Indígenas de diferentes povos se uniram em prol da coletividade, com o objetivo de revelar suas próprias histórias e dar apoio a seus parentes nos diferentes contextos atuais

A Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA) tem a proposta de articular indígenas da graduação ao doutorado, formados ou em processo de formação, em diferentes áreas de conhecimento da Antropologia. Após quatro anos de muito diálogo, reuniões e articulações, a organização surge em direção à construção de uma sociedade antirracista com visão crítica à colonização. Vídeos com indígenas antropóloges de vários povos que se declararam membros da ABIA foram exibidos durante a live de lançamento, na última sexta-feira (28). 

No final do lançamento da ABIA, Pietra Dolamita Kuawa Apurinã, Conselheira Editorial do Catarinas, leu uma Carta enviada para ABA – Associação Brasileira de Antropologia que a ABIA gestou ainda no útero da sua criação, na qual reivindicam a criação do Comitê dos Indígenas Antropólogos. Deste modo, as Ciências Sociais e as diversas ciências indígenas no Brasil podem tornar-se plural e contra colonial, trazendo os saberes dos pajés, rezadeiras, anciões e anciãs, com a sabedoria dos encantados que resistem ao processo de extermínio em curso.

De acordo com a organização, a ABIA tem como finalidade congregar a expertise acadêmica e científica dos indígenas antropóloges com os Movimentos Indígenas e os diferentes projetos de autodeterminação de territórios. Nesse sentido, busca consolidar a presença indígena na antropologia através da divulgação científica do conhecimento oriundo de produções acadêmicas próprias, potencializando os saberes indígenas, as culturas e o protagonismo, bem como a valorização e defesa dos povos indígenas, para ocupar e construir uma antropologia a partir desses lugares.

https://www.youtube.com/watch?v=6yPP04ofXXM

O início do evento foi conduzido por Célia Xacriabá que fez uma mística, envolvendo a recitação de um poema e ritual com fogo. Na primeira parte, Braulina Baniwa (PPGAS-DAN/UNB), Luiz Eloy Terena (EHEES França) e Felipe Tuxá (UNEB LICEEI Opará) falaram sobre “Memória e criação da ABIA”. Na sequência, Jozileia Kaingang (UFSC), Gersem Baniwa (FACE/UFAM), Elisa Pankaraku (UFPE) e Mayara Suni Terena conduziram um diálogo sobre “Trajetórias e incidências, vozes dos parentes”.

Para Braulina Baniwa (PPGAS-DAN/UNB), dentro da antropologia há questões que impactam as mulheres indígenas e nessa produção de conhecimento é importante trazer para o debate esse olhar. “Por exemplo, tem aí as indígenas mulheres, temos duas doutoras em antropologia, que pautam nossas questões enquanto mulheres, e também estão visibilizando o conhecimento de mulheres das comunidades indígenas. Ao mesmo tempo a gente vê nessa direção de protagonizar essa produção a partir dos conhecimentos das mulheres indígenas. Na etnografia feita pelos não indígenas poucas mulheres são mencionadas nesse processo. É como se mulheres não produzissem conhecimento”, comenta.

Imagem: live

“É questão de visibilizar a educação que nossas mães têm dentro de nossas comunidades, papel importantíssimo nesse caminho de defesas dos territórios. Nos Povos Indígenas as mulheres têm um papel fundamental para que outras gerações acessem esse conhecimento indígena e essa diversidade de ciência”, conta Braulina Baniwa.

Jozileia Kaingang (UFSC) enfatizou que a pluralidade de conhecimentos é elo central entre Povos Indígenas e Universidade. “Essa ciência antropológica está dentro da Universidade, que tem se tornado a cada dia mais plural, não só pelos antropóloges indígenas, mas também por todos os estudantes indígenas que estão na graduação e na pós-graduação que ingressaram através das ações afirmativas, através da lei de cotas”, destacou. 

Imagem: live

“Hoje somam-se mais de 305 Povos. Eu espero que logo o IBGE possa fazer de novo o Censo Demográfico. Nós somos muito mais, porque sim, temos um renascer de muitos povos indígenas. E temos pintado a Universidade de jenipapo e urucum, como muitos outros parentes já vem dizendo”, ressalta Jozileia Kaingang.

Elisa Pankaraku (UFPE) estuda mulheres indígenas e questões de gênero. Ela se diz feliz e emocionada com o lançamento da ABIA. “Eu confesso que já participei de muitas lives neste ano, mas estou emocionada pela participação na construção da articulação e a vitória, a conquista, a glória, então eu estou feliz. É muito potente, fortalecedor”, relata Elisa Pankaraku. 

Mayara Suni Terena apresentou a logomarca da ABIA. Construída coletivamente, a identidade visual representa a movimentação do indígena antropólogo que ingressa na universidade e que marca um novo momento para a ciência, onde de coadjuvante passa a ser protagonista. A live é fruto do trabalho intelectual, social e político de todos os indígenas integrantes da ABIA.

Imagem: live

 

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

  • Vandreza Amante

    Jornalista feminista, antirracista e descolonial atua com foco nos olhares das mulheres indígenas. A cada dia se descobr...

Últimas