“Vir a Santa Catarina sempre tem um sentido especial para nós mulheres, essa é a terra de uma de nossas mulheres de muita luta, essa é a terra de Anita Garibaldi, lá de Laguna, e que foi heroína de dois países mesmo tendo morrido aos 27 anos, e de Antonieta de Barros, a primeira deputada negra do Brasil”. Foi assim, em referência às mulheres catarinenses, que Manuela d’Avila (PCdoB), candidata à vice-presidência na chapa composta com Fernando Haddad (PT), iniciou sua fala no ato realizado no Centro de Florianópolis, na última terça-feira (18). O Portal Catarinas acompanhou a sua agenda na cidade, dando continuidade a série de matérias sobre a participação das mulheres e as candidaturas feministas nas eleições de 2018.

Em um momento em que as pautas relacionadas às temáticas de gênero e sexualidade se tornaram temas em disputa na sociedade e, principalmente, foco dos discursos reacionários, a candidata Manuela D’Ávila traz como marca a luta feminista, assim como a importância de se desconstruir as imagens estereotipadas sobre as mulheres na política, principalmente a ideia de que a maternidade não é adequada para quem ocupa cargos de poder. No Facebook, ela ainda tem denunciado o caráter machista e misógino dos ataques que tem constantemente sofrido na rede, demonstrando que candidatas empreendidas na tentativa de subverter a estrutura masculinista do poder acabam por enfrentar o discurso de ódio de alguns.

Foto: Jeane Adre

A ideia de que o País só se desenvolverá com a participação e a valorização das mulheres é reafirmada por ela em seus discursos: “As nossas ideias não são aprisionáveis, as nossa ideias são o sonho de um Brasil justo, de um Brasil desenvolvido, de um Brasil que apoia as suas mulheres de forma generosa porque sabe que nós somos imprescindíveis para o desenvolvimento dessa nação”, afirmou em Floripa. Manuela tem uma trajetória longa na política, iniciada há 14 anos, quando aos 23 anos se tornou a vereadora mais jovem a ser eleita em Porto Alegre.

Antes de participar do ato em frente à Catedral Metropolitana de Florianópolis, a candidata esteve presente em uma coletiva de imprensa ao lado de Haddad. Ela comentou a recente frase do general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa liderada por Jair Bolsonaro (PSL), de que casa só com “mãe e avó” é fábrica de desajustados para o tráfico. Manuela classificou como infeliz a frase e afirmou que 40% dos lares no Brasil são chefiados por mulheres e que a maior parte delas criam seus filhos sozinhas, com ausências graves dos pais biológicos dos filhos. Da mesma forma que enfrentam a ausência de políticas públicas para que possam criá-los, como os déficits na educação infantil. O abandono é tanto dos pais quanto do Estado.

“Desconhecer ou agredir as mulheres que chefiam 40% dos lares do nosso País é não compreender que na vida real isso faz parte do que é central para o Brasil se desenvolver. Valorizar essas mulheres e permitir que elas possam contribuir plenamente para o nosso País”, considerou a candidata.

Como uma atuação militante desde o movimento estudantil, Manuela é formada em jornalismo e além de vereadora em Porto Alegre, exerceu entre 2007 e 2014 o cargo de deputada federal e, posteriormente, de deputada estadual no Rio Grande do Sul. Antes de compor a chapa com Fernando Haddad, ela lançou sua pré-candidatura à presidência da República pelo PCdoB. Nesta ocasião, concedeu entrevista ao Portal Catarinas e apresentou a sua perspectiva de um projeto de sociedade em que as questões de gênero e raça sejam tratadas de forma mais estrutural. “Eu cansei de ver as mulheres colocadas na pastinha do aborto e da violência doméstica. São dois espaços importantes pra gente, o Brasil precisa avançar, mas as mulheres, as negras e os negros fazem parte da forma como a desigualdade brasileira se estrutura. Pra mim, não existe um projeto de desenvolvimento do País que não seja estruturado a partir das questões de gênero e de raça”, explicou.

Crítica ao golpe que resultou na retirada da presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, e na prisão do ex-presidente Lula em 2018, Manuela também considerou que as políticas adotadas pelo atual presidente Michel Temer (MDB) causam prejuízos mais agudos às mulheres e a resistência impulsionada por elas nas ruas precisa refletir em mais candidaturas. “Se quem resistiu ao golpe nas ruas foram as meninas, muito mais jovens do que eu, se quem resiste ao desmonte do Estado, à reforma trabalhista, à Emenda Constitucional 95, esse conjunto de medidas ultraconservadoras, cura gay, proibição de aborto em caso de estupro. Se quem resiste são as mulheres, como que a política não produz um conjunto de candidaturas de mulheres? É estranho”, afirmou na entrevista.

 

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