Por Mari Mendes.

No dia em que completou um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco uma multidão foi às ruas relembrar sua luta e pedir justiça em várias partes do país e do mundo. Em São Paulo, o ato foi organizado pelo diretório paulista do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e por organizações políticas como o núcleo feminista da Marcha das Mulheres Negras, e a Frente Povo Sem Medo, o qual integram militantes do Movimento Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

O ato “Justiça por Marielle – vidas negras e periféricas importam” teve início às 17h na Praça Oswaldo Cruz e contou com atividades como aula pública sobre o legado de Marielle (conduzida por Jupiara Castro e Erica Malunguinho, primeira deputada estadual transexual e negra). Também falaram personalidades políticas e membros da sociedade civil identificadas com o campo progressista como Padre Julio Lancellotti (Marielle Franco era cristã). O  sacerdote em sua fala declarou “a imagem de Deus é também a de uma mulher negra, com HIV e transexual”.

Foto: Mari Mendes

A chuva que caiu não impediu a caminhada que seguiu pela avenida Paulista e que, assim como no 8M, foi conduzida pelo grupo de percussão feminina Ilú Obá de Min, que conduzia com seus tambores e vozes as músicas de caráter político, entre os gritos por justiça, e os bordões “quem mandou matar Marielle?” e “vidas negras importam”.

“Relembrar Marielle é também resistir e continuar uma luta que ela travou em prol das mulheres, das negras, das lésbicas, moradoras de periferia ou não. É importante principalmente num momento tão turbulento como esse que estamos vivendo com problemas, inclusive com esse governo Bolsonaro”, declara uma manifestante que pede para não ser identificada, chamando atenção ao significado da luta de Marielle representar a causa feminista posicionada contra a política desenvolvida pelo governo federal.

Durante o ato grande quantidade de críticas ao governo Bolsonaro eram reiteradas, como a política de violência defendida por ele e seu grupo de apoio, bem como por suas relações suspeitas com a Milícia. Segundo Carolina Coutro, militante do PSOL, “para nós é muito importante hoje lembrar da Marielle porque essa semana foram presos os supostos assassinos mas temos plena convicção de que foi um crime político apesar de ainda não terem sido revelados quem foram os mandantes e qual o real motivo do assassinato”.

Foto: Mari Mendes

A militante observa ainda que “hoje é um dia de lembrar, mas é também um dia de luta para que a gente siga essa mobilização que enfrentou muita coisa nesse [período de] um ano até chegar nessa primeira resposta, e para que possamos seguir mobilizados em busca da principal resposta”.

Carolina, como as demais pessoas presentes no ato, não poupa críticas ao mandatário conservador: “Vivemos um momento muito difícil no país, um momento de intensificação da violência que na nossa opinião é organizada desde o planalto, desde a política de Bolsonaro. Uma política de intensificação da opressão policial, que ataca diretamente as pautas que a Marielle tanto lutou e que nós temos a obrigação de deixar viva. Contra o genocídio da juventude negra, contra o feminicídio das mulheres”.

Foto: Mari Mendes

A violência armada e o receio da escalada no número de mortes por arma de fogo com a flexibilização do porte de armas que o governo de Bolsonaro pretende implementar também foi muito lembrada pelos manifestantes. Segundo a militante psolista “sabemos que a ampliação da posse de armas já decretada pelo governo vai ter como principais vítimas os crimes domésticos contra as mulheres e mesmo [impulsionará] crimes como o que aconteceu em Suzano”, referindo-se à chacina promovida por dois jovens armados que assassinaram 9 pessoas na cidade de Suzano, na região da grande São Paulo um dia antes.

Foto: Mari Mendes

Houve muita comoção durante o ato que terminou por volta de 21:30 em frente ao  prédio que abriga o escritório do governo federal na esquina com a rua Augusta – momento em que os manifestantes ocuparam as duas pistas da avenida e as parlamentares mulheres realizaram a leitura de um manifesto.

“Hoje é dia de seguir na luta que Marielle fazia que é a luta em defesa  dos setores mais oprimidos da nossa sociedade, que têm suas vidas valendo pouco a partir do governo a das forças do Estado”, declara a militante.

 

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

Últimas