Com vídeos feitos, em sua maioria, pelas próprias poetas, o 1 Minute Slam reúne e divulga poesia contemporâneas feitas por mulheres

A próxima poeta que você vai ver nas prateleiras das livrarias pode estar agora numa batalha de slam embaixo de um viaduto da sua cidade, em um sarau de poesia que você frequenta ou mesmo ganhando muitos likes em posts das redes sociais. A poesia falada está em alta, e a jornalista, poeta e pesquisadora Tatiana Cruz, co-fundadora do Sarau Nosotras, um evento feito só por mulher e para mulheres, em Porto Alegre (RS), ficou tão fascinada com esse movimento que decidiu criar uma plataforma global no Instagram só para reunir essas vozes, o @1MinuteSlam:

“Quando criamos o Nosotras, só para mulheres, em um ambiente em que não entra homem, ficamos impressionadas como o chamado foi ouvido. Lotamos em todas as edições, mulheres de 13 a 80 anos ouvindo poesia feita só por mulher, abrindo, aos poucos, seus textos autorais e dividindo com as demais mulheres da roda. E era o mesmo nos slams que eu frequentava, as mulheres dizendo poesia em volta alta, em corpo e voz. A voz feminina em potência precisando dizer, e tendo a poesia como veículo”, conta Tatiana.

Especialista em Literatura Brasileira pelo Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a jornalista passou a pesquisar sobre o tema e a preparar seu mestrado sobre o assunto. Na pauta, a percepção de que o mercado editorial brasileiro, em crise no seu modelo de negócios, passou a perceber que esse movimento de mulheres em torno da poesia falada poderia ser bem lucrativo, criando selos específicos para leitoras afinadas com a ideia de ler apenas escritoras mulheres.

Tatiana Cruz é co-fundadora do Sarau Nosotras e do @1minuteslam/Foto: reprodução do Instagram

“Por muito tempo, as grandes editoras publicavam quase que majoritariamente homens, brancos, héteros, do Rio e SP, em profissões que já atuam, de alguma forma, nesse centro de lugar de fala: como academia e imprensa. Os números apurados por pesquisa da UnB, coordenada pela professora Regina Dalcastagnè, eram um escândalo. De cada 10 romances publicados por grandes editoras  entre 1990 e 2004 no Brasil, apenas dois eram de autoria feminina. Parecia uma muralha intransponível. No entanto, o movimento coordenado de mulheres e suas interseccionalidades na emergência da pauta feminista contra a PEC do Aborto, de Eduardo Cunha, em 2015, a ascensão das redes sociais e de hashtags como #leiamulheres e a chegada da poesia de slam no Brasil parecem ter chamado a atenção do mercado, que passou a enxergar circulação e audiência crescente neste movimento”, explica a jornalista.

https://www.instagram.com/p/B_K9tq6n4jZ/?igshid=1xzxfz41l7yld

1 Minute Slam

Com vídeos feitos, em sua maioria, pelas próprias poetas, o 1 Minute Slam reúne e divulga a poesia falada de mulher em potência de voz. Além do vídeo, a plataforma publica sempre, nas legendas dos posts, a versão escrita da poesia na íntegra, os dados da poeta, localização e arroba, a fim de que o trabalho possa ser traduzido em outros locais do mundo e alcançar um intercâmbio global.

No feed, você poderá ouvir poetas abrindo voz de diferentes partes do mundo: Japão, Polônia, Austrália, Ilhas Fiji, Cuba, México, Estados Unidos, Brasil, etc. Entre elas a poeta e slammer pernambucana Luna Vitrolira dizendo um poema contra a política racista do atual presidente Jair Bolsonaro, a escritora cubana Teresa Cárdenas falando sobre vivência de uma mulher negra, a slammer Joelle Taylor, de Londres, trazendo a pauta de gênero, a mexicana Cynthia Franco, falando sobre liberdade, a poeta Jasmine Waiters, de Austin, no Texas, falando sobre violência contra a mulher negra, entre outras:

“Ao ouvir as poesias, percebe-se que o sexismo é uma marca geral, vivenciada por diversos filtros diferentes, como raça, classe, gênero. A versificação, o ritmo, o corpo evidenciam a marca da oralidade como performance que contagia, emociona e tira a poesia da estante, da leitura individual e silenciosa do sofá.”

Quer abrir voz para o projeto? Basta marcar o @1minuteslam em seu vídeo postado no Instagram ou enviar uma performance, pode ser trecho de um poema maior, de até 1 minuto para o e-mail [email protected] com nome, perfil do Instagram, cidade onde mora e a versão escrita do poema.  “Nós fazemos poesia, somos muitas e vamos abrir voz!”, afirma a idealizadora.

https://www.instagram.com/p/B_24P3NnloR/?igshid=1rdjek71zbipg

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

Últimas