Pegas de surpresa com a notícia do suicídio da ativista Sabrina Bittencourt, que ajudou ativamente nas denúncias dos abusos sexuais cometidos por líderes religiosos, como João de Deus, e em diversos outros casos de violência e abusos contra as mulheres, o sentimento que fica em nós é de que estamos à deriva, desprotegidas, jogadas à nossa própria sorte em um mundo que não apoia quem luta por justiça. Pelo contrário, vivemos sob a mira de uma caçada institucionalizada aos ativismos políticos – àquelas/es que atuam para desnaturalizar as violências perpetuadas por uma sociedade desigual.

O caso somado a outras situações de perseguição, como as ameaças que levaram ao exílio do deputado federal Jean Wyllys e da ativista pelos direitos das mulheres Débora Diniz, a execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além de tantos outros que nos são noticiados, nos desestabiliza e suscita questionamentos profundos: Quem nos protegerá? Quem protegerá os que amamos? Seremos julgadas quando decidirmos parar? Seremos culpadas pela nossa própria morte?

É triste perceber que pessoas que dedicam suas vidas ao combate da desigualdade de gênero, raça, classe, abdicando até mesmo da própria segurança, sejam tão duramente julgadas como se fosse um erro grave pensar além da satisfação individual e das nossas próprias dores.

Quem se dedica ao ativismo sabe que a luta precisa ser coletiva, de nada vale me tornar uma mulher livre e autônoma se as outras ao meu lado padecem com as amarras e violência de gênero.

Parece incompreensível para muitos a dedicação de Sabrina e de tantas outras, imparáveis, como ela mesma afirmou, como se pudesse supor a existência de uma vida plena em uma sociedade violenta e desigual.

Há quem não suporta, e felizmente essas são muitas, tomar como dada uma estrutura hierárquica que tanto nos vitima e, por isso, atua incansavelmente para mudá-la. Mas também enquanto ativistas somos humanas, temos relacionamentos, família, amigos e por eles ou por nós mesmas podemos decidir parar, principalmente quando nossa vida está em risco.

Continuar ou parar, caminhar ou recuar, é nosso direito escolher como queremos seguir. E sem julgamentos. Se a morte de Sabrina nos lembra que somos frágeis apesar de extremamente fortes na luta, que também possa nos fazer refletir sobre a nossa vida, sobre a necessidade de proteção, de autocuidado e dos nossos limites enquanto sujeitas e guias do nosso próprio caminho. Obrigada Sabrina pelo tanto que fez por nós.

 

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