No último 21 de março lembramos o Dia Mundial da Infância, data criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para promover uma reflexão a respeito das condições de vida das crianças no mundo. Mas devemos aproveitar a data para refletir sobre a importância desse período de vida e alertar o quanto temos pouco a comemorar.

É importante que se diga que apenas 26% das crianças de 2 a 9 anos no Brasil fazem três refeições por dia. Desde 2015, despencou de 76% para 26% o número de crianças que têm café da manhã, almoço e jantar todos os dias, segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde. O número começou a diminuir em 2016, quando o percentual caiu de 76% para 42%. Na sequência, o Brasil registrou 46% em 2017, 62% em 2018, 28% em 2019 e 21% em 2020, até chegar a 26% no ano de 2021.

O mesmo levantamento também identificou que 85% das crianças consomem alimentos ultraprocessados, percentual superior aos 77% que comem frutas e aos 66% que têm verduras no cardápio.

Os dados corroboram com o diagnóstico de que o problema da fome está pior no governo de Jair Bolsonaro e vem se agravando não somente com a pandemia, mas a partir do desmonte de políticas públicas promovidas pelo Golpe de 2016.

No fim de 2020, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) havia apontado a quantidade de 20 milhões de brasileiros com falta de acesso à alimentação por 24 horas ou mais. Mesma pesquisa que demonstra que 116,8 milhões de pessoas conviveram com algum grau de insegurança alimentar no ano passado.

Segundo a pesquisa, a fome também tem gênero e raça: em 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres, os habitantes estavam passando fome, contra 7,7% quando a pessoa de referência era homem. Das residências habitadas por pessoas pretas e pardas, a fome está presente em 10,7%. Entre pessoas de cor/raça branca, esse percentual é de 7,5%. o que representava 55% dos lares do País.

Em fevereiro de 2021, o valor do conjunto dos alimentos básicos aumentou em todas as capitais onde Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. As altas mais expressivas ocorreram em Porto Alegre (3,40%), Campo Grande (2,78%), Goiânia (2,59%) e Curitiba (2,57%). São Paulo foi a capital onde a cesta apresentou o maior custo (R$ 715,65), seguida por Florianópolis (R$ 707,56), Rio de Janeiro (R$ 697,37), Porto Alegre (R$ 695,91) e Vitória (R$ 682,54). 

A comparação do valor da cesta em 12 meses, ou seja, entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2021, mostrou que todas as capitais tiveram alta de preços, com variações que oscilaram entre 10,00%, em Porto Alegre, e 23,00%, em Campo Grande. Em fevereiro de 2022, o salário-mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.012,18, ou 4,96 vezes o mínimo de R$ 1.212,00.

Diante da calamidade instalada pela soma de um Governo do desmonte e do retrocesso, somado ao impacto do coronavírus no Brasil, uma pergunta fica latente: como um país que chegou a ser exemplo mundial no combate à fome e proteção à infância, pode voltar a ser um país de morte infantil por desnutrição? 

O cenário é triste e gera impactos a longo prazo na vida dessas crianças. Pior que isso, não está nesse governo a construção de um estado que volte a ser protetivo. Esse modelo de Governo precisa acabar.

É preciso garantir a possibilidade de sonhar com o futuro e viver o presente com dignidade. É preciso estudar, é preciso ser cuidada, é preciso brincar, é preciso aprender, é preciso sorrir. Mas nenhuma delas se consegue com se precisa urgentemente comer.

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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