Mais um 14 de março foi marcado pela saudade e pela luta por justiça pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Cinco anos após o maior crime político da história recente do país, as investigações pouco avançaram e ainda não se sabe quem é a pessoa mandante e as motivações. Para reafirmar a resistência que a data impõe e cobrar respostas, a Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro, recebeu o Festival Justiça por Marielle e Anderson, transmitido ao vivo pelo Youtube, e foi ocupada por milhares de pessoas uníssonas em exigir a solução do caso.

Organizado pelo Instituto Marielle Franco, o evento contou com shows de Luedji Luna, Azula, Marcelo D2, Criolo e Djonga, além de apresentações de projetos como a Orquestra Maré do Amanhã e o coral Nenhum a Menos, criados em uma das áreas mais vulnerabilizadas da cidade, o Complexo da Maré, onde morou a vereadora. O dia também foi marcado por outras ações como missa, oficina de bordado, inauguração de escultura no Museu de Arte do Rio e o lançamento do Boletim Segurança Pública na Maré.

A cantora Luedji Luna se apresentando no palco do festival. Foto: Kelly Ribeiro

Antes do fim das apresentações, familiares de Marielle e Anderson subiram ao palco para falar com o público e reforçar os pedidos de justiça. Emocionados, eles se mostraram esperançosos, especialmente diante da mudança de cenário no governo federal. “A cada dia 14 do mês é uma dor, mas também é um dia de esperança. De renovação, de construção, de estarmos nas ruas. Não só no dia 14, mas todos os dias de nossas vidas enquanto não soubermos quem mandou matar Marielle e Anderson e por quê”, afirmou Marinete da Silva, mãe de Marielle.

Antônio Francisco, pai da parlamentar, foi categórico e disse que diferentemente dos anos anteriores, agora a perspectiva é de que a família terá respostas. “Nós conseguimos eleger o presidente Lula e tirar aquele ex-presidente do país. Ele interferia na investigação, interferia na Polícia Federal, ao contrário do presidente atual e do Ministro da Justiça atual (Flávio Dino) que assumiu um compromisso com a família e com o povo do Brasil de se empenhar para a elucidação deste crime covarde, bárbaro”.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também destacou em sua fala as expectativas com a atuação do Governo Lula e destacou que uma das reuniões ministeriais do dia 14 foi aberta com o presidente pedindo um minuto de silêncio por Marielle e Anderson e se colocando à disposição para colaborar na elucidação do caso. “A gente esperou cinco anos para ter um presidente que falasse isso pra gente. Estar aqui hoje fazendo parte dessa construção com vocês é a certeza de que, de onde minha irmã estiver, ela está orgulhosa”, afirmou.

Anielle Franco lembrou a criação do Instituto que leva o nome da irmã, o legado político deixado por ela e as muitas sementes plantadas pela organização que se tornou referência de ativismo no país inteiro, especialmente no enfrentamento à violência política contra mulheres negras. Ela também comentou sobre sua chegada à pasta ministerial e ressaltou que se trata de uma construção coletiva.

“Quero dizer para vocês hoje que estar à frente do Ministério da Igualdade Racial é um trabalho coletivo. É o sangue de Marielle, a memória de Marielle, o legado de Marielle sim, mas também é toda a nossa construção. Construção de mulher preta favelada, construção de mulher que acredita muito que a gente só vai conseguir ter uma democracia renovada nesse país quando a gente descobrir quem mandou matar Marielle Franco. Vamos seguir lutando”.

Imagem de cima do Festival Justiça por Marielle e Anderson
Imagem aérea do Festival Justiça por Marielle e Anderson. Foto: Reprodução Instituto Marielle Franco

A emoção também tomou conta da plateia durante esse momento. Entre gritos de “Marielle e Anderson Presente”, era possível notar choros silenciosos de quem, de alguma forma, também se sente atingido pelo crime. Solidariedade, dororidade e esperança se misturaram a sorrisos e abraços nos encontros marcados para assistir às apresentações. Um dia difícil, mas também uma celebração à memória daqueles a quem o Estado ainda deve justiça. Marielle, presente! Anderson, presente!

Dia Marielle Franco

Para fortalecer o combate à violência política, de gênero e raça, tramita na Assembleia Legislativa do Rio um projeto de lei estadual que institui o dia 14 de março como o “Dia Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política contra Mulheres Negras, LGBTQIA+ e periféricas”. O PL é de autoria da deputada Dani Monteiro (PSOL).

Se a proposta protocolada em 2021 for aprovada, o estado do Rio pode antecipar o projeto assinado pelo presidente Lula, anunciado no dia 8 de março, que estende a todo o país o Dia Nacional Marielle Franco. A medida foi encaminhada ao Congresso.

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  • Kelly Ribeiro

    Jornalista e assistente de roteiro, com experiência em cobertura de temas relacionados a cultura, gênero e raça. Pós-gra...

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