“Aldear a Política” acompanha a trajetória inspiradora de Andenice Fiamoncini, Ingrid Sateré Mawé, Joziléia Kaingang e Kerexu Yxapyry, mulheres indígenas que lideram uma incansável luta pelo reconhecimento e proteção de seus territórios ancestrais. Contextualizado pela força da terceira marcha das mulheres indígenas, o filme mergulha nos desafios históricos e contemporâneos enfrentados por essas guerreiras, que buscam não apenas garantir a sobrevivência de suas culturas, mas também conquistar espaço e voz nas esferas políticas de Santa Catarina e do Brasil. O curta-documentário será lançado nesta sexta-feira (14), às 18h, no Museu da Escola Catarinense, em Florianópolis.

O documentário celebra a resistência, a força e a representatividade dos povos originários, destacando a importância das lutas dessas mulheres para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. O curta-documentário é uma realização do projeto de extensão Histórias Plurais (Edital Paex/Udesc), coordenado pela professora Claudia Mortari, com realização do AYA Laboratório de estudos pós-coloniais e decoloniais e Emitai Produção Audiovisual. Surgiu com base na dissertação “Aldear a política é estar onde estamos da forma que somos: Mulheres Indígenas na política (2018-2024)”, orientada pela professora Luisa Tombini Wittmann.

O idealizador e diretor do documentário, Weuler Azara, iniciou sua trajetória na pesquisa sobre mulheres indígenas na política durante sua graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina. Seu trabalho de conclusão de curso investigou aumento expressivo de candidaturas de mulheres indígenas no pleito de 2020. Em estados como Santa Catarina, foco de sua pesquisa, o número de candidatas dobrou entre os pleitos de 2016 e 2020. 

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Crédito: reprodução.

Segundo Azara, dois fatores impulsionaram esse crescimento:  a campanha presidencial de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, que marcou a primeira vez em que uma mulher indígena compôs uma chapa presidencial no Brasil. 

O segundo fator fundamental para o crescimento dessas candidaturas, conforme o diretor, é a consolidação da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Por meio de entrevistas realizadas com candidatas indígenas, estes dois fatores aparecem como alicerce para o bom desempenho dessas candidaturas.

Desde então, Weuler Azara tem aprofundado sua pesquisa com base nas narrativas das próprias protagonistas, entendendo-as como produtoras de conhecimento e como interlocutoras de seu trabalho. “A ideia é construir uma pesquisa com, e não sobre, mulheres indígenas. Como uma pessoa não indígena, acredito que esse é o único caminho possível para um trabalho honesto e respeitoso”, afirma.

Durante a pesquisa para a graduação, a ideia já era gravar entrevistas para integrá-las a uma produção audiovisual. No entanto, com o avanço da pandemia de Covid-19, esse sonho teve que ser adiado, já que todas as atividades em campo foram suspensas.

Mantendo diálogo com as interlocutoras da pesquisa e estreitando laços de amizade e ativismo ao longo de sua jornada acadêmica, Weuler cumpriu a promessa de produzir o documentário, materializando-a na forma de sua dissertação de mestrado. Que também reflete a luta dessas mulheres indígenas guerreiras.

Na dissertação, Weuler opta por analisar as diversas articulações dessas candidatas, indo muito além do âmbito político-partidário, e compreendendo suas ações em um espectro mais amplo de atuação. 

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Crédito: reprodução.

Trajetória política das entrevistadas

Para a realização de “Aldear a política”, entrevistou Andenice Fiamoncini, eleita como vereadora de Ibirama (SC), Ingrid Sateré Mawé, atualmente eleita como vereadora de Florianópolis, Joziléia Kaingang, ex-integrante da mandata coletiva Bem viver e atual diretora-executiva da Anmiga, e Kerexu Yxapyry, integrante do Ministério dos Povos Indígenas.

O documentário conta a narrativa da trajetória das candidatas e, além disso, inclui cenas da III Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília em setembro de 2023. A ideia principal era construir um diálogo sobre as experiências dessas mulheres em seus  trajetos políticos, abordando suas angústias, inquietações e as dificuldades de  acessar ambientes majoritariamente formados por homens brancos, héteros e cisgêneros.

O forte ritmo da marcha, o som dos maracás e os protestos por proteção de seus corpos-territórios trazem uma experiência imersiva ao telespectador, transportado para uma roda de conversa poderosa com as interlocutoras do curta.

O curta/documentário foi produzido coletivamente com a equipe do AYA Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais e a Emitai Produções. O diretor aponta que tudo só foi possível com a união de pessoas intencionadas a fazer com que as vozes dessas mulheres fossem ouvidas. “Exemplo da indissociabilidade e da interseccionalidade que abraçamos, na decolonialidade combativa”, destaca.

Após o lançamento, o curta vai ser inscrito em festivais de cinema e em breve estará disponível nas plataformas digitais.

Ficha técnica 

Direção: Weuler Azara e Vinicius Pinto Gomes
Produção executiva: Cláudia Mortari e Tathiana Cassiano
Direção de arte: Danieli Finaú
Direção de som: Leonardo dos Santos Rolim de Moura
Direção de fotografia: Luiza Ferreira da Silva
Produção: Júlia Victória Lobo Pinto, Mirele Vitória Oliveira Cardoso e Jeane Adre Rinque
Roteiro: João Gabriel Santos Pinto

Serviço

O que: lançamento do curta-documentário “Aldear a Política”.

Quando: sexta-feira (14), às 18h.

Onde: Museu da Escola Catarinense, em Florianópolis (SC).

Mais informações: https://www.instagram.com/ayalaboratorio/

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  • Jeane Rinque

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ - Professora Filosofia - INTEGRAR - Projeto Educação Popular...

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