O dia amanheceu em chamas e terminou com cerca de 20 mil nas ruas da capital de Santa Catarina nesta sexta, 28 de abril, dia da greve geral chamada pelas centrais sindicais. Mais de vinte cidades marcaram a adesão catarinense ao movimento nacional de resistência popular às reformas trabalhista, aprovada na Câmara esta semana, e previdenciária, prevista para entrar na pauta da casa legislativa no próximo dia 2. Escolas, bancos, lojas comerciais, postos de saúde, transporte e outras unidades de serviço público não funcionaram.

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A rotina da mobilidade foi a primeira a ser impactada. Em sete cidades, não houve ônibus circulando e o trânsito foi interrompido em mais de vinte pontos em Santa Catarina até o final do dia, segundo levantamento da Central Única dos Trabalhadores/as (CUT/SC). Manifestantes atearam fogo em pneus para impedir a passagem dos veículos durante pouco mais de uma hora. Na região metropolitana, entre as 5h30 e 7h, houve interdição da BR 101, no acesso a Florianópolis, na Via Expressa Sul, que liga o centro ao sul da ilha, na SC 401, em frente ao Centro Administrativo do Governo, e no bairro Itacorubi, próximo à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Mesmo sem o funcionamento do transporte público, vinte mil pessoas, segundo as estimativas das centrais, chegaram ao centro da cidade para a concentração, organizadas em caronas, de bicicleta, táxi ou Uber. Por volta das 15h, manifestantes saíram em passeata da Praça de Lutas, como é chamado o ponto onde ocorreu a vigília de trabalhadores/as do transporte desde a noite de quinta-feira (27). Após uma parada em frente ao Terminal Central, a caminhada seguiu pela Avenida Beiramar Norte e ao longo de toda a Avenida Mauro Ramos, interrompendo, assim, o trânsito de duas das principais vias do centro da capital.

“Quem luta educa”, Ingrid Assis Leitemberg, professora da rede pública estadual e representante da CSP-Conlutas, puxou o grito do carro de som que guiava a multidão, saudando as/os trabalhadoras/es do magistério em greve, categoria formada essencialmente por mulheres. Massivamente atingidas pelas reformas, trabalhadoras e mulheres representantes de diferentes movimentos registraram o seu descontentamento com as medidas do governo. “As mulheres estão na vanguarda de todas as mobilizações e processos de luta, nas greves das escolas e fábricas. Elas tem que se organizar mesmo, pois são as mais afetadas pela reforma da previdência”, reforçou a representante do movimento Mulheres em Luta, Gabriela Santeti.

Manter a mobilização é o desafio 
O dia de greve geral começou a ser construído há mais de um mês. Todos os dias, sindicalistas e representantes de movimentos sociais realizaram algum tipo de atividade para conscientizar a população sobre os efeitos das reformas. Considerando estas mobilizações e o impacto das medidas sobre a vida da maioria dos/as trabalhadores/as, a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Florianópolis, Ana Claudia da Silva, previa que o ato unificado do dia 28 de abril teria ampla adesão. “Promovemos um profundo trabalho de base, panfletagens e conversa nas ruas. As pessoas nos perguntavam onde seria o ato. Por isso, resolvemos puxar essa iniciativa no dia da greve. Houve adesão de muitos estudantes, aposentados e pessoas independentes, sem filiação sindical. Há um descontentamento geral pois está muito claro que todo mundo será atingido por estas reformas”, observou.

A mobilização, entretanto, extrapola o número de participantes do ato público que unificou as categorias, trabalhadores/as e estudantes em greve, na opinião da dirigente. Segundo ela, a participação popular em uma greve geral, que tem estratégias de adesão bastante distintas, está justamente na ausência das pessoas nos locais de trabalho, o que ficou claro pelo número de estabelecimentos fechados e serviços suspensos. “Diferente de outras manifestações, tivemos a paralisação das atividades de produção e de oferecimento de serviços, que é uma das principais atividades de Florianópolis”, avalia a dirgente.

Agora, os movimentos apostam na construção de um novo cenário político a partir da ampla adesão popular demonstrada pela Greve Geral. Para a jornalista e dirigente sindical Marcela Cornelli, o 28 de abril mostra que há brecha para a construção de outras greves capazes de pressionar pela retirada das reformas. “A greve mostrou a força e capacidade de organização e luta dos trabalhadores e não deve parar por aqui. Deve ser o início de uma retomada da luta e enterrar de vez o sindicalismo burocrático. É preciso unificar e lutar para construir e dar o poder a quem lhe é de direito, o povo. Ouvir esta indignação que vem das ruas, saber que o trabalhador está exausto de ser explorado e canalizar esta revolta para as lutas efetivas”, acredita. “O caldeirão está fervendo e é nossa responsabilidade chamar uma greve geral de fato, com dia para começar e sem dia para acabar, até que as reformas sejam derrubadas”, afirma a dirigente Ana Claudia da Silva.

A greve em SC*

Rodovias fechadas
São José – BR 101; Florianópolis – SC 401, Via expressa Sul;  Tubarão – Ponte de acesso da cidade; Criciúma – BR 101; Sombrio – BR 101; Araranguá – BR 101; São Cristóvão do Sul – trevo na BR 116;  Quilombo – SC 157;  Chapecó – Marechal Bormann (divisa RS); Arvoredo; São Carlos; Maravilha; Dionísio Cerqueira;  Abelardo Luz; Xaxim; Saltinho;  Joinville – Trevo industrial; Faxinal dos Guedes; Sombrio – BR 101; Araquari – BR280; Concórdia – SC 153; e Joinville – SC 280Parada do transporte público:
Florianópolis – greve 24hs
Criciúma – greve
Blumenau – greve
Lages – trancamento da garagem
Joinville – trancamento do terminal
Chapecó – trancamento da garagem e no terminal
Brusque – trancamento da garagemAtos públicos:
Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau, Tubarão, Criciúma, Caçador, Lages, Chapecó, Florianópolis, Palhoça, Águas de Chapecó, Cunhatai, Xaxim, Saudades, Xanxerê, Concórdia, Campo Erê, Ponte Serrada, Tijucas, Porto Belo, Itajaí

*Dados da CUT/SC
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