Francia Márquez se reuniu nesta quarta-feira (27), no Rio de Janeiro, com parlamentares e pré-candidatas às eleições 2022 com objetivo de trocar estratégias a partir da experiência da Colômbia.

Francia Márquez, primeira mulher negra vice-presidenta da Colômbia, se reuniu nesta quarta-feira (27) com um grupo restrito de parlamentares, ativistas e pré-candidatas ao legislativo nas eleições de 2022 a fim de trocar estratégias para superação da sub-representação de mulheres negras na política institucional brasileira. O encontro aconteceu no Rio de Janeiro, como parte da agenda oficial que a vice-presidenta cumpre no Brasil, e teve como um dos destaques a crise ambiental que afeta especialmente a população negra, indígena e camponesa da América Latina.

Entre as convidadas para encontro, figuras emblemáticas da política nacional, como as Deputadas Federal Benedita da Silva (PT/RJ), Talíria Petrone (PSOL/RJ), Áurea Carolina (PSOL/MG), as ativistas Anielle Franco, diretora executiva do Instituto Marielle Franco e a intelectual Sueli Carneiro, além de pré-candidatas a Deputada Estadual Lucilene Kalunga (PSB/GO), Rosalina Santos (PT/PI), Carmen Silva (PT/SP) e da socióloga e pré-candidata a Deputada Federal Vilma Reis (PT/BA). O encontro entre as lideranças foi organizado pelo Instituto Marielle Franco, Instituto Ibirapitanga, Mulheres Negras Decidem, Instituto Alziras, Instituto Peregum e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, em ação conjunta.

A Vice-presidenta da Colômbia, Francia Márquez, falou sobre a crise climática durante encontro com lideranças negras no Rio de Janeiro | Foto: Mayara Donaria.

Durante o evento, as lideranças tiveram a oportunidade de trocar sobre os desafios e estratégias para avançar nas pautas que são caras à população negra latino-americana, entre elas a defesa da terra e do território. O assunto foi levantado pela Deputada Federal de Minas Gerais, Áurea Carolina (PSOL), que ressaltou como ponto comum entre Brasil e Colômbia a agenda ambiental trabalhada através de um olhar feminista e antirracista. “Não haverá outra sujeita política para trazer isso [defesa do ecossistema] que não seja nós, mulheres negras”, afirmou a deputada. “Mas custa muito para nós construir essa agenda coletiva com mulheres negras e indígenas, por isso eu queria saber como se deu suas alianças na Colômbia”, questionou Carolina. 

“Não podemos deixar nossas raízes. Precisamos saber de onde viemos, quem somos e para onde vamos. Eu cresci em um território rural, habitado por gente negra que foi escravizada. Mas ainda assim mantivemos nosso espírito livre. E com a necessidade de libertar a terra”.

Assim começou a vice-presidenta, trazendo como referência a luta que travou para enfrentar o extrativismo e a política de morte implementada através dos crimes ambientais que se estende em toda América Latina.

“Alguns meninos e meninas da Colômbia seguem consumindo água envenenada devido ao minério e ao extrativismo. […] Esse governo que estou junto com Gustavo Petro é um governo do povo. Baseado em uma economia sustentável. Então, a primeira coisa que tenho a compartilhar com vocês é que nosso instinto de cuidado deve estar atrelado à Natureza, ter isso como uma casa comum”, completou Francia ao explicar a necessidade de preservarmos a conexão com os ancestrais negros e indígena, para então promover ações práticas dentro da política institucional. 

Francia Márquez é conhecida pelo seu ativismo ambiental. Isso porque a Colômbia é o país que mais mata ambientalistas na América Latina, segundo relatório da Global Witness de 2020, com 65 assassinados. Um terço deles foram indígenas e afrodescendentes e quase a metade contra pequenos agricultores, segundo o relatório. O Brasil ocupa a 4° posição no ranking.

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Lucilene Kalunga fala com microfone ao lado de Rosalina Santos durante encontro com vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez | Foto: Mayara Donaria.

A pré-candidata a Deputada Estadual em Goiás, Lucilene Kalunga, evidenciou a importância do tema e necessidade de haver mais quilombolas ocupando o legislativo para que alguns desafios sejam superados. “Sempre falam por nós, mas nós temos voz e queremos ser ouvidos. Por isso é tão importante eu estar aqui hoje”, disse. 

Lucilene é do Quilombo Kalunga, localizado na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Considerado o maior quilombo em extensão territorial do Brasil com três comunidades quilombolas que agrega cerca de 600 famílias, os moradores são vítimas constantes invasão de pequenas propriedades, assoreamento ilegal de rios e construção de represas clandestinas e grilagem. 

Endossando o diálogo, a quilombola e pré-candidata a Deputada Estadual Rosalina Santos, do Piauí, enfatizou a luta dos povos tradicionais no Brasil.

“Nós quilombolas sofremos a duplicidade da ausência de políticas públicas. Mas a nossa luta maior é a preservação do meio ambiente, que passa pela territorialidade. Estamos sendo impactadas diretamente pelos grandes empreendimentos. O que é uma ameaça a todos os seres sagrados e ao ser quilombo”.

Rosalina é moradora do Quilombo Tapuio, em Queimada Nova, onde resistem cerca de 30 famílias. 

Ambas fazem parte do projeto “Estamos Prontas”, iniciativa de incidência política do Instituto Marielle Franco e do movimento Mulheres Negras Decidem, que está apoiando 27 mulheres negras das cinco regiões do país em disputa eleitoral deste ano. No próximo dia 5 de agosto essas lideranças se reúnem para o “Encontro Nacional Estamos Prontas: Mulheres Negras na Política”, no Rio de Janeiro. Os ingressos já estão disponíveis.

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  • Adriane Primo

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