Francia Márquez e a importância do voto dos “invisíveis”

Por Kelly Ribeiro Diagramação: Beatriz Lago e Daniela Valenga Fotos: reprodução e Pexels

Francia Márquez é um fenômeno. Primeira mulher negra a chegar à vice-presidência da Colômbia, ela foi fundamental para a eleição de Gustavo Petro, novo presidente  do país e primeiro de esquerda.

Márquez tem dois filhos, nasceu  no município de Suárez, Cauca, onde, segundo a própria, aprendeu sobre mineração, agricultura e pesca.  É advogada e ativista dos direitos humanos e do meio ambiente.

Ainda na adolescência, começou  a liderar espaços na comunidade onde vivia.  Trabalhou como garimpeira de ouro e como empregada doméstica, função que exerceu para pagar os estudos.

Como presidente da Associação de Mulheres Afrodescendentes de Yolombó, organizou a "Mobilização das mulheres negras pelo cuidado da vida e dos territórios ancestrais", em 2014.

O movimento reuniu pessoas do norte de Cauca e avançou até Bogotá, capital colombiana, para exigir seus direitos.

Em 2018, recebeu o prêmio Goldman (considerado o "Nobel do Meio Ambiente") em reconhecimento ao trabalho como líder  de  um movimento popular contra a exploração mineral em La Toma.

A ascensão de Márquez na política começou com os resultados eleitorais históricos na consulta da coalizão de esquerda no país. Ela obteve mais de 783 mil votos na consulta do Pacto Histórico (14%).

Márquez participou em nome do partido Polo Democrático Alternativo e ficou em segundo lugar, depois de Gustavo Petro. Mais tarde, ele a chamou para compor a chapa  como vice-presidenta.

A advogada atribuiu a vitória nas consultas internas às mulheres e aos jovens, e garante que isso “já é uma evidência de que estamos rompendo com o patriarcado e o machismo na política”.

Com o lema da campanha  “Sou porque somos”, Márquez  pretende buscar a justiça racial, defender os direitos humanos e o cuidado da vida e do território, bem como os direitos das mulheres.

“Venho do território dos ninguém, venho de territórios esquecidos em termos de investimento social, mas violados por uma política de morte”, disse em coletiva em março.

As eleições foram acirradas. Petro, ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro, venceu com 50,44% dos votos. O empresário Rodolfo Hernández, candidato populista de direita, teve 47,31%.

A posse acontece em 7 de agosto e o novo governo terá desafios políticos, econômicos e sociais pela frente. Mas deixa como recado a outros países latinos que o voto dos "invisíveis" é decisivo.