O terceiro vídeo da parceria entre o Laboratório de Estudos de Gênero e História, da Universidade Federal de Santa Catarina (LEGH-UFSC), e o Portal Catarinas já está disponível nas redes sociais e aborda a interseccionalidade. O termo ganhou força nos últimos anos para além do meio acadêmico, pois ajuda a compreender como a sobreposição de opressões e discriminações produzem desigualdades. Além disso, contribui com a proposta de uma série de práticas e ações que podem ajudar a lidar com os problemas sociais de forma estratégica.
A produção faz parte de uma campanha de divulgação científica, realizada no âmbito do projeto “A internet como campo de disputas pela igualdade de gênero”, para tornar mais acessíveis termos e conceitos usados nos estudos de gênero, feminismos e sexualidades. Ao todo, serão oito vídeos publicados nas redes sociais das organizações e no Youtube do LEGH-UFSC, com o objetivo de alcançar especialmente o público jovem e adolescente. A campanha conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
Interseccionalidade
O vídeo conta que o conceito de interseccionalidade foi usado pela primeira vez em 1989 por Kimberlé Crenshaw, jurista e professora de teoria crítica de raça, quando ela conheceu o caso de uma mulher negra que entrou na justiça por não conseguir emprego em uma fábrica de automóveis. Portanto, o conceito nasceu com a proposta de explicar problemas sociais, suas estruturas e dinâmicas.
Na época, Emma DeGraffenreid argumentou que não tinha sido contratada por ser mulher e negra, ou seja, ao ser avaliada pela empresa ela sofreu discriminação por essas duas características. No entanto, o juiz do caso alegou que esse não era um argumento válido porque na fábrica trabalhavam homens negros e mulheres, mas ele não levou em conta que as mulheres que traballhavam na fábrica eram brancas e trabalhavam no escritório, enquanto os funcionários negros trabalhavam todos na manutenção da fábrica, onde só tinham homens.
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“Interseccionalidade é o conceito que reconhece que essas características se cruzam no dia-a-dia, podendo produzir violências combinadas. Por exemplo: uma mulher negra muitas vezes sofre, ao mesmo tempo, os efeitos do machismo, do racismo e da falta de acessos básicos. Ou uma pessoa trans e negra, ela também sofre preconceitos e violências que se juntam, tornando sua vida mais difícil”, explica a produção.
Além disso, o vídeo lembra que feministas negras norte-americanas já consideravam as interações entre o racismo, o patriarcado, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios para analisar a realidade. E destaca que aqui no Brasil intelectuais como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Neusa Santos e Luiza Bairros também desenvolveram ideias antes da elaboração do conceito.
As reflexões delas ecoam através do trabalho de pensadoras e pensadores como Carla Akotirene, Claudia Pons Cardoso, Raquel de Andrade Barreto e Ana Claudia Lemos Pacheco que defendem que as diferentes vivências, vindas das particularidades de cada pessoa devem ser incorporadas e consideradas igualmente importantes.
A produção ajuda a entender como a interseccionalidade pode ser entendida por meio de registros distintos, pois ganhou múltiplas interpretações. Primeiro, como conceito acadêmico, das ciências sociais, jurídicas e econômicas, e depois como ferramenta de intervenção política e de enfrentamento das desigualdades como tem sido usada pelos movimentos sociais, por exemplo.
Acesse o segundo vídeo da série: Gênero.
Créditos:
Inara Fonseca: edição final de roteiro
Paula Guimarães: edição de divulgação
Kelly Ribeiro: locução, pesquisa e roteiro
Cristina Scheibe Wolff: revisão e pesquisa
Elaine Schmitt: revisão e pesquisa
Luiza Monteiro: edição de vídeo
Rafaela Coelho: arte de capa
Referências:
O que é interseccionalidade e qual sua importância para a questão racial?
Kimberle Crenshaw: the woman who revolutionized feminism
DeGraffenreid v. GENERAL MOTORS
Interseccionalidade (Feminismos Plurais)
Gênero, Sexualidade e Educação
Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais