social, integrante do Coletivo de Negras e Negros do Judiciário/SC, evidenciou a importância a criação do Levante Feminista, pois, segundo ela, “me fortalece para seguir de punhos cerrados e construir uma forma de enfrentarmos a invisibilidade histórica imposta às mulheres negras”.

Após essas falas, houve a exibição do clipe “Corpo Meu”, samba composto por Cris Pereira e interpretado pela sambista Fabiana Cozza especialmente para a campanha . Nasceu dessa canção a mensagem afirmativa do movimento. O hino do Levante canta “resistência em mim se acendeu, essa força que eu trago quem me deu foram outras mulheres nessa estrada”.

Na sequência, a deputada estadual Luciane Carminatti (PT), a mulher mais votada da história da Alesc, esteve presente na transmissão, dizendo que “as mulheres estão se pronunciando e resistindo contra a cultura patriarcal. Nos colocam como não gente, não humano, não capazes. Temos que avançar. O feminismo é uma ferramenta de unificação dessas lutas”.

Também evidenciando a importância do Levante, Rosely de Fátima Oliveira, enfermeira aposentada, quilombola da Invernada dos Negros e integrante do Coletivo Mulheres Negras Petistas, reflete: “somos mulheres trabalhadoras que nos levantamos contra o feminicídio. O machismo ceifa a vida das mulheres”.  

Posteriormente, a Banda independente neotropicália Orquidália, de Florianópolis, marcou a quem estava assistindo a transmissão quando tocou a música “Mátria Amada”, composição autoral do grupo.

Ampliando a pluralidade de vozes e rostos presentes no lançamento, Dona Nair, mulher pescadora da praia de Ganchos, de Governador Celso Ramos, lembrou a dificuldade de ser mulheres na pesca. “Os pescadores são machistas, eles acham que mulher não é para estar no meio do mar, mas eu sempre pesquei sozinha. Para eles, eu dizia: ‘olha na minha testa e vê se está escrito palhaça’. Toda a minha vida foi assim”, relembra.

Após a potente fala de Dona Nair, foi a vez do Duo Eu e ela, composto por Noemi Carvalho, cantora e compositora, e Cris Mello, percussionista e compositor, de tocarem a música “Ser Mulher”. “A apresentação é dedicada a todas as mulheres presentes e as que sempre estarão presentes nos corações, vítimas de feminicídio e do sistema machista, racista e patriarcal”, pontuou a dupla. 

Por fim, a transmissão contou com a presença de uma das organizadoras do Levante Feminista contra o Feminicídio no Brasil, a filósofa escritora e artista Marcia Tiburi. Para ela, é muito bom ver o Levante se desenvolvendo e ocupando espaços em Santa Catarina, um estado com altos índices de violência e que o movimento feminista pretende reconhecer e superar. “O ato de darmos as mãos umas às outras é o que mais existe de antipatriarcal. Todas estamos construindo, cada uma aqui e em nome de todas as outras”, completou.

A campanha NEM PENSE EM ME MATARQuem Mata Uma Mulher Mata a Humanidade lançou um manifesto e segue coletando assinaturas. Clique aqui para assinar.

*Laura é estudante do sétimo período de Jornalismo da Univali e faz estágio no Portal Catarinas, sob supervisão da jornalista Paula Guimarães e orientação de Morgani Guzzo.

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