As frondosas e seculares araucárias são testemunhas e fazem parte das narrativas do Povo  Xokleng que, ao lado do fogo que tudo purifica, lutam bravamente na Retomada  Xokleng Klonglui, no município de São Francisco de Paula, estado do Rio Grande do Sul.

Uma das líderes deste retorno do “Povo do Sol” é Kollung Vei-Tcha Teie, uma mulher digna e forte, que na sua fala determinada, lembra de seus ancestrais e da tentativa de genocídio do povo na região, onde os Xokleng eram caçados pelos colonizadores por meio dos serviços dos chamados bugreiros, e suas orelhas eram cortadas, para o pagamento dos assassinos pelo Estado. Nesse período histórico é criado o termo “bugre”, algo que como indígena aprendi a ser, uma das inúmeras violências do colonialismo em curso no Brasil.

FOTO: Kunhã Mairatã Guarani

Desde 2011 existe uma solicitação de estudo da área para a demarcação junto a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para que as terras ancestrais e espirituais dos Xokleng sejam identificadas. O clã Klongui tem a sua origem na silenciosa floresta da Serra Gaúcha, terra que atualmente é de posse do Estado e que solicitou reintegração de posse contra os verdadeiros donos.

Eles alegam que somente uma família ocupou o espaço, mas nós povos indígenas somos parentes da Terra, que é nossa mãe. A terra é fêmea, a terra é Deus. As famílias Xokleng estão nos barracos de lona, enfrentando as chuvas torrenciais do verão, bebem água contaminada do córrego que passa próximo ao local e se alimentam com doações de apoiadores. No entanto, o inverno chegará…

FOTO: Kunhã Mairatã Guarani

Kollung e Voie Patte são a representação dinâmica de lideranças. Uma mulher guerreira e o jovem líder, forjado no movimento indígena e na ancestralidade do pertencimento. “Não há como desistir da retomada, pois existe um chamado dos espíritos, não é algo que fazemos do dia para a noite, mas com sabedoria e paciência”, falou Voie Patte com o olhar determinado.

A Retomada Xokleng Klouin teve visitas ilustres, das lideranças Kaingang e Guarani-Mbyá para apoiar aos parentes, de onde se originou um documento histórico que marca a luta e união dos Povos Indígenas.

FOTO: Kunhã Mairatã Guarani

As mulheres fazem os artesanatos, juntamente com as crianças e jovens, enquanto narram suas histórias preciosas. Estão sempre atentos ao barulho de carros, um especificamente, que passa filmando e fotografando a retomada. Trata-se da coordenadora do parque, que não aceita a presença dos indígenas. Estava na beira da fogueira, era final de tarde, e saí para fotografar, imaginei a pressão que eles e elas sofrem todo o tempo. As barracas derrubadas e o assédio que ouvi em relatos.

Mas, estamos acostumadas a este tipo de violência, afinal, somos a prova viva de que existe outro modo de vida no planeta, é isso de algum modo fere o sistema de exploração que desrespeita a natureza.

E, será que ainda não irão aprender nada com a Pandemia!? Pois a reintegração de posse, ocorreu na Pandemia, expondo as famílias indígenas ao vírus, foram jogados na beira da estrada, pensei, é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental  (ADPF) que foi julgada procedente…Ou seja, existem muitas violações que aconteceram, e tudo parece ser normal. No entanto, diante de todos os sofrimentos e dores, vi sorrisos de esperança e fé, que assim como as araucárias permanecem firmes e frondosas esperando o Sol. 

A demarcação da terra é dever do Estado

Faz um mês que os indígenas do Povo Xokleng iniciaram o processo de  retomada de sua terra ancestral. Desde o dia 12 de dezembro eles reivindicam a ocupação originária assegurada pela Constituição Federal de 1988, para que o território seja identificado e demarcado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

A área faz parte da Floresta Nacional de São Francisco de Paula (Flona) na Serra Gaúcha, um espaço em disputa por interesses privados. A área é gerida atualmente pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal que faz a gestão de unidades de conservação no País. No entorno há plantação de soja, eucalipto e criação de gado.

No vídeo abaixo a senhora indígena Kullung Vei-tcha Teie fala sobre o processo de retomada Konglui do Povo Xokleng. “Não estamos aqui somente porque queremos, mas atendemos a um chamado dos espíritos”, diz a indígena.

Por séculos os Xokleng foram vítimas de um brutal processo de colonização que quase levou ao completo desaparecimento do povo. Tradicionalmente ocupavam os territórios que estavam localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Devido às inúmeras invasões e violências os Xokleng foram expulsos dos seus territórios fazendo com que hoje estejam mais concentrados no estado de Santa Catarina.

FONTE: Enciclopédia Brusque

“Somos chamados de INVASORES ILEGAIS em NOSSO PRÓPRIO TERRITÓRIO. Somos RESISTÊNCIA e convocamos todos que defendem a vida humana, a dignidade e o respeito para somar na luta”, ressaltam pelas redes sociais.

Apoie a luta indígena! Faça doações! Acompanhe a retomada pelas redes sociais: Instagram @retomada_xokleng e facebook https://www.facebook.com/retomada.xokleng

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