O Portal Catarinas lança nesta segunda-feira (16) o terceiro e último episódio do podcast Ilha Invisível. “Esgoto na Baía Sul e a luta por justiça climática” denuncia uma nova ameaça à comunidade tradicional de pescadores artesanais da Costeira do Pirajubaé e também aos moradores do Saco dos Limões, em Florianópolis, Santa Catarina. Trata-se de um emissário terrestre da Companhia de Saneamento de Santa Catarina (Casan) que vai transportar os efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares (ETE Rio Tavares) até a Baía Sul da capital, onde se encontra a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, a Resex do Pirajubaé. 

Confira o terceiro episódio clicando aqui.

A preocupação dos entrevistados é que estejamos à frente de mais uma tragédia ambiental e humana anunciada. A Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares tem como previsão a capacidade de lançar 200 litros de esgoto tratado por segundo. Para se ter uma ideia, a estação da Lagoa da Conceição, cujo rompimento causou a morte de peixes e siris, a proliferação de algas, o assoreamento e até a mudança da cor das águas, tinha vazão máxima de 80 litros por segundo.

O poder público está pouco se lixando para a população. Além do que, a briga maior é com a Casan. Que todo mundo sabe que está aí a prova do que é a Casan. Agora eles vão jogar tudo ali dentro da nossa Reserva, por quê não tem outra maneira? Existe, mas eles não querem gastar. Eles preferem fazer mal a população e pagar bem seus executivos. Investimento zero”, afirma Celso de Souza Botelho, filho de pescador e conselheiro da Resex do Pirajubaé. 

Atualmente, a comunidade tem se mobilizado continuamente para que outra tragédia não aconteça. No dia 28 de setembro deste ano, por exemplo, a Associação de Moradores do Saco dos Limões realizou uma reunião com a presença de vários estudiosos da área ambiental para debater o tema. Através da Câmara de Vereadores de Florianópolis, os moradores também solicitaram uma audiência pública, para a qual foram convidadas a Casan e a Prefeitura. A reunião foi marcada para o último dia 11 de outubro. 

O episódio também resgata  que, desde 2007, a Casan tem um projeto de instalação da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares. Mas o projeto foi embargado inúmeras vezes por ações que questionam aspectos técnicos da obra. De 2008 até 2017, os acordos para a liberação da licença ambiental feitos pela Casan junto à Fatma,hoje, Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) não foram cumpridos. O ICMBio verificou a inexistência ou insuficiência de estudos e dados necessários para a aprovação da instalação e operação da obra.

Além disso, o episódio aborda as três perspectivas de globalização elaboradas pelo geógrafo Milton Santos, como fábula, como perversidade e uma outra globalização. Os conceitos são abordados para pensar um novo mundo, com mais justiça social, ambiental e climática, onde a tecnologia é posta a serviço das comunidades e não para massacrá-las. Uma globalização que surge justamente de baixo para cima, tendo como protagonistas os pobres, os trabalhadores, os pescadores, os quilombolas e os povos indígenas. 

O pensamento de Santos se conecta diretamente com a proposta da temporada – abordar a injustiça ambiental e climática na Resex do Pirajubaé após a construção da Via Expressa Sul – já que o conceito de justiça climática está intimamente ligado com a defesa dos territórios por populações tradicionais como a da Costeira do Pirajubaé. 

“Enquanto eles estiverem pescando, eles estiverem ali, enquanto tiver gente vivendo disso e gente querendo conservar e proteger o manguezal, eu acho que a gente tem que continuar lutando”, acredita Dayani Guero, analista ambiental do ICMBio. 

Ouça o segundo episódio:

“Ilha Invisível” é um podcast original do Portal Catarinas, promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e o Instituto Clima e Sociedade (iCS), no âmbito do The Climate Justice Pilot Project. 

A produção nasceu de uma pesquisa documental das jornalistas do Catarinas Inara Fonseca e Morgani Guzzo, fruto de um trabalho desenvolvido desde 2021 em que elas apresentam relatos de violência e descaso contra o modo de vida e fonte de subsistência das famílias de pescadores. 

Confira a audiodescrição:

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