Por Camila Rufato Duarte*

Não à toa Rodolffo é eleitor do atual presidente da república, ambos compartilham de uma visão machista, LGBTfóbica e racista, algumas externadas de forma escancarada, outras mais sutis como uma ‘’piadinha’’.

Pois bem, para quem não acompanha o BBB: Rodolffo é um dos participantes do reality, entrou entre os VIPs, cantor sertanejo nascido em Goiás e que se denomina um homem da roça, simples, mas já há bastante tempo usufrui do sucesso regional, viajou para vários cantos do mundo, tem lentes nos dentes, faz harmonização facial, tratamentos no cabelo, usa roupas caras e modernas, ou seja, de ‘’chucro’’ só o discurso, alegado quando convém.

Rodolffo naturaliza problemas sociais graves, trata questões sensíveis como piada, mimimi e quando é confrontado diz que está ‘’se desconstruindo’’ e culpa as pessoas que não tem paciência para ensiná-lo.

Todo esse discurso feito por um perfil roceiro, com o sotaque bem puxado do interior e expressões regionais, faz com que muitas pessoas comprem como algo ‘’sem maldade’’ e faça o que a nossa sociedade sabe fazer de melhor: inverter os papéis! O oprimido que reivindica respeito é colocado no lugar de opressor porque não teve paciência para explicar para alguém que claramente não tem a intenção de aprender.

Machismo e homofobia

Quando foi líder, ao indicar Carla ao paredão, Rodolffo justificou seu voto afirmando, de forma incisiva, que Carla foi desleal com Arthur. Fato é que Rodolffo traiu a pessoa com quem foi casado (ele mesmo já reconheceu em suas redes sociais) e, mesmo assim, se achou com moral para falar de lealdade, ao vivo em rede nacional, com uma mulher que estava em um relacionamento de duas semanas com um cara que em nenhum momento a priorizou. Sabe o que é isso, né? O machismo da sua forma mais pura! O típico dois pesos e duas medidas. Autocrítica? Nunca viu.

Rodolffo destilou mais um pouquinho do seu machismo ao fazer piada sobre o vestido de Fiuk (que é um passivo-agressivo que paga de descontruído, mas é puro suco de machismo – mas isso é pauta para outro texto).

Pois bem, para uma das festas do BBB, o look dado a Fiuk pela produção foi um vestido. Quando viu, o sertanejo perguntou: ‘’Como que leva esse menino de vestido para as boates lá em Goiânia, ô Sarah?’’ claramente insinuando que um homem vestido assim não seria ‘’bem visto’’ em sua terra.

Em um segundo momento notou-se, sem grande surpresa, que o machismo de Rodolffo veio com seu fiel escudeiro: a LGBTfobia.

Foto: Reprodução TV Globo.

Após o beijo MA-RA-VI-LHO-SO protagonizado por Gil e Lucas, o goiano defendeu que o gesto foi “um apelo, um exagero”. Depois, duvidou da sexualidade de Lucas: ‘’Eu acho que o Lucas não era (bissexual). Ele peitou uma parada para causar, para dar uma cartada, pra tentar um coringão louco. Ele é desorganizado da cabeça, o resumo é esse.’’

E continuou, dizendo para ambos: “Vocês que fiquem de tititi aqui [no quarto] para vocês verem, viu?’’

Além disso, desde o início do programa Rodolffo evita estar no mesmo ambiente que Gil, fato que já foi notado pelo pernambucano: “Rodolffo, toda vez que eu estou em um lugar, ele sai. (…). Sempre. Só não entendo o porquê até hoje (…) “Não sei o que fiz com ele, queria saber, mas está de boa”. disse Gil a Arcrebiano que confirmou a impressão do brother.

A LGBTfobia de Rodolffo é escancarada. O sertanejo chegou a dizer que tem nojo do jeito de Gil: ‘’Ele acha bonito esse negócio de cachorrada. Eu detesto confusão e gritaria, não gosto desse negócio de cachorrada, de gritaria. Tenho nojo disso. É horroroso o que ele faz, tenho pavor.’’

Esse incomodo com Gil tem nome e não decorre exclusivamente da personalidade efusiva do economista.

Para coroar sua LGBTfobia estava faltando o célebre ‘’mimimi’’. E falou, claro! Após voltar do paredão, ao qual foi indicado por Gil sob a justificativa de ter feito comentários violentos de cunho homofóbico e machista, Rodolffo afirmou: “Se eu tivesse feito uma cagada grande, não tem como, eu saía. Ainda mais no mundo de hoje com esse tanto de mimimi pra cima e pra baixo’’.

Rodolffo ama a criatura gay, desde que esta não seja afeminada, ‘’escandalosa’’, não aponte a homofobia dele e tenha sempre paciência para explicar e ensinar mesmo que esses ensinamentos sejam em vão.

Aaaaa, e seu rival declarado dentro da casa? João! Não por acaso um homem gay e negro. Para completar o combo preconceituoso básico do homem de bem da família tradicional brasileira tinha que ter o racismo. E esse foi o episódio mais recente.

Racismo

O cantor, que teve que se vestir de homem das cavernas para cumprir o castigo do monstro, ao colocar a peruca a comparou com o cabelo de João.

O professor chegou a chorar com a amiga Camilla de Lucas ao contar o ocorrido:

“Eu estava ajudando os meninos a colocar a roupa do Monstro e aí, na hora de colocar a peruca, o Rodolffo falou assim: ‘Nossa, o meu cabelo está igualzinho ao do João’’. “Fiquei muito desconfortável e não consegui dizer que não achei legal (…) Foi chato, muito chato. Fiquei pensando: Não sou o homem das cavernas só porque meu cabelo é desse jeito. Para mim dói mais que um murro na cara, é muito doido. Na hora que aconteceu, eu fui para um lugar na minha cabeça que eu não imaginei que eu precisaria acessar, entendeu? E ao mesmo tempo, é aquele papo que eu tive lá no quarto assim com você, eu não quero tá nesse lugar de ficar toda hora corrigindo, sabe?”

Esse ato de Rodolffo é o que chamamos de racismo recreativo, passa despercebido por olhares menos atentos, mas agride da mesma forma. E os relatos de quem sofreu esse racismo disfarçado de piada, são muito semelhantes ao do João: ficam paralisados e, muitas vezes, só conseguem processar a violência sofrida depois.

Como impecavelmente disse a cantora Ludmilla no show do último sábado no reality, tudo isso é sobre RESPEITO: “Respeita o nosso funk, respeita a nossa cor, respeita o nosso cabelo.”

Entendam:  o exposto até aqui é maior que um jogo, não é uma leitura maldosa das falas de Rodolffo e muito menos exagero. O BBB é uma representação muito fiel da ‘’vida real’’ e infelizmente existem muitos Rodolffos por aí (homens e mulheres) que banalizam assuntos que não doem neles, mas que violentam e matam todos os dias: O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo, o 5º que mais mata mulheres e mesmo com uma população de 56% de pretos/pardos, só 4,7% dos cargos executivos das maiores empresas do país são preenchidos por negros, enquanto eles representam 62% dos presos e 75% dos mortos pela polícia.

Que façamos na urna o que tudo indica que será feito no paredão de amanhã. A diversidade fica, o preconceito é eliminado. #ForaRodolffo #ForaBolsonaro #Elenão

*Camila Rufato Duarte é advogada e cofundadora do IG @direito.dela.

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