Quase 80 % das pessoas brasileiras já sentiram constrangimento em escolas ou lugares públicos por menstruarem. Esse é o resultado de uma pesquisa promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por meio da plataforma U-Report, em parceria com a Viração Educomunicação. Mas por que isso ocorre?

Uma das questões é a falta de informação e conversas sobre o tema. Quase metade das pessoas que responderam à pesquisa, nunca tiveram aulas, palestras ou rodas de conversa sobre menstruação na escola. 

“Essa falta de informação contribui para o estigma e gera situações de constrangimento. Precisamos desmistificar a menstruação e criar um ambiente acolhedor para pessoas que menstruam”, afirma Gabriela Monteiro, Oficial de Participação de Adolescentes do Unicef no Brasil.

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Imagem: Gabriela Monteiro, Oficial de Participação de Adolescentes do Unicef no Brasil | Crédito: reprodução.

Pesquisas sobre menstruação feitas por homens contribuem para o tabu

Maria Carmen Aires Gomes, doutora em Análise do Discurso que estuda discursos sobre a pobreza menstrual, destaca um problema importante: por muito tempo, a produção de conhecimento sobre a menstruação foi predominantemente conduzida por pesquisadores homens cis.

Uma pesquisa da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, expôs como a maioria dos absorventes, coletores e calcinhas menstruais, não possuíam a capacidade de absorção informada porque eram testados com uma solução salina.

“Muitas meninas têm vergonha do ciclo porque o absorvente não segura o fluxo, mas a culpa não é do fluxo e, sim, do absorvente que não foi testado com sangue”, aponta Gomes.

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Imagem: Maria Carmen Aires Gomes, doutora em Análise do Discurso que estuda discursos sobre a pobreza menstrual | Crédito: reprodução.

Acesso à saúde menstrual é direito humano

Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à saúde menstrual como uma questão de saúde pública e de direitos humanos, mas o cenário brasileiro ainda está longe do ideal.

Entre as participantes da pesquisa da Unicef, 19% não têm dinheiro para comprar absorventes e 37% têm dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas ou locais públicos.

O estudo também mostra que 6 entre cada 10 participantes já deixaram de ir à escola ou ao trabalho por causa da menstruação e 86% já deixaram de fazer alguma atividade física por conta do tema. 

O fundo para a infância aponta ainda que as necessidades de saúde e higiene menstrual das brasileiras são negligenciadas devido ao acesso limitado à informação, educação, produtos de higiene, água e saneamento básico.

“Uma vez que crianças e adolescentes não têm seus direitos à água, saneamento e higiene garantidos, também são violados outros direitos, incluindo menstrual, sexual e reprodutiva”, ressalta Gabriela Monteiro, representante do Unicef.

Dicas de leitura sobre o tema

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  • Daniela Valenga

    Jornalista dedicada à cobertura de gênero. Mestranda em Comunicação na UFPR. Atuou como Visitante Voluntária no Institut...

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