Red Pill, Incel e Sigma: conheça subculturas da machosfera
Entenda as características das subculturas da machosfera: Red Pill, MGTOW, Sigma, Pick Up Artists e Incel.
O termo “machosfera” é usado para descrever uma rede de sites, canais, grupos e comunidades digitais voltados para o público masculino, onde são discutidos temas relacionados a comportamento e masculinidade. Embora nem todos os participantes destas comunidades sejam misóginos, é comum haver conteúdos machistas e contrários aos avanços feministas, conforme mapeou a pesquisa “Aprenda a evitar ‘este tipo’ de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube”.
O estudo identificou, ao menos, 137 canais brasileiros no YouTube com conteúdo misógino, que juntos acumulam 3,9 bilhões de visualizações. Entre esses canais, 80% utilizam estratégias de monetização, como anúncios, Super Chat, doações e vendas de produtos.
A pesquisa faz parte do Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, parceria do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Ministério das Mulheres.
A misoginia na internet é um tema de interesse das feministas há décadas. Em 2011, a professora e pesquisadora Lola Aronovish cunhou o termo “mascu” para se referir aos supremacistas masculinos que participam de fóruns e organizam redes de misoginia na internet, incentivando práticas violentas como o estupro e feminicídio.
A pesquisa do NetLab identificou que discursos masculinistas são predominantes na machosfera. Embora haja diversas semelhanças entre os participantes desse ecossistema, o estudo constatou a presença de subculturas distintas no YouTube brasileiro. Conheça cada uma delas:
Red Pill
As premissas reunidas sob a etiqueta de conteúdo Red Pill defendem que os homens são vítimas da misandria, de ódio, desprezo, injustiças e doutrinação por parte das mulheres, principalmente das feministas. Por isso, sustentam que é preciso barrar as transformações sociais que promovem a igualdade de gênero.
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Os canais incentivam os seguidores a adotarem atitudes de “machos alfa”, a se desenvolverem pessoalmente para se tornarem “homens destacados” ou “de alto valor”. Também classificam as mulheres entre as “de alto valor”, aquelas que atendem aos padrões de beleza e as expectativas em relação à maternidade e às tarefas domésticas, e as “de baixo valor”, aquelas que não atendem essas expectativas e padrões, como feministas, mulheres sexualmente ativas, mães solo, independentes “demais” ou que priorizam suas carreiras.
Men Going Their Own Way (MGTOW)
“Homens seguindo seu próprio caminho”, em português, acreditam que o feminismo tornou o mundo um lugar dominado pelas mulheres e prejudicial para os homens. Por isso, defendem que deve-se ser priorizado o desenvolvimento pessoal nas áreas financeira, física e intelectual.
Há o incentivo para evitar qualquer tipo de relacionamento com mulheres, seja romântico, sexual ou social. Em casos extremos, alguns influenciadores mapeados relatam evitar até mesmo relações com amigas, mães e irmãs.
A pesquisa identificou que o grupo MGTOW também demonstra um profundo ceticismo em relação às instituições, que, segundo eles, privilegiam as mulheres em detrimento dos homens. São comuns ataques às leis de proteção às mulheres ou a qualquer iniciativa em prol da igualdade de gênero.
Sigma
Possui características em comum com os MGTOW, mas consideram-se homens raros, altamente racionais, imponentes, inteligentes, incompreendidos, misteriosos e discretos. Apresentam-se como “lobos solitários” ou “espíritos livres”.
O sucesso financeiro é tratado como objetivo e como evidência das vantagens de ser um homem “sigma”, associado em vídeos a símbolos materiais como carros de luxo e roupas caras, que denotam poder e representam conquistas individuais obtidas somente com o distanciamento das mulheres.
Pick Up Artists (PUAs)
Em tradução livre para o português, “artistas da sedução”, são indivíduos que se dizem especializados em técnicas de sedução e estratégias de conquista, com foco na performance sexual dos homens. Promovem o desejo a partir da objetificação e, por vezes, da desumanização das mulheres.
Nos vídeos analisados, PUAs incentivam os homens a ignorar ou desdenhar das mulheres, “destruir o ego delas” ou minar sua autoestima. Essas ferramentas frequentemente envolvem manipulação psicológica, o uso de conhecimentos pseudocientíficos sobre linguagem corporal, roteiros pré-determinados de conversa e o reforço sistemático de estereótipos sobre homens e mulheres. São comuns vídeos que prometem “hackear a mente feminina” com base em teorias pseudocientíficas.
Celibatário Involuntário (Incel)
Partem da ideia de que são vítimas de um tipo de discriminação baseada na atratividade física e se veem condenados à solidão, o que alimenta sentimentos de frustração e raiva. É comum a presença de um tom depressivo e pessimista e ressentimento em relação às mulheres, o que provoca discursos misóginos.
Algumas pesquisas já associaram essa identificação com jovens que cometeram massacres em escolas ou assassinos em série.