Além dos Molotovs: manual reúne símbolos antifascistas de 50 movimentos no mundo
“Beyond Molotovs – Um Manual Visual de Estratégias Antiautoritárias” reúne histórias de mais de 50 movimentos ao redor do mundo.
Quais meios criativos se mostraram eficazes na luta contra a direita autoritária nas suas várias expressões no mundo, na América Latina e no Brasil? E, mais especificamente, como podemos reivindicar futuros antifascistas? Essas perguntas estarão no centro do lançamento do livro, exposição e projeto “Beyond Molotovs – Um Manual Visual de Estratégias Antiautoritárias“. O evento ocorre nesta terça-feira (10), às 19h, no Auditório do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Reunindo representantes de movimentos sociais e acadêmicos, o encontro vai discutir as lutas antiautoritárias no Brasil e em Florianópolis, trazendo à tona iniciativas locais e globais de resistência.
A publicação “Beyond Molotovs” traz uma coletânea de mais de 50 relatos de movimentos antiautoritários, ativistas, artistas e acadêmicos de diferentes partes do mundo. Com um olhar atento para a dimensão emocional das estratégias de resistência, a obra destaca ações simbólicas e criativas, como o uso dos lenços verdes na luta pelo aborto legal na América Latina, as músicas que embalam a resistência palestina e o rap como voz de denúncia na Guiné. Essas e outras iniciativas revelam como arte e ativismo se entrelaçam na luta contra o autoritarismo global.
“A ideia do manual é de atingir o maior público possível para que essas estratégias possam ser aplicadas ou adaptadas em outros contextos também e que possam servir como base para que essas lutas possam se fortalecer mutuamente”, conta Paula Gil Larruscahim, ativista e pesquisadora do Grupo Internacional de Pesquisa sobre Autoritarismo e Contraestratégias – Fundação Rosa Luxemburgo (IRGAC).
Além dos Molotovs
O Brasil está presente no livro no capítulo “Rua Marielle Franco Transcendendo Fronteiras”, escrito por Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, Luna Costa, gerente de comunicação no ministério, Marcelle Decothé, assessora na pasta, e Rafael Rezende, pesquisador sobre a memória de Marielle. O capítulo conta a história da campanha de guerrilha que envolveu placas de rua, mosaicos humanos e ativismo online e que transformou Marielle em um símbolo de resistência para além das fronteiras do Brasil.
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“As lutas antiautoritárias devem oferecer formas mais democráticas, diversas e justas de convivência e existência, para revitalizar as energias, reavivar as utopias e, assim, criar esperança, não como uma ideia vaga, mas como uma realidade já vivida. Essa luta não será inventada por um partido de vanguarda ou por um revolucionário. Elas são plurais e já existem, são criativas, colaborativas e enraizadas localmente”, afirma a pesquisadora.
As convidadas e convidados do evento irão debater quais práticas são capazes de defender os direitos e as instituições democráticas contra os esforços neofascistas, como continuar a trabalhar em rede e tornar a ajuda mútua nas lutas antiautoritárias mais forte.
Participam da discussão Paula Guimarães, diretora-executiva do Portal Catarinas, Paula Larruscahim, Julieta Mira, integrante da IRGAC e autora de um capítulo do livro, e Paul Schweizer, do Coletivo Orangotango, grupo que participou da organização do livro junto a IRGAC.
A data do lançamento no Brasil foi escolhida porque setembro é mês de luta pela descriminalização e legalização do aborto na América Latina e no Caribe. O evento terá como foco também os direitos reprodutivos. “Uma pauta e um movimento fundamental para seguirmos na luta contra o autoritarismo e o fascismo é a do aborto livre e seguro”, define a organizadora.
O livro está disponível gratuitamente no site da editora, atualmente apenas em inglês. Traduções para português e espanhol estão em andamento, mas ainda não há uma data prevista para sua disponibilização.
Antiautoritarismo
O termo autoritarismo é usado para descrever desenvolvimentos violentos e antidemocráticos ao redor do mundo. “Por um lado, isso se refere ao Estado e seus aparatos. Por outro, também descreve as ‘ideologias de desigualdade’ que muitas vezes estão por trás dos ataques à democracia, como, por exemplo, racismo, sexismo e nacionalismo”, coloca Paula Gil Larruscahim.
Para a pesquisadora, o autoritarismo está forte na atualidade porque apela para os medos e inseguranças das pessoas, provocados pelas múltiplas crises que enfrentamos. As respostas colocadas pelo autoritarismo para os problemas são sentimentos como a raiva, o ódio e a aversão a quem é diferente.
“O autoritarismo funciona principalmente em um nível emocional. Se fatos e evidências não podem vencer o autoritarismo, como pode ser a resistência antiautoritária?”, questiona a entrevistada.
Para a organizadora, é necessária uma ampla aliança de lutas antiautoritárias, na qual haverá lutas, questões e preocupações específicas, mas, ao mesmo tempo, os integrantes compreendem as conexões e apoio mútuo entre os movimentos.
“Para conectar esses movimentos, precisamos de símbolos e narrativas diversos, mas também amplamente válidos. Talvez eu esteja usando o lenço verde e meu companheiro um boné do MST, enquanto participamos de uma manifestação antifascista em Roma, ou ajudarei as companheiras feministas a colocar um cartaz da Rua Marielle Franco em uma praça de Berlim, antes de ir para a assembleia do movimento pela justiça climática em qual milito”, exemplifica.