Por Cirene Cândido.

O coletivo de mulheres denominado 8M, intensificou a luta e trabalho para realizar grandes e importantes atos para registrar o 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, com o tema: 8Marielle, vivas, livres e resistentes, Greve Internacional de Mulheres. Após inúmeras reuniões, decidimos que construiríamos vários eventos pela cidade de Florianópolis, sempre levando a pauta da mulher, com palestra nas escolas, cines debates, rodas de conversas, entre outras ações. Aceitei o desafio de fazer uma palestra em uma escola pública, cujo tema foi racismo mata.

Encontrei um grupo de aproximadamente 100 alunos adolescentes, com idade a partir de 15 anos, para ouvir e falar sobre o tema. No decorrer da palestra, percebo que alguns alunos, pareciam ‘incomodados’ com o assunto, tanto que manifestaram o desejo de se retirar do auditório. Solicitei aos professores que os deixassem à vontade inclusive para sair da sala, pois ainda estamos em um país democrático e livre, tendo a garantia do Direito de ir e vir.

Diante disso, os alunos inquietos decidiram por eles mesmos, permanecerem no auditório e participar do evento. O decorrer da palestra e das intervenções dos alunos se desenvolveu em uma conversa franca e direta, sendo inequívoca a afirmação que o racismo mata, provocando desde a baixa autoestima, a depressão, até ao extremo do suicídio e milhares de assassinatos. O racismo, embora a intensa luta de mulheres e homens, está dentro das estruturas da sociedade brasileira como algo “naturalizado” nas relações do tecido social do país, como sequelas da herança escravagista secular.

Sendo a sociedade formada por sujeitos sociais que interagem entre si, é necessário compreender com profundidade a essência cultural que se expressa no comportamento de cada indivíduo. E desse modo, encontrar formas inteligentes e linguagens adequadas, porém contundentes, aos públicos diversos que contribua na formação de valores sociais estratégicos, baseados na inclusão, na solidariedade e no respeito ao diferente.

O Brasil é um país tão racista que “esquece” de afirmar que em 1.909 teve um presidente negro, Nilo Peçanha, cuja sociedade em suas pinturas/retratos o tornavam cada vez mais branco. Sendo assim, mesmo ocupando o cargo mais alto da República, era chamado de mulato e mestiço do Morro do Coco (lugar onde nasceu), como forma de colocá-lo em seu “devido lugar”. Com a violência crescente em nosso país, e a perdas de direitos, sabemos que a população negra será a mais atingida. Os nossos jovens continuarão a serem executados, afinal os governos ultraliberais retiram políticas públicas que possibilitam ter melhores condições de entrar nas universidades, no mercado de trabalho e os colocam sem condição alguma de viver. Os jogam de novo nas senzalas!

Por sua vez, as mulheres negras, que na sua maioria são chefes de família, terão ainda mais dificuldades, visto que o agravamento das condições de trabalho, emprego e acesso às políticas públicas, ficarão cada vez mais distantes de superarem o fosso das desigualdades que marcam profundamente a economia mais desigual do planeta.

Somos Obrigadas a RESISTIR desde o momento que nascemos, pois o que a sociedade vê primeiro em nós, é o nosso tom de pele, nunca a nossa capacidade. Diante desse quadro, assustador, violento e mortal, seguiremos em marcha, tendo o refúgio em nossos ancestrais, assim também outras personalidades históricas, como Zumbi, Dandara, Antonieta de Barros, Marielle Franco, que nos inspiram a cada momento, por que nossos passos vêm de longe.

O 8M foi um grande marco político com protagonismo das mulheres que não estão pedindo licença para colocarem-se. O novo que se apresenta, é intrínseco, inseparável e mortal.

*Cirene Cândido é formada em Gestão Ambiental, integra o Coletivo de Mulheres Negras Petistas e uma rede nacional de mulheres negras no poder.

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