‘Coach do Campari’, red pills e o discurso de ódio contra mulheres

Por Kelly Ribeiro

A Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito para investigar a ameaça de morte feita pelo coach de relacionamentos Thiago Schutz contra a atriz e humorista Livia La Gatto.

La Gatto printou a mensagem recebida e trouxe o caso a público.

O coach viralizou nas últimas semanas por comentários feito em um podcast. No vídeo, ele diz que recusou uma cerveja oferecida por uma mulher com quem saia porque já estava bebendo Campari.

A ameaça foi motivada por um vídeo feito pela atriz no qual ela faz uma sátira e imita homens com discursos de ódio contra as mulheres. Na gravação, ela não se refere diretamente ao coach.

A influenciadora e cantora Bruna Volpi contou no Sem Filtro, programa da Universa (UOL), que também foi ameaçada pelo coach, após fazer um vídeo sobre ele.

Schutz é dono da página “Manual Red Pill”, com mais de 300 mil seguidores, em que compartilha vídeos falando sobre o “ideal feminino” e como os homens devem tratar as mulheres.

O termo "red pill" faz referência à pílula vermelha do filme Matrix, em que os personagens escolhem entre enfrentar a verdade do mundo ou permanecer na realidade comum tomando a pílula azul.

O conceito das “pílulas vermelhas" foi ressignificado por apoiadores da direita e da extrema direita e hoje faz parte do  vocabulário masculinista de todo o mundo.

Em 2021, Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores na gestão de Bolsonaro, definiu-se como "redpillado" num evento conservador em Santa Catarina. 

Nesse vocabulário, os "red pills" são homens que se opõem ao "sistema que favorece as mulheres", por acharem que elas não são fiéis e nem possuem bom caráter.

Ironicamente, as diretoras de "Matrix", as irmãs Wachowski, que são mulheres trans, já confrontaram figuras públicas como Ivanka Trump, Elon Musk e até Abraham Weintraub pelo uso do termo.

Em entrevista à CBN, a ativista feminista Lola Aronovich explicou que os adeptos do movimento Red Pill partem do princípio de que mulheres são inferiores, mas que isso não se restringe a elas.

'Não fica só no ódio contra as mulheres. É uma coisa bem de extrema direita e o ódio também vai para outras minorias, como, por exemplo, aos negros, aos homossexuais e às pessoas trans'

Ainda esta semana, Aronovich relatou que teria recebido ameaças de morte e teve dados pessoais expostos. Ela estuda o funcionamento de grupos masculinistas e recebe esse tipo de ameaça frequentemente.

A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) dá nome a uma lei contra a misoginia na internet. Desde 2018, a Lei Lola atribui à Polícia Federal a investigação de crimes cibernéticos do tipo.

Enquanto isso, há um pedido no Senado para que a misoginia seja criminalizada. A ideia legislativa foi proposta por Valeska Zanello e precisa de 20 mil assinaturas para ser debatida pelos senadores.

Por conta da repercussão do caso, o Grupo Campari emitiu uma nota se posicionando contra a misoginia e as ameaças feitas pelo influenciador.

O Red Pill é um entre tantos outros movimentos que disseminam ódio na internet contra determinados grupos, principalmente mulheres. O avanço deles representa perigo real à vida de quem eles oprimem.

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