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Poucas semanas nos separam do começo de 2019 e, conscientes do que nos espera pela frente, o Portal Catarinas demanda esforços na construção de redes de resistência, reforçando a parceria com suas apoiadoras e apoiadores na consolidação de um veículo de jornalismo independente voltado aos feminismos, questões de gênero e direitos humanos.
Estamos lançando neste mês de dezembro a nossa nova Campanha de Financiamento Coletivo, na plataforma Catarse, para qualificar ainda mais o trabalho jornalístico ao qual nos dedicamos. A colaboração financeira não apenas propicia que nós jornalistas e outras integrantes do Portal possamos dedicar mais tempo ao jornalismo feminista, se opondo ao cenário de precarização da profissão e à onda de notícias falsas que assola a internet.
O financiamento garante também o livre acesso ao portal, que tem entre as suas premissas de atuação produzir e colocar em circulação narrativas relevantes para a vida das mulheres e que são ocultadas por tabus morais e culturais históricos. Por esse motivo, o Catarinas terá sempre o acesso livre, mantendo a proposta de jornalismo no qual acreditamos.
O contexto do Estado em que vivemos nos motiva ainda mais a apostar no jornalismo feminista em Santa Catarina. Único em todo território nacional a carregar um nome baseado na figura de uma mulher, Santa Catarina ocupa posições de liderança em índices de violência contra as mulheres, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018. É o primeiro em violência doméstica e em tentativa de estupro, e o segundo em estupro.
O cenário político nacional e internacional, em que governos tiranos — marcadamente machistas e racistas — ascendem ao poder e colocam em prática uma doutrina econômica que nos violenta ainda mais, também aponta para grandes retrocessos e coloca em risco direitos que duramente conquistamos ao longo de séculos de luta.
À essa onda reacionária que avança sobre nossas existências, no ataque aos estudos e ensino de gênero, e na criminalização dos ativismos, responderemos como a feminista negra e lésbica Audre Lorde, não deixando que o peso do silêncio venha nos afogar.
A proposta do Portal, com mais de 600 matérias publicadas desde 2016, compreende a perspectiva de gênero como um olhar analítico transversal. Acreditamos que todos os assuntos podem ter experimentada essa chave de compreensão do mundo.
A partir do entendimento de que a atribuição de características relacionadas historicamente a homens e mulheres se reflete em experiências diferentes na vida de cada uma de nós, a cobertura jornalística demanda enquadramentos específicos às pautas tratadas. Apostamos, assim, na valorização das vozes que comumente são invisibilizadas na mídia tradicional, e ao enfoque não estereotipado delas, buscando a multiplicidade das fontes.
Compreendemos que o jornalismo produz uma forma de conhecimento e nos propomos a ampliar os saberes que o constitui, na visibilização das narrativas das diversas mulheres – indígenas, negras, brancas, lésbicas, periféricas, camponesas, trans e cisgêneras, seja como fontes das reportagens ou como colunistas.
Ao perceber as desigualdades de gênero existentes na sociedade, nos posicionamos no intuito de superá-las. Um jornalismo que se diz neutro ou imparcial acaba, consciente ou inconscientemente, servindo para a manutenção das relações de poder já existentes e, consequentemente, das violências ocasionadas por elas. Por meio de um jornalismo posicionado buscamos despertar para a não naturalização de relações sociais desiguais perpetuadas pela exploração das/os trabalhadoras/es, machismo, racismo e homofobia.
Somos ativistas NO jornalismo, a partir do olhar político e ético para a necessidade da transformação social, e ativistas DO jornalismo, enquanto profissionais que atuam pelo direito de exercerem sua profissão, fundamental em uma sociedade que se pensa democrática.
Voltamos, assim, para reafirmar e estreitar laços junto às entusiastas, colaboradoras, leitoras e leitores, que acreditam na potência deste trabalho, na atuação pela democratização da mídia, e em um jornalismo plural. Precisamos cada dia mais construir e solidificar nossas redes: redes de cuidado, de informação, de análise, de diálogo, de resistência – redes de pessoas comprometidas com as necessárias mudanças sociais.
Por um jornalismo sem medo, engajado e de transformação: somos resistência.