Feminização da fome: insegurança alimentar entre mulheres dispara
Por Kelly Ribeiro
A quantidade de mulheres brasileiras que sofrem com a insegurança alimentar disparou na pandemia de Covid-19. O dado é de uma pesquisa lançada pela Fundação Getúlio Vargas, divulgada em maio.
Quando o assunto é fome, a discrepância entre os gêneros no país é seis vezes maior do que a média global. O estudo, assinado pelo pesquisador Marcelo Neri, chama o quadro de “feminização da fome”.
A pesquisa sugere que o fenômeno decorre do impacto maior que a pandemia de Covid-19 teve nas mulheres no mercado de trabalho.
O estudo se baseiaem informações doGallup World Poll, instituição que desde 2006 compila dados referentes ao desenvolvimento humanono Brasil e outros cercade 160 países.
A insegurança alimentar engloba situações extremas, como a fome, e casos em que a pessoa não tem acesso regular a alimentos em quantidade suficiente para si e sua família.
De 2019 a 2021, a insegurança alimentar entre as mulheres brasileiras subiu 14 pontos percentuais,de 33% para 47%.
No mesmo período, esse dado teve queda de 1 ponto percentual entre homens, de 27% para 26%. Entre 2014 e 2019, esse crescimento acontecia no mesmo ritmo entre homens e mulheres no Brasil.
No Rio de Janeiro esse cenário é reforçado por um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, divulgado pela ONG Ação da Cidadania.
As mulheres chefes de família são as mais afetadas no estado. De acordo com o levantamento, 38,6% da população feminina está em total situação de fome.
Ainda segundo o estudo, a fome também tem cor. Pessoas pretas e pardas são as que mais sofrem com o problema nas formas graves e moderadas. 37,6% vivem com restrições ou passam fome.
Em junho, diversas entidades lançaram uma nova ediçãoda “Agenda Betinho”, com92 propostas para combatera fome no Brasil.
Entre as propostas, estão políticas públicas que promovam o acesso a alimentos essenciais; retomada do programa Bolsa Família em seu desenho original e a revogação do teto de gastos.
Ao todo, 33,1 milhões de pessoas passam fome todos os dias no país, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em junho. É preciso agir!