Grande dia! A nossa redação está em polvorosa com a sincronicidade: no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Eleitoral condenou Bolsonaro à inelegibilidade, a nossa diretora executiva, Paula Guimarães, está na Colômbia para a cerimônia do Prêmio Gabo. 

Sim, nós somos finalistas do maior prêmio do jornalismo ibero-americano com uma reportagem ousada: o caso da menina de Santa Catarina que, aos 11 anos, ficou grávida após um estupro e teve seu direito de abortar negado pelas agentes de justiça que deveriam atuar para protegê-la, a juíza Joana Ribeiro Zimmer e a promotora Mirela Alberton. Este é o caso de maior fôlego que o nosso jornalismo já cobriu, porque os desdobramentos foram muitos e isso tem tudo a ver com o bolsonarismo.

Primeiro, conseguimos garantir o direito da menina. Logo após a publicação da reportagem, em parceria com o The Intercept Brasil, o Ministério Público Federal recomendou que o procedimento fosse realizado, à revelia do conservadorismo antidireitos, que foi altamente reativo. Na época, Bolsonaro tuitou sobre investigar o nosso jornalismo e desde então somos alvo de uma caçada antidemocrática.

Embora a liberdade de imprensa e o sigilo da fonte sejam direitos garantidos a nós, jornalistas, pela Constituição Brasileira, a deputada bolsonarista Ana Campagnolo (PL) conseguiu emplacar uma CPI do Aborto na Assembleia Legislativa de Santa Catarina para investigar a menina e sua família, os profissionais que atuaram para garantir um direito previsto pela legislação brasileira desde 1940 (o aborto), e o nosso jornalismo. 

A investigação terminou apontando dedos para nós, e as investidas antidireitos seguiram a todo vapor. Dias atrás, noticiamos que as advogadas Daniela Felix e Ariela Melo Rodrigues, que atuaram em favor da menina, foram indiciadas pela polícia de Santa Catarina, suspeitas dos crimes de violação de sigilo e violação de sigilo de depoimento especial de crianças, totalmente sem provas. O Ministério Público irá decidir sobre a denúncia ou o arquivamento do inquérito. 

Foram muitos os retrocessos implantados pelo bolsonarismo no país e sofremos as consequências. Mas hoje, pelo voto decisivo de uma mulher, a ministra Cármen Lúcia, começamos a vislumbrar um destino de responsabilização pelos crimes cometidos ao longo do mandato de Bolsonaro, que está oficialmente inelegível pelos próximos oito anos.

Se o último ano foi de medo e incertezas para nós, jornalistas independentes engajadas na luta pelos direitos humanos, hoje temos bons motivos para comemorar. A Organização das Nações Unidas se manifestou, recentemente, pedindo providências ao Estado brasileiro em relação à intimidação do nosso jornalismo; o Conselho Nacional de Justiça abriu um processo administrativo disciplinar contra a juíza; nosso trabalho foi reconhecido pelo Prêmio Gabo; e agora Bolsonaro está mais perto do que nunca de seu lugar de pertencimento: o lixo da história.

A cerimônia de premiação do Gabo começa às 22h no Brasil e pode ser acompanhada on-line. Clique aqui para assistir.

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

  • Jess Carvalho

    Jess Carvalho é jornalista e pesquisadora da bissexualidade. Atua como editora, repórter e colunista no Portal Catarinas...

Últimas