O Brasil é considerado um dos piores países para ser menina ou mulher. Por isso a nossa luta cotidiana é nas ruas, nas escolas, nas empresas, nas instâncias políticas, na caminhada e também nas redes, não só durante campanhas e datas especiais, mas todos os dias.

Em 2018, a hashtag #21diaspelofimdaviolenciacontraasmulheres reuniu posições políticas de mulheres sobre os mais diversos temas, relacionados aos desafios que enfrentamos na luta pelo fim das violências recortadas por gênero, raça e classe. 

Para que essas vozes sejam amplificadas, o Portal Catarinas fez uma curadoria dos artigos, com pequenos trechos, que você confere abaixo:

#1 NósPorNós

A luta das mulheres é, sobretudo, pelo reconhecimento pleno da sua humanidade, pela igualdade material de condições de existência e dignidade, pela soberania sobre si, pelo respeito às nossas diferenças e garantia de equidade. É uma luta por elementos fundamentais sobre os quais estão assentados todos os demais direitos.

Nossa luta é também por um lugar na política. Em todas as políticas. Em toda e qualquer sala, rua ou praça em que se estejam sendo tomadas decisões importantes para o grupo, o bairro, a comunidade, a cidade, o território, o país, nós queremos o nosso lugar.

Em qualquer lista, livro, cátedra, ofício, mesa, fábrica, sindicato, partido, parlamento ou carro de som, em qualquer mandato, tribunal, cargo de nobre exercício de poder, nós queremos os nossos lugares. E que ninguém se surpreenda que nós queiramos mudar as regras. Elas foram feitas à custa do nosso silêncio. E o silêncio acabou. Continue lendo →

Lorena Duarte,  é advogada, assessora parlamentar filiada ao PSOL e militante socialista pela efetivação dos direitos humanos.

 

#2 Mulheres, exploração e opressão na sociedade do Capital

A luta das mulheres também é por desconstruir a ideologia imposta de que o serviço doméstico é uma tarefa das mulheres e construir uma nova consciência social onde as mulheres e homens se coloquem em movimento para exigir espaços coletivos como creches e lavanderias, mantidas pelo Estado e pelos patrões.

Isso é apenas um pequeno passo que pode diminuir o peso do enfadonho e interminável serviço doméstico, mas que ainda não acabará com essa tarefa que se mantém na forma como se organiza essa sociedade nos espaços privados da família burguesa. Continue lendo →
Marcela Machado, trabalhadora do INCRA e militante do PSOL e da Intersindical

 

#3 Violência obstétrica é violência contra a mulher!

Violência obstétrica é cometida contra mulheres durante seu atendimento obstétrico, ou seja, quando estão grávidas, no parto, pós parto e abortamento. O motivo pelo qual essa violência acontece tem um nome bem conhecido por nós mulheres: machismo e misoginia. Agindo de forma a controlar nossos corpos, nossas vontades, nossos sentimentos, nossos instintos também nesse momento.

Existe uma lista imensa sobre as formas de violência obstétrica e ela é altamente comum, tão comum que parece que é assim mesmo o normal. Para acabar com essa violência precisamos que as delegacias de mulheres sejam atualizadas sobre como proceder frente a uma denúncia de violência obstétrica.

Precisamos de políticas públicas para o pós parto de maneira urgente, para que a mulher tenha acesso a profissionais de saúde e tratamentos capazes de minimizar qualquer problema que ela tenha. Precisamos discutir mais com advogados e advogadas para que saibam e conheçam judicialmente os trâmites para que nós denunciantes tenhamos sucesso em nossas ações. E não menos importante: é preciso educar todo e qualquer profissional da saúde, ligado a mulher, sobre não apenas esse assunto em específico (violência obstétrica), mas sobre toda uma relação de poderes que atuam contra o corpo das mulheres. Continue lendo →

Xixa, professora, ativista contra a violência e secretária de comunicação no PSOL.

 

#4 A responsabilidade dos pais na educação dos filhos

Um pai ausente, sem qualquer contato afetivo ou de cuidado, que tampouco envia contribuição financeira para o sustento da casa, ou seja, não participa da proteção mínima dessas crianças. Nosso país é constituído por uma multidão de mulheres chefes de família e crianças que se encontram nessa situação. O que podemos fazer?

Não temos como ajudar essas mães de forma direta, mas podemos contribuir para o fim de tal violência divulgando, problematizando, conversando e não concordando com a naturalização do papel da mãe enquanto cuidadora exclusiva e/ou responsável majoritária pelos/as seus/as filhos/as. O pai participou da geração da vida dos/das filhos/as, não é? Portanto, também é responsável por cuidar, prover e se ocupar das obrigações relativas à vida deles/as, esteja em conjugalidade com a mãe ou não! Continue lendo →
Gissele Pinto é psicóloga, mãe, trabalhadora da Política de Assistência Social e Conselheira Municipal de Assistência Social

 

#5 A gravidez na adolescência

Apesar das mulheres serem férteis apenas 2 ou 3 dias no mês enquanto os homens são férteis todos os dias, recai sobre a mulher toda responsabilidade pela prevenção, e também a culpa pela gestação.

Esse processo pode ser ainda mais violento com as mães adolescentes. “18% dos 3 milhões de nascidos vivos no país em 2015, ou seja, 540.000 são filhos de mães adolescentes (entre 10 e 19 anos) segundo dados do Portal da Saúde do Governo Federal. As complicações psicossociais relacionadas à gravidez na adolescência são, inúmeras: o abandono do lar dos pais pelas adolescentes, o abandono pelo pai da criança, a opressão e a discriminação social, empregos menos remunerados, a dependência financeira dos pais por mais tempo, casamentos ou coabitação precoces, motivados exclusivamente pela gravidez, que têm levado adolescentes a engravidarem mais de uma vez.

É necessário ter, antes de tudo, respeito às meninas/mães e dar apoio para que elas consigam lidar da melhor maneira possível com a situação. Para, além disso, é preciso dialogar sobre o preconceito moralista e avançar com as políticas públicas de prevenção e de amparo à essa nova realidade, que perpassa sobre todas as demais questões relacionadas na luta pelo fim da violência contra a mulher e por igualdade de direitos no mundo do trabalho, no acesso a saúde e a educação.

Sigamos na luta pelo fim a qualquer tipo de violência contra a mulher! Continue lendo →

Cíntia Moura Mendonça, administradora, assessoria parlamentar e coordenadora do Fórum de Póliticas Públicas de Florianópolis.

 

#6 A violência contra as mulheres do campo e da floresta

A violência de gênero é realidade no campo e na cidade e precisa de enfrentamento em todas as suas formas. No entanto, é inegável a vulnerabilidade em que se encontram as mulheres do campo e das florestas pela estrutura social que coloca as mulheres em condições de submissão, de maneira ainda mais truculenta e aparente.

A distância, a dificuldade de deslocamento e acesso aos poucos instrumentos de apoio, auxílio e combate às mulheres violentadas são circunstâncias que dificultam o acolhimento e apoio às mulheres do campo e das florestas. As violências invisíveis são ainda mais perigosas porque são naturalizadas e sequer são compreendidas pelas vítimas como violências. A cultura machista moralizante que afasta as mulheres da atitude de denúncia, é garantida pela dependência econômica, invisibilização das atividades realizadas, ainda que excedam o enquadramento de atividade reprodutiva e adentrem nas atividades produtivas. Continue lendo →

Mexiana Zabott Adriano, advogada, feminista ecossocialista e ativista em defesa dos direitos humanos

 

#7 A luta anticapitalista das mulheres

Nós mulheres estamos na luta contra o machismo que estrutura nossa sociedade, que assassina uma de nós a cada 2 horas, paga 30% do salário de um homem branco, forçadas duplas/triplas jornadas de trabalho e nos impede de decidir sobre o nosso próprio corpo. Dizer que o machismo é estrutural significa dizer que ele cumpre a função de manutenção do sistema capitalista, ou seja, foi necessário para seu surgimento e continua sendo para sua existência.

Por isso a luta das mulheres deve se direcionar contra o capitalismo que nos explora e oprime. Para realmente mudarmos a realidade das mulheres no Brasil e no mundo é preciso alterar a estrutura que dita as regras do jogo. Tomando de exemplo as mulheres russas que a 100 anos se levantaram contra o capitalismo na ambição de construir uma sociedade em que sejamos humanamente diferentes, socialmente iguais e livres! Continue lendo →

Fanny, estudante de história militante do MAIS.

 

#8 As mulheres e as Cidades

Os estudos urbanísticos e a própria vida na cidade nos mostram que a cidade brasileira é segregadora, violenta e ambientalmente insustentável e esse modelo tem um forte impacto na vida das mulheres.

É preciso que os urbanistas e os demais responsáveis das políticas públicas, superem a ideia que todos são iguais nas cidades; que existe um “homem-tipo”; “necessidades-tipo”; “espaços-tipo”. Pois o resultado é uma “cidade-tipo” que invisibiliza as diferenças e a alteridade; uma cidade masculina; espaços que inibem as mulheres e as “jogam” para o espaço privado.

Stella Maris Veiga é professora, dirigente do PSOL e assessora parlamentar.

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#9 educação e a luta contra a violência de gênero, o preconceito e a discriminação

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar.

Precisamos insistir que é necessário, sim, abordar temas como feminismo, sexualidade, diversidade étnico racial nas escolas e universidades, pois em grande medida é nesses espaços que os preconceitos e discriminações são refletidos e ganham força. E como espaços formais de ensino, têm a tarefa de contextualizar historicamente as lutas que os engendram, buscando problematizá-las socialmente. Para isso faz-se necessário intensificar o enfrentamento àqueles que disseminam falácias e em cima destas buscam institucionalizar uma “escola sem partido”. Nesse contexto, os mandatos e espaços institucionais são ferramentas que somam em nossa batalha. Continue lendo →

Miriam Mattos, professora da área de biblioteconomia, doutoranda em educação e presidente do Psol SC.

 

#10 Sobre o acolhimento de mulheres

A cada minuto uma mulher morre vítima de violência ou estupro.  Diariamente, várias dessas vítimas – quando sobrevivem – entram nas emergências dos hospitais. Além da violência física, são obrigadas a enfrentar a abordagem despreparada e muitas vezes desrespeitosa dos profissionais de saúde e dos policiais que eventualmente as interpelam. Apesar de existir orientações para o acolhimento e a abordagem das vítimas de violência – preconizadas pela política de humanização do SUS e nas pautas em defesa das mulheres – as mesmas ainda sofrem discriminação e julgamentos quando chegam nos serviços de saúde. O caso se agrava quando se trata de mulheres negras, índias, pobres, periféricas, LBGT+ e pior ainda se usarem substâncias psicoativas ou álcool.

Patrícia Barreto, Assistente Social, Diretora do Sindisaúde, e membra do fórum catarinense em defesa do SUS. Continue lendo

 

#12 Uma conclusão necessária: fuja dos padrões

Eu sempre fui uma criança inteligente. Por mais que eu soubesse que essa preocupação toda era errada e que não existe uma explicação concreta do porquê as pessoas são tão ruins e fazem comentários ofensivos o tempo todo, eu entrava no jogo. Eu fazia exatamente o que eles queriam: tentava me encaixar no padrão. E esse jogo cansa e você nunca vence. O mundo das dietas e a corrida até o ponto de chegada do padrão de beleza é doentio. Você vai se matando por dentro, brigando com você mesmo, desenvolvendo doenças, às vezes físicas, às vezes psicológicas e, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. Continue lendo →

Nicolle Pogere, estudante de letras na UFSC.

 

#13 Que trincheira é essa?

Porque poema e luta são amantes eternos, mesmo que se percam de vista às vezes, pra endurecer a luta de um e o poema do outro.

Eu estava caminhando e tropecei na classe trabalhadora. Sabia que eu fazia parte daquilo ali. Mas disseram que não era bem assim.  Continue lendo →

Daniele Rehling, militante feminista, educadora popular e poetisa.

 

#14 Ser mulher e mãe: um ato político

Quem considera a maternidade como apenas uma condição romântica e desejada por toda e qualquer mulher, sequer consegue conceber a dimensão de nossa luta. Ser mulher e mãe num país cujos direitos retrocedem a passos largos é estar, fundamentalmente, na resistência. Resistindo para que possamos ter vidas mais dignas. Resistindo para que tenhamos voz. Resistindo e lutando para que mais mulheres mães. Maternidade não é coisa de mãe. É coisa de todos.Porque maternidade é um ato político.  Enquanto mães não forem incluídas – com suas crianças – em todos os espaços, inclusive os de militância, estaremos apenas reproduzindo a violência estrutural que nos vitimiza duplamente. Como mulheres. E também como mães. Continue lendo →

Ligia Moreiras, Mãe, cientista, feminista, bióloga, doutora em ciências, doutora em saúde coletiva, militante do Setorial de Mulheres do PSOL/SC, criadora do site Cientista Que Virou Mãe.

 

#15 A objetificação de nossos corpos – Do disfarce ao escracho

Alguns o fazem de maneira escrachada e odiosa, outras de forma silenciosa que nos subestima. Mas o grande ponto é que não queremos uma troca de lugares para garantir a segurança dos nossos corpos. Não há ideia de substituição ou disputa por papéis. Só reivindicamos um lugar que é nosso por direito, com a devida proteção que nos cabe como cidadãs que somos.

Na contramão da lógica patriarcal, a gente vai se encorajar. Sem que precisemos de uma validação que se sustenta nos clássicos “e se fosse com a sua filha, mãe, esposa?” Não. Nenhuma extensão de grau de parentesco com macho será maior que a nossa união, que a nossa luta. Querem nos confundir trazendo discurso liberal vestido de ideia libertadora. Pois não conseguirão. A gente combate a masculinidade tóxica que tanto nos objetifica com conscientização, com informação, com afeto.  Continue lendo →

Melissa, orientadora educacional.

 

#16 A cidade de todos?

Nós não temos direito à cidade aos moldes idealizados pela constituição pois a cidade tem suas barreiras invisíveis agravadas pela seletividade de investimento. Essas barreiras podem ser territoriais, como em relação a favela – o famoso “daqui para cima eu não subo! ”. Podem ser em relação à distância, pelo preço do ônibus ou pela falta de linha para o local.

Podem ser veladas, através de olhares e reprimendas sociais que um grupo, devido do racismo e machismo, sofre quando ocupa espaços elitizados. Logo, exige-se que o Estado tome providências urgentes e necessárias para que os objetivos de todos nós, que viemos para cá e abandonamos o campo ou outras cidades, sejam cumpridos e possamos todos usufruir do nosso direito à cidade efetivamente. Continue lendo →

Angelina Morales, urbanista, estudante de direito e feminista interseccional

 

#17 Dai a César o que é de César”- ou à educação o que é da educação

Nas escolas, tanto públicas, quanto privadas, há professores de direita, de esquerda, de centro e “vários nadas” também. Mas há pessoas comprometidas com crianças e adolescentes em formação. E é obrigação de cada um de nós, professores, dar o apoio pedagógico quanto à educação sexual, num país em que a transmissão do vírus HIV aumenta entre os jovens, ou que aponta índices alarmantes sobre a transmissão de sífilis. É obrigação do educador e da educadora apoiar ações contra a gravidez na adolescência, em um país em que há cerca 546,5 mil adolescentes grávidas por ano.

É sobre isso que se fala quando abordamos educação sexual: fala-se sobre respeito ao próprio corpo e sobre a saúde. Além disso, deixar claro o que é estupro, o que é consentimento, evita estupros e ajuda a detectar pedofilia em casa – o lugar onde há o maior índice dessa prática. Continue lendo →

Camila Brambilla, militante feminista, professora e educadora literária.

Todos os textos foram postados durante a campanha Jornada dos 21 Dias Pelo Fim da Violência Contra Mulher do @SetorialMulheresPSOL entre novembro e dezembro de 2018 e tiveram a autorização para réplica autorizados pela página.  

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