Em resposta a declaração do deputado estadual Roberto Salum (PRB), que na semana passada afirmou preferir não debater com a deputada Ana Paula Lima (PT) mas com o marido da parlamentar, dezenas de mulheres lotaram as galerias do plenário da Assembleia Legislativa de Santa Catarina durante a sessão desta terça, 27 de fevereiro. Os dez minutos do discurso de Salum foram abafados por vaias ininterruptas e gritos como “não vai falar”, “mexeu com uma, mexeu com todas” e “machistas não passarão”, em protesto contra a misoginia nos espaços de poder.

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Em pronunciamento, Ana Paula Lima alertou para a importância da sociedade compreender as dificuldades que as mulheres encontram para conquistar e manter direitos e a necessidades de resgatar permanentemente a sua história de luta para entender as múltiplas violências que vivem no cotidiano. “É urgente desconstruir, desnaturalizar e reafirmar a todo instante que as mulheres não são propriedades das famílias e do marido”, salientou a parlamentar.

Salum acusou as manifestantes de alienadas e disse que não se intimidaria. Segundo ele, a deputada Ana Paula Lima estava sendo leviana com as acusações. “Eu tenho bom senso, não me importo com estas pessoas que nem votam em mim. Por que atrás de todo homem bom, tem uma mulher”. O parlamentar permaneceu durante toda a sessão dentro do plenário. Entre um chá e outro, encarava as mulheres nas galerias e recebia cumprimentos de alguns colegas parlamentares. Na tribuna, ninguém o defendeu. Deputados de diferentes matizes políticas chegaram classificar a violência de Salum contra Ana Paula como “um equívoco”, adjetivo que foi contestado por vaias das manifestantes.

A vereadora do município de São José pelo PRB, Cristina de Souza, entregou à deputada Ana Paula uma moção de apoio que deve apresentar na Câmara de Vereadores de São José e afirmou que vai incentivar que outras casas legislativas repliquem o gesto. No documento, lideranças do partido se solidarizam com a deputada, destacam o papel da mulher na política e lembram que o primeiro mandato parlamentar do PRB na assembleia catarinense foi de uma mulher: Odete de Jesus, que legislou por três mandatos entre 1999 e 2011. “Não é porque ele é do meu partido que vou fingir que não vi. O que ele fez está acima do partido, temos que nos unir na causa e dar um basta”, declarou Cristina de Souza, vereadora de São José. Para a correligionária de Salum, a declaração de Salum foi “isolada e infeliz”.

Ocupar o legislativo

Para Clair Castilhos, ex-veradora de Florianópolis, a atitude do deputado denota uma concepção machista e discriminatória que remonta há um tempo em que as mulheres não podiam participar de espaços de poder. “Esse tipo de postura aumenta o ódio e a ignorância, faz com que a sociedade deixe de discutir conteúdos importantes e se alimenta de discussões rebaixadas. Enquanto a gente não mudar o legislativo, não vamos conseguir superar o preconceito e a discriminação. Parlamentares como esse precisam ser denunciados, ter sua miséria mental escancarada”.

Ela acredita que ação das mulheres foi pedagógica para que outros parlamentares repensem suas atitudes diante das questões de gênero, mas é preciso ir além. “O desafio é também que mais mulheres se empenhem em eleger mulheres e participem dos processos eleitorais”, argumenta.

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