Estamos em outubro de 2022, mas é como se estivéssemos nos anos 1980, durante as manifestações das Diretas Já, tamanha a mobilização – desta vez nas redes virtuais – para romper o autoritarismo e dar um passo para a estabilidade democrática mínima, que nos garanta alguma segurança institucional, ainda que limitada às possibilidades do sistema capitalista. 

Poderíamos traçar várias críticas ao ex-presidente Lula – diferentes, no entanto, daquelas que fundamentam o antipetismo – mas decidimos por um editorial afirmativo da trajetória deste candidato – estadista e líder sindical – porque em essência é a antítese do que hoje governa o país.

Nós do Catarinas, votamos em Lula não porque nosso voto é útil, mas porque é o voto necessário neste momento histórico. 

Vindo da região mais empobrecida do país, sem ter acesso à educação formal completa, Lula se constitui politicamente na classe trabalhadora, conhecendo como ninguém os dramas sociais deste Brasil tão rico quanto concentrador de riquezas. Luiz Inácio Lula da Silva, 76 anos, viveu a fome, conviveu com a violência doméstica contra a sua mãe, ainda jovem começou a trabalhar na metalurgia, entrou para o movimento dos trabalhadores e o construiu até chegar ao maior partido do Brasil, o PT.

Lula também compreende o fardo do estigma direcionado à militância da esquerda política e por pouco não saiu vitorioso já nas eleições de 1989, não fosse a edição manipulada do debate dos presidenciáveis para favorecer o oponente Collor de Mello. Presidente da república de 2003 a 2007, foi condenado à prisão em 2018 e 2019 para ser impedido de exercer novamente o cargo. Sua prisão política também é representativa das faces mais coloniais deste país que promove o encarceramento em massa da população negra e mais empobrecida.

Votamos em Lula prioritariamente porque ele foi o único presidente a superar a fome que, hoje, se alastra no Brasil como pandemia por um governo que desconhece qualquer possibilidade de pacto social. Fome que recai com maior peso às mulheres, que formam a maior parte da população brasileira, a quem é atribuído o sustento e cuidado dos filhos. Votamos em Lula porque, entre outras políticas públicas, ele foi responsável por uma transformação na educação ao fomentar a entrada da população negra e empobrecida na universidade pública.

Da obra “Pedagogia da Esperança”, de Paulo Freire, Lula nos lembra que é preciso unir os divergentes para melhor enfrentar os antagônicos. O ex-presidente do Brasil, essa liderança incontestável, que saiu do cargo com popularidade recorde, tem a arte da palavra e exercita como ninguém o diálogo. Diálogo que atualmente se encontra fissurado pelo governo que desconhece as necessidades reais do seu povo e, também por isso, ataca as políticas públicas, o exercício do jornalismoconcentrando seu ódio às jornalistas mulheres –, persegue as organizações de controle social, os poderes da república, invalida a democracia

É justamente no rompimento do diálogo que a onda totalitária internacional – que encontra no Brasil seu representante ímpar – se produz, estraçalhando o tecido social das famílias, dos espaços comunitários, de forma a dissolver o poder que construímos na coletividade, fraternidade e no afeto. Por isso também queremos eleger Lula no primeiro turno, para embargar violências, poupar vidas, resgatar o quanto antes nosso bem-estar possível, nossa vitalidade e, principalmente, nossa esperança e capacidade de sonhar com dias melhores. 

Não há como fazer jornalismo em um país liderado por alguém que ataca e incentiva o desprezo a jornalistas de forma cotidiana – e o Catarinas sentiu isso na pele ao ser alvo de uma perseguição por meio de uma CPI aberta por uma aliada de Bolsonaro. Seguindo nosso preceito de fazer jornalismo em defesa da justiça social e respeito aos Direitos Humanos, continuaremos nosso trabalho de vigiar os poderes após a vitória de Lula, cobrando para que os direitos das meninas, mulheres e grupos socialmente excluídos sejam respeitados e difundidos. Estaremos atentas ainda para cobrar que seu governo tenha representatividade não somente de gênero, mas também social, étnico-racial, de orientação sexual, para que seja articulado em consonância à diversidade da sociedade brasileira. 

Queremos eleger Lula no primeiro turno para deixar para trás esse governo alegórico do que possa existir de mais atrasado numa sociedade, do fanatismo machista, racista, LGBTfóbico, que tem horror ao pobre, que lucra com a miséria, com a destituição das humanidades. Governo que, longe de desempenhar o patriotismo, materializou seu desprezo à nação e soberania brasileira no desmantelamento das políticas públicas de fomento à ciência e pesquisa, de acesso à educação e à saúde, de proteção do meio ambiente, de garantia dos direitos das mulheres, da população negra, indígena e LGBTQIA+. 

Se é no antipetismo que o governo do ódio surfou, é em Lula que terá a vacina para não mais voltar. Votamos com esperança, com amor e com desejo imenso de ver o Brasil sair desse fosso obscurantista. Nosso voto em Lula é necessário para que o país possa voltar a aflorar com a riqueza mais imponente da sua diversidade, das suas matas, dos seus mares, dos seus rios, das suas lagoas, dos seus mangues, das suas gentes.

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