Está no ar o segundo episódio do podcast “Ilha Invisível”: Lama e escassez: injustiças na Reserva do Pirajubaé. A produção se aprofunda nos impactos causados sobre o ecossistema e a comunidade tradicional de pescadores artesanais da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, em Florianópolis, Santa Catarina. Em prol de um suposto desenvolvimento urbano, decisões governamentais levaram a história da primeira Reserva Marinha do Brasil a se tornar um caso icônico de injustiça ambiental e climática. 

Confira o segundo episódio clicando aqui.

A construção da Via Expressa Sul, como é conhecida a Rodovia Governador Aderbal Ramos da Silva, trecho da SC-401 demandou a dragagem de uma grande quantidade de areia onde está inserida a Resex do Pirajubaé. Esse processo resultou no chamado  “buraco da draga”, literalmente um buraco de 10-12 metros de profundidade muito próximo do baixio, banco de areia, de maior produtividade da Resex, de onde os pescadores retiravam o berbigão e espécies de camarão, e no manguezal do Rio Tavares. Estudos ambientais realizados para avaliar os impactos demonstraram que a dragagem suprimiu ecossistemas. 

“O camarão diminuiu muito. Isso aqui era um berçário de camarão que era coisa de louco. Do meio de novembro a fevereiro, a gente pegava de mão cheia a lava dele. Ele vinha de fora e desovava aqui dentro. Agora não. Agora não tem mais desova. Não tem mais desova porque é só areia. Como é que vai desovar na areia?”, questiona Neri Manoel Martins, pescador artesanal. 

As famílias de pescadores/as artesanais da Costeira do Pirajubaé perderam o acesso ao mar, à sua fonte de renda e viram suas casas se deteriorarem ao longo dos anos. A via foi inaugurada em 2004, mas até hoje elas seguem sem indenização e convivem com o abandono do poder público. A Escola Estadual Júlio Costa Neves, localizada no mesmo bairro, por exemplo, está interditada há dois anos. Segundo laudo técnico, o prédio apresenta problemas na estrutura e o pátio interno e o piso do entorno estão afundando. 

O episódio explica porque a Reserva do Pirajubaé se trata de um caso emblemático de injustiça ambiental e climática, pois além do ecossistema da região ter sido afetado, a distribuição dos impactos também foi desigual. Enquanto o governo do estado de Santa Catarina ficou com o bônus, com os lucros do suposto desenvolvimento, para a comunidade tradicional sobrou o ônus da construção da Via Expressa Sul, com inúmeras perdas.

“A degradação ambiental é a raiz das injustiças ambientais e climáticas. E a conta do crescimento urbano predatório, com seu desenvolvimento que exclui, chega primeiro nas populações mais vulneráveis, mas, no final, não há ganhos para ninguém”, diz um trecho da narrativa. 

Ouça o segundo episódio: 

“Ilha Invisível” é um podcast original do Portal Catarinas, promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e o Instituto Clima e Sociedade (iCS), no âmbito do The Climate Justice Pilot Project. 

A produção nasceu de uma pesquisa documental das jornalistas do Catarinas Inara Fonseca e Morgani Guzzo, fruto de um trabalho desenvolvido desde 2021 em que elas apresentam relatos de violência e descaso contra o modo de vida e fonte de subsistência das famílias de pescadores.

Confira a audiodescrição:

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