Assédio sexual, gravidez infantil e direito das pessoas LGBT estão entre as pautas das oficinas de jornalismo para adolescentes e jovens de 14 a 20 anos, realizadas no Centro Cultural Anastácia (CCA), em Florianópolis. O projeto “Comunicação, Saúde e Gênero – educação sexual para adolescentes de bairros periféricos de Florianópolis (SC)”, também chamado de Narrar para Transgredir, é promovido pelo Portal Catarinas com o apoio da Prefeitura Municipal de Florianópolis. A iniciativa adota uma abordagem educomunicativa e feminista, incentivando o protagonismo juvenil e o combate à desinformação.

Os participantes tiveram a oportunidade de criar notícias para a web sobre temas relacionados a gênero e educação sexual, de maneira crítica e aberta, sem tabus. Ao final, as produções jornalísticas dos participantes serão publicadas em uma página dedicada ao projeto. 

A teoria e metologia utilizada nas oficinas mescla duas abordagens: a pedagogia feminista de bell hooks e a emancipadora de Paulo Freire. “São perspectivas que nos apoiam para pensarmos estratégias de valorização das experiências e conhecimentos dos adolescentes e jovens. Nosso intuito é criar um espaço seguro que permita que se concretize um processo de diálogo e cooperação que entendemos como fundamentais para despertar o sentimento de empoderamento e autonomia, bem como a criticidade cidadã esperadas”, explicou Inara Fonseca, coordenadora pedagógica das oficinas. 

As oficinas são ministradas pela jornalista Paula Guimarães e a assistente social e professora universitária Nicole Ballesteros Albornoz. Por meio dessa atuação, o Catarinas busca ainda contribuir com o combate à desinformação na adolescência e no início da juventude e, assim, cooperar com a diminuição da vulnerabilidade e exposição à violência sexual, gravidez precoce, infecções sexualmente transmissíveis, entre outras questões relacionadas à educação sexual. 

“As oficinas são fruto de um projeto apoiado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, via emenda parlamentar. A sexualidade, ao longo da história, esteve envolta em tabus e, mais recentemente, tem sido alvo frequente de desinformação. O jornalismo entra, então, como um instrumento emancipador, capaz de confrontar esses estigmas nocivos ao exercício pleno dos direitos cidadãos”, afirma Paula Guimarães, gerente de projeto, que também ministra as oficinas.

Baralho feminista é destaque

Entre os recursos criados exclusivamente para a oficina está um baralho com cartas temáticas ligadas à educação sexual, gênero e saúde, idealizado pela ministrante Nicole Ballesteros Albornoz. Composto por mais de 30 palavras e expressões comuns entre os jovens, o baralho traz questões que, segundo Nicole, nem sempre são tratadas com a devida responsabilidade. “Sabemos que falar hoje de sexualidade nas escolas tem sido verdadeiramente difícil e conflituoso, para os/as educadores/as”, afirma a ministrante.

Nicole destacou ainda que a metodologia de ensino baseada na educação popular abre um leque de possibilidades de comunicação. “Os jogos educativos, além de serem ferramentas lúdicas, criam um ambiente descontraído, seguro e de confiança, permitindo uma discussão aberta sobre diversos temas a partir das experiências e relatos dos próprios jovens. Da dinâmica surgiram relatos de abuso sexual por familiares, prática de aborto, consentimento, ejaculação, transgeneridade, entre outros temas”, afirma. 

Inserção no mercado de trabalho

Além disso, o projeto tem o objetivo de apoiar a inserção dos adolescentes e jovens no mercado de trabalho, através do desenvolvimento de habilidades na área da comunicação. Por isso, as oficinas ocorrem dentro dos programas de formação para ingresso no mercado de trabalho. Ao todo, aproximadamente 60 adolescentes e jovens, das turmas Rito de Passagem e Jovem Aprendiz, participam das oficinas. 

Durante doze encontros, sendo seis para cada turma, iniciados no mês de agosto, os jovens estão aprendendo sobre apuração, checagem dos dados e escrita jornalística, além de conversarem sobre educação sexual. Ao final, os participantes vão produzir conteúdos jornalísticos que serão publicados em uma página criada especialmente para o projeto, dentro do Portal Catarinas.

Centro Cultural Anastácia

Desde 2005, o CCA passou a ser entidade formadora, autorizada pelo Ministério do Trabalho, para inserção de adolescentes e jovens no mercado de trabalho através dos programas ligados ao Jovem Aprendiz. Em 2023, 120 adolescentes e jovens conseguiram adentrar o mercado de trabalho a partir dos programas ofertados pelo Centro.

Tamiris Moreira Espíndola, assistente social e coordenadora de Projetos Sociais da instituição, afirma que os programas desenvolvidos são uma oportunidade de transformação para adolescentes e jovens de comunidades vulneráveis da Grande Florianópolis.

“O CCA tem como missão não apenas prepará-los para o mercado de trabalho, mas para a vida. Mais do que ensinar competências técnicas, o centro busca promover o protagonismo jovem, desenvolvendo o pensamento crítico e a autonomia necessária para sua inserção social e cultural”, destaca.

O programa Jovem Aprendiz oferece qualificação teórica e prática para jovens de 14 a 24 anos de comunidades socialmente vulneráveis. Os jovens participam de cursos profissionalizantes, assinam contratos formais de trabalho e recebem acompanhamento socioassistencial.

O programa Rito de Passagem atende jovens de famílias de baixa renda, entre 14 e 22 anos, prioritariamente autodeclarados negros, buscando quebrar um ciclo de preconceito, exclusão social e laboral, ao trazer oportunidades de conhecimento, informação e vivências.

O CCA também é responsável pela gestão da Casa de Acolhimento Darcy Vitória de Brito. O abrigo institucional recebe crianças e jovens encaminhados pelos Conselhos Tutelares do Município, Juizado da Infância e da Juventude, Comarca de Florianópolis ou Ministério Público. 

“Cada ação realizada visa oferecer oportunidades que superem vulnerabilidades e riscos sociais, reforçando a importância do acolhimento e do respeito às suas trajetórias e complexidades. O nosso trabalho é a prova de que, quando oportunidades são oferecidas de forma integrada e cuidadosa, vidas podem ser transformadas. E é por meio dessa transformação que se constrói uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza a assistente social Tamiris Moreira Espíndola.

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