Sob o lema “Mulheres em luta, semeando resistência”, cerca de 3.500 camponesas de todos os estados brasileiros estão reunidas em Brasília (DF) no 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra até 9 de março. Entre as participantes também estão integrantes movimentos e organizações parceiras do MST, e 30 internacionalistas integrantes de movimentos e organizações de 14 diferentes países da América Latina, América do Norte, Europa e África.

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O evento, que iniciou em 5 de março e segue até 9, ocorre no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, um dos maiores parques urbanos do mundo e o maior da América Latina. Na programação mesas e debates sobre capitalismo, patriarcado, racismo e violência. Além de oficinas, atividades artísticas e culturais e uma grande marcha que unirá campo e cidade pelas ruas do Distrito Federal, no dia 8 de março.

“Vamos mostrar para a sociedade que aqui vamos comer alimentos saudáveis, sem veneno e produzido por nós, mulheres”, afirmou Sandra Aparecida Ferrer, que mora há 6 anos no assentamento Eli Vive, em Londrina (PR).

Esta é a primeira vez em 36 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que um encontro é protagonizado exclusivamente por mulheres camponesas. A atividade integra a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres, marcada por mobilizações em todo o Brasil.

Presença da ex-presidenta

Neste sábado (7), às 19h, um grande ato político marca o encontro com as presenças confirmadas de Dilma Rousseff, Gleise Hoffmann, Nalu Farias, Débora Duprat, e de representações da Via Campesina, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia), União Nacional dos Estudantes (UNE), CUT (Central Única dos Trabalhadores), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Frente Brasil Popular (FBP), PT (Partido dos Trabalhadores), Psol (Partido Socialismo e Liberdade), PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e PSB (Partido Socialista Brasileiro).

Segundo Kelli Mafort, da direção nacional do MST, esse é um momento de análises e projeções das mulheres do MST.

“Nós temos, desde a Amazônia até o Sul do país, as nossas experiências de resistência e, com certeza, nesses dias nós teremos um importante diagnóstico e, mais do que isso, uma projeção sobre como que as mulheres participam e vão participar ainda mais da luta”, afirma.

Foto: Coletivo de comunicação MST
Ser uma mulher Sem Terra

O encontro reflete um processo de organização e mobilização iniciado em 2017. Atiliana Brunetto, Direção Nacional do Setor de Gênero, enfatizou o esforço das militantes do Movimento na construção do evento. Entre as expressões dessa mobilização estão as mais de 200 cartas escritas por mulheres Sem Terra de todo o país, em momentos de preparação nos acampamentos e assentamentos.

A dirigente leu para a plateia a carta de Messilene Gorete, assentada do estado de Pernambuco: “[…] Ser uma mulher Sem Terra é ser mulher liberta, emancipada, valente, bonita, alegre. É ser uma mulher que chora, que sente dor própria e da outra e do outro, mulher com pertença, enaltecida, solidária. O MST me fez mulher, me fez um ser harmônico, que tem orgulho de viver. E tudo isso e um pouco mais é o que a cada dia me fortalece para seguir firme e convicta de que estamos do lado certo da história”.

Para Ceres Antunes Hadich, assentada no Paraná e integrante da direção nacional, o Encontro é fruto de esforços coletivos, que persistem desde a origem do Movimento: “Sem dúvida nenhuma, a gente conseguiu chegar até aqui graças à construção histórica que o MST como um todo, que o conjunto da organização, sempre fez em torno desse debate da participação das mulheres, da igualdade de gênero, da gente possibilitar construir processos de igualdade. Então, isso também é resultado e mérito de toda a construção de luta social igualitária pelo que o MST constrói e acredita”.

Foto: Janine Moraes
#EleNão

A abertura do encontro contou com a presença das parlamentares Natália Bonavides, deputada federal do Rio Grande do Norte, Erika Kokai, deputada federal pelo Distrito Federal, ambas do PT. Natália Bonavides enfatizou o caráter do governo atual e o papel das mulheres no enfrentamento do conservadorismo. “Nós estamos num momento difícil do nosso país, em que está no poder uma família de milícias […]. Mas as mulheres organizadas que vão derrotar esse governo de canalhas”.

O pronunciamento de Erika Kokai provocou o coro “Fora Bolsonaro” da plateia. “Quem é Bolsonaro para bater continência para Trump? A gente carrega aqui a bandeira do Brasil e por amor a essa pátria a gente segue em fileira e dá as mãos. Nesse país onde cresceu o feminicídio, com um discurso misógino e machista do presidente, que vive nos ameaçando. Saibam eles que aqui estamos as mulheres do MST. A gente não dialoga com o medo, não se curva, não se esconde na covardia”.

“Cheguei pra ficar, cheguei pra valer, o quilombo vem lutar resistir e combater”, cantou a artista Gê Lacerda, do Mato Grosso, que encerrou a primeira noite do encontro. A cultura terá presença forte ao longo dos próximos quatro dias. A programação do encontro contará com a apresentação de mais de 100 artistas, 80 deles mulheres militantes do MST vindas dos assentamentos e acampamentos do Movimento.

Foto: Matheus Alves
Agroecologia e feminismo andam juntos no Encontro Nacional

Um dos temas centrais do I Encontro Nacional será o debate em torno do Feminismo Camponês Popular, o qual tem como linha central a defesa da agroecologia como modelo produtivo. Fruto de um esforço do MST, da Via Campesina e de outras organizações do campo, o Encontro será fundamental para o avanço das reflexões teóricas e práticas acerca do assunto.

“O Feminismo camponês popular não está pronto, mas precisa ser construído na teoria, na prática e no cotidiano das nossas relações”, aponta Tuíra Tulie. A militante também aponta o vínculo deste debate com a agroecologia. “Agroecologia não é só produzir sem veneno, nem mesmo só de produzir, mas de olhar a terra, de se relacionar com o meio ambiente e se relacionar entre si”, explica a Sem Terra.

Priscila Monnerat analisa também como a produção realizada pelas mulheres contribui para a luta. “Há uma resistência silenciosa e cotidiana, que é a produção de alimentos realizada pelas mulheres Sem Terra em seus territórios, que sustenta a luta e o Movimento”, afirma. Monnerat ainda destaca o papel que a produção agroecológica tem na construção da autonomia delas. “As mulheres que trabalham com agroecologia, além de terem um aumento da sua renda, conquistam mais autonomia”, finaliza.

*Esse material foi construído a partir das informações publicadas no site do MST.

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